terça-feira, 6 de setembro de 2022

INFANTARIA DOS INHAMUNS NA BATALHA DO JENIPAPO

                                 

 Por Paulo César Silva[1] 

Neste 07 de Setembro de 2022, o Brasil comemora 200 anos de sua independência desde o “Grito do Ipiranga”, marco simbólico da emancipação do Brasil em relação a Portugal. A resistência, liderada por meio do então príncipe regente dom Pedro I não era homogênea entre as províncias brasileiras, Pará, Piauí, Bahia e Maranhão, por exemplo, mantiveram-se fiéis a Corte Portuguesa.

No Ceará, a Independência só foi reconhecida pelo governo local dois meses após sua proclamação, dada a dificuldade de comunicação entre as províncias. Naquele período, o Ceará era comandado por uma “junta provisória” com status de governo provincial.

A ruptura com a metrópole, desencadeou algumas revoltas pelas províncias brasileiras com movimentos contra a independência, principalmente no norte do país. Entre elas, a famigerada Batalha do Jenipapo ou Guerra de Fidié onde, cearenses e maranhenses, se juntaram ao povo do Piauí para lutar contra resistentes tropas portuguesas lideradas pelo Major João José da Cunha Fidié.

Entre a resistência brasileira estavam, o Coronel João de Araújo Chaves e o Capitão/Major José do Vale Pedrosa (filho único do capitão-mor) chefes das tropas dos Inhamuns, oferecidas pelo capitão-mor José Alves Feitosa para serem enviadas ao Piauí em auxílio a Pedro I, sendo aceito, foram com 300 praças de cavalaria, marchando em direção a Campo Maior, chegando em Valença no dia 1º de março de 1823 e dali partiram para a ribeira do Jenipapo aos 13 do mesmo mês para tomar parte naquela sanguinolenta batalha.

Os conflitos se iniciaram após terem sido descobertas as intenções do comandante das tropas portuguesas: manter a região sob o domínio português para abafar os movimentos de independência que se desenvolviam na área. Os brasileiros então decidiram impedir que a sedição dos portugueses fosse realizada e travaram uma luta entre o Império do Brasil e o Reino Unido de Portugal e Algarves. Nesse interim, estavam de um lado, brasileiro simples, lavradores, artesãos, escravos, roceiros, vaqueiros, etc. Enquanto do lado português haviam soldados bem treinados, bem armados e a cavalo, diz Abdias Neves: "E só a loucura patriótica explica a cegueira desses homens que iam partir ao encontro de Fidié quase desarmados.".

Óleo sobre tela, arte pictórica de
 "Artes Paz" retratando o conflito

A batalha do Jenipapo é conhecida como uma das mais cruéis batalhas realizadas no solo brasileiro, muito pelo fato da fragilidade em que se encontravam as forças brasileiras nessa peleja, cerca de 200 foram mortos e outros 542 foram feitos prisioneiros por Portugal, enquanto 116 portugueses morreram e 60 ficaram feridos, entre os quais estavam homens comandados pelo Coronel João de Araújo Chaves. Durante os combates que se intensificaram, houve um encontro entre os homens comandados pelo Capitão/Major José do Vale Pedrosa e uma coluna piauiense, ambas nacionalistas, porém, não se identificando, abriram fogo, uma contra outra, trazendo maiores baixas. 

Tombaram homens de ambos os lados, contudo, Fidié conquistou vitória aparente apesar de perder parte de sua bagagem de guerra, foi se acampar a um quilômetro de Campo Maior, na fazenda Tombador.

No entanto, os filhos dos Inhamuns se mantiveram comprometido com as refregas, desde o inicio até a rendição das tropas de Fidié em 31 de julho de 1823 no improvisado Forte da Taboca, em Caxias, no Maranhão onde piauienses e cearenses o cercaram e fizeram que ele se rendesse, entregando suas onze peças de canhões, sendo coagido a cessar fogo.

Por fim, enaltece o ato de bravura da Infantaria inhamunhense o Brigadeiro Manuel de Sousa Martins, Presidente da Província de São José do Piauí por meio do Capitão/Major José do Vale Pedrosa: << ...veio da Província do Ceará aonde hé morador para esta – comandando Cento e sincoenta prassas em auxílio à Cauza da Independência e Império do Brasil e com melhor conducta Civil e Militar, e firme adesão à mesma Cauza, dezempenhou todas as ordens que lhe foram dirigidas athé que os inimigos encantonados no morro da TABOCA se renderão as tropas Imperiais >> (Dos INÉDITOS do Barão de Studart).

 

Referencias: 

CHANDLER, Billy Jaynes. Os Feitosas e o Sertão dos Inhamuns; a história de uma família e uma comunidade no Nordeste do Brasil - 1700-1930, Tradução de Alexander F. Caskey e Ignácio R. P. Montenegro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.

CESÁRIO, Luciano. Há 200 anos, independência do Brasil acirrou disputa política no Ceará: Governo provincial do Ceará reconheceu oficialmente a emancipação mais de dois meses após a proclamação da independência por Dom Pedro I. Fortaleza, 5 set. 2022. Disponível em: https://mais.opovo.com.br/reportagens-especiais/200-anos-de-independencia/2022/09/10286659-ha-200-anos-independencia-do-brasil-acirrou-disputa-politica-no-ceara.html#.YxJkNRh56-o.whatsapp. Acesso em: 5 set. 2022. 

FREITAS, Antônio Gomes de. Inhamuns (Terra e Homens). Fortaleza. Editora Henriqueta Galeno. 1972.

INTERNET, Eureka. A história da guerra: Conheça detalhes da história desta guerra sangrenta. [S. l.], 5 set. 2022. Disponível em: http://batalhadojenipapo.pi.gov.br/a-historia-da-guerra/. Acesso em: 5 set. 2022.



[1] É graduado em História pela Universidade Santo Amaro (UNISA), Historiador e membro titular da Academia Tauaense de Letras (ATL);

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