sábado, 18 de dezembro de 2021

NERTAN MACEDO: NOTAS BIOBIBLIOGRÁFICAS ACADEMIA TAUAENSE DE LETRAS – ATL

 


NERTAN MACEDO: NOTAS BIOBIBLIOGRÁFICAS

ACADEMIA TAUAENSE DE LETRAS – ATL

SILVA, Paulo César[1]

 

RESUMO

A presente pesquisa analisa a trajetória de vida e as contribuições das obras literárias de Nertan Macedo à história-cultural e à memória nordestina. Verifica-se concisamente seu caminho profissional como jornalista, cronista, teatrólogo, poeta e historiador. Realiza-se um breve levantamento de suas obras, com ênfase em O Clã dos Inhamuns, considerando sua relevância na historicidade relacionada ao sertão dos Inhamuns. Apura-se seu reconhecimento notadamente reverenciado pelas academias e institutos mais conceituados dos estados do Ceará e Goiás. Neste ínterim, apresentam-se os discursos de posses e a sua recepção. Por fim, trazem-se alguns apontamentos, de forma subjetiva, quanto à afinidade do autor com parentes e amigos em seus escritos.

Palavras-Chaves: Nertan Macedo. Obras. O Clã dos Inhamuns. Academia.

INTRODUÇÃO 

Pretendo averiguar, através deste artigo, a biografia de um dos mais conceituados e habilidosos escritores sertanistas, tornando-se uma das grandes fontes da historiografia nordestina, Nertan Macêdo de Alcântara ou Nertan Macedo[2].

Procuro, por meio das análises comedidas, apresentar um excerto da trajetória de sua vida no âmbito pessoal, acadêmico e profissional, bem como das obras literárias deste eminente escritor.

Para este projeto, perpasso fontes historiográficas através de análises documentais, como artigos, livros e revistas, recortes de jornais, entre outros. Além disso, consultei seu sobrinho-neto, o historiador Licínio Nunes de Miranda, quem forneceu informações relevantes e, de posse destes elementos, relaciono as hipóteses, concatenando a importante contribuição literária de Nertan Macedo, oferecendo um arcabouço histórico-cultural aos Inhamuns, ao Nordeste e, não me sinto constrangido a dizer, ao Brasil.

1. BIOGRAFIA

1.1 Quem foi Nertan Macedo? 

O jovem Nertan, aos 15 anos de idade, já se enveredava na labuta literária, a propósito, ali se despontava um dos mais hábeis escritores nordestinos, seus livros, contabilizando mais de vinte obras publicadas, trazem o retrato do sertão, o cotidiano do sertanista, sua bravura, resiliência e obstinação, Nertan Macedo nos fornece a construção não só de uma sociedade, mas de uma cultura, de uma vivência, o modo matuto de superar as adversidades. Segundo José Bonifácio Câmara:


A sua obra está impregnada da magia do sertão nordestino, da sua ecologia, do seu misticismo, da saga dos cangaceiros a das lutas dos clãs pastoris, toda ela numa linguagem literária de incomparável beleza e encantamento. [3]

 

Nertan Macedo foi além, desbravou fronteiras, alcançou a Cidade Maravilhosa e lá, buscando manter-se fiel a suas origens, continuou seu vigoroso trajeto literário. O reconhecimento foi benemérito e era fundamental imortalizar nos anais da história cearense tal brilhantismo. Foi assim que Nertan Macedo, em 1966, recebido por Hugo Catunda na Academia Cearense de Letras, assumiu, com devido merecimento, o assento na cadeira nº 7, do patrono Clóvis Beviláqua.

Já pelos idos de 1976, é acolhido como membro do Instituto Cultural do Cariri-ICC, assumindo a cadeira nº 17, do patrono João Brígido, sendo recebido pelo secretário-geral Lindemberg de Aquino, condigna honra ao ilustre filho da terra. Outrossim, faço saber sua posse como membro do Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Goiás – IHGEG, em 1976.

Nertan Macedo, o jornalista, cronista, teatrólogo, poeta e historiador, meritoriamente têm seu lugar e seu nome perpetuado neste ilustre ateneu em Tauá/Ceará. A cadeira de nº 33 da Academia Tauaense de Letras – ATL traz consigo, a responsabilidade e o compromisso de reverenciarmos este ilustríssimo escritor que, em seu arrojo literário, não abriu mão de esquadrinhar a história e a memória do Alto Sertão através de sua destacada obra O Clã dos Inhamuns. 

1.2 Origem 

NERTAN MACÊDO de Alcântara é natural da cidade de Crato/Ceará, distante, aproximadamente, 512 km da capital, Fortaleza. Crato fica localizado na microrregião do Cariri, emancipada politicamente em 21 de junho de 1853.[4]    

Nascido aos 20 de maio de 1929, é filho de Júlio Teixeira de Alcântara e Corina Macêdo de Alcântara. Pela raiz paterna, sua progênie remonta a Tristão Vaz Teixeira (c. 1395 – 1480), escudeiro do infante Dom Henrique, o Navegador, pioneiro das expansões marítimas portuguesas; pela raiz materna, descende de Diogo Álvares Correia (c. 1475 – 1557) conhecido pela alcunha de “Caramuru”, e de sua esposa, a índia Paraguaçu, filha do cacique Taparica, da extinta tribo Tupinambás.[5]

Além de Nertan Macedo, o casal teve outros cinco filhos: José Denizard Macêdo de Alcântara, o primogênito da família; Rubens Dário Macêdo de Alcântara; Maria Valderez Alcântara Rebêlo; Flávio Macêdo de Alcântara, e Thales Macêdo de Alcântara, o caçula.[6]

1.3 Vida Pessoal 

Segundo Licínio Nunes, seu sobrinho-neto, a vida pessoal[MR1]  de Nertan tornou-se penosa com a separação de seus pais[MR2] , restando ao seu irmão primogênito a missão de assumir a responsabilidade de cuidar dos irmãos mais novos; seu pai enveredou-se na dipsomania, vindo a falecer no Pará. Corina Macedo tinha uma casa em Fortaleza/Ceará, para onde veio na década de 1940, vivendo com sacrifício, obtinha recursos financeiros por meio de um pensionato. Sobreponha a isso o fato de sua avó, Francisca Sampaio de Melo, a "mãe Chite", ter casado pela segunda vez, seu novo marido trouxe profundos prejuízos à família, gastando a fortuna em jogos e bebedeiras.[7]

Nertan nutria muito respeito e admiração por Denizard Macêdo, talvez pelo fato de ver em seu irmão o exemplo de hombridade ou pela habilidade incrível que exercia como professor, sua vida intelectual ou por todas estas coisas associadas. Sentimento este que expressou nas linhas de Um cavaleiro da tradição, publicado pela revista da Academia Cearense de Letras, edição 1987-1988, que em seus primeiros parágrafos diz:

Meu irmão, José Denizard Macedo de Alcântara, o mais velho de todos, foi a mais forte influência espiritual ao longo da minha vida. Ele morreu relativamente moço, aos 63 anos, de fulminante colapso cardíaco, nas proximidades da Fortaleza de Nossa Senhora d'Assunção, numa madrugada de novembro. Era afilhado de Nossa Senhora da Penha, padroeira do Crato, e a cidade de Fortaleza foi a paisagem e a paixão urbanas da sua vida.

Figura inesquecível, a desse bom irmão, pela ternura que escondia n'alma, sempre fazendo questão de mostrar um cenho carregado, de ilusório, aparente autoritarismo, que aos incautos parecia o retrato "fechadão" da sua maneira peculiar de pensar e agir, em política, em casa ou no magistério. Não era, porém, no fundo, nada disso. Foi com ele que aprendi uma lição que me tem servido bastante pelo tempo afora: não acreditar em ideologias radicais como "molduras perfeitas, acabadas" de certos espíritos julgados, condenados ou exaltados, erradamente, como de Esquerda, Centro ou Direita. Pois o que não falta na vida pública brasileira são certas figurinhas torpes que se dizem liberais e não passam de tremendos farsantes, com esconsa vocação para a crueldade e a ditadura, adoradoras que são do mando incontrastável e do poder totalitário. Daí o sábio provérbio. "Se queres conhecer o vilão, entrega-lhe o bastão" [...].[8]

Nertan Macedo casou-se com Maria Gessen Amaral de Alcântara, mineira, natural de São Sebastião do Paraíso-MG. O casal teve três filhos, José Luiz Maurício Amaral de Alcântara, nascido na cidade do Rio de Janeiro-RJ no dia 05 de novembro de 1949, segundo consta formou-se em Direito; Virginia Amaral Macedo de Alcântara nasceu em Olinda-PE em 06 de novembro de 1951 e Paula Amaral Macêdo de Alcântara, nascida em Fortaleza –CE em 30 de setembro de 1964.[9]

Ainda conforme o relato de Licínio Nunes, José Luiz Mauricio Amaral de Alcântara, filho de Nertan, teve um único filho, hoje com 30 anos, residente no Rio de Janeiro, guardião do acervo do avô, entretanto, o neto não chegou a conhecê-lo. José Luiz Mauricio de Amaral de Alcântara faleceu há alguns anos de infarto (como todos os demais homens de família), não obstante, as filhas de Nertan, Virginia e Paula Macêdo ainda vivem.[10]

José Bonifácio Câmara relata sobre o amigo como um chefe de família exemplar, fraterno nas amizades, sempre atento e prestativo para várias pessoas, independente do partidarismo, inclusive, homenageando-os em seus livros conforme escrevia e publicava.[11]

Defendia com a veemência que lhe eram peculiares as ideias que elencava, capazes de trazer a felicidade do brasileiro, às quais se manteve fiel até a morte.[12] Talvez isso corrobore com a afirmativa quando entrevistado pela redação do jornal O POVO, onde declarou: “Visito o Ceará por amor e necessidade”.[13]

1.4 Formação e Área de Atuação 

Estudou no Educandário Santa Inês, na cidade do Crato; nos colégios Farias Brito, São João e Sete de Setembro, em Fortaleza; na Escola Apostólica, em Baturité/CE; no Ginásio Pernambucano, em Recife/PE, e no Colégio Juruena, no Rio de Janeiro/RJ.[14] Foi aluno de latim de Lauro Oliveira Lima, enquanto tinha extrema dificuldade com matemática, foi excepcional aluno de História.[15]

Iniciou no jornalismo em Fortaleza; em Recife, trabalhou como redator dos jornais Diário de Pernambuco e do Jornal de Comércio, fundou e dirigiu o jornal O Dia. No Rio de Janeiro, trabalhou nos jornais: O Jornal, Vanguarda, Tribuna da Imprensa e Jornal do Comércio, assim como nas revistas: Senhor, Observador Econômico, Tradição, Brasil Açucareiro, este ligado ao órgão do Instituto do Açúcar e do Álcool e REFFESA, pertencente à Rede Ferroviária Federal. Foi diretor da revista Indústria e Produtividade, da Confederação Nacional da Indústria. Foi diretor do Banco do Estado do Ceará. Chefiou o Serviço de Imprensa do Governo Virgílio Távora e a representação do DASP no Rio de Janeiro.[16] Além disso, atuou como comentarista político na Folha de São Paulo.[17] Segundo José Murilo Martins:

Foi funcionário do Instituto do Açúcar e do Álcool, assessor do governo do Ceará, diretor do Banco do Estado do Ceará e coordenador-chefe de relações públicas do Ministério da Fazenda.

Jornalista, cronista, teatrólogo, poeta e historiador, exerceram por anos a função de redator de vários jornais e revistas de Fortaleza, Recife e Rio de Janeiro. [18]

Escritor com destacadas obras publicadas, havendo várias reedições de alguns livros,[19] entre os títulos: Caderno de Poesia (1949), Aspectos do Congresso Brasileiro (1956), Cancioneiro de Lampião (1959), Rosário, Rifle e Punhal (1960), O Padre e a Beata (1961), Capitão Virgulino Ferreira Lampião (1962), Lampião - Capitão Virgulino Ferreira (1962), A Morte de Lampião (1962), Memorial de Vilanova (1964), O Clã dos Inhamuns (1965), Dois Poetas Pernambucanos (1967), O Bacamarte dos Mourões (1966), O Clã de Santa Quitéria. (1967), Antônio Conselheiro (1969), Floro Bartolomeu – o caudilho dos Beatos e Cangaceiros (1970), Cinco Histórias Sangrentas de Lampião e Mais Cinco Histórias Sangrentas de Lampião (1970), Sinhô Pereira - O comandante de Lampião (1975).[20]

Suas atividades literárias tiveram início como poeta, publicando, no ano de 1944, aos 15 anos, o livro Poemas de um ginasiano. Dedicando-se aos estudos históricos, nunca mais deixou de trabalhar com a escrita em sua ligeira seis décadas de vida, descrevendo episódios trágicos do sertão cearense, entre os quais destacamos O Clã dos Inhamuns.

1.5 Vida Acadêmica

Ingressou na Academia Cearense de Letras-ACL no dia 15 de agosto de 1966, sendo saudado pelo acadêmico Hugo Catunda. Ocupou a cadeira nº 7, vacância decorrente da morte de Mário Linhares, cujo patrono é o jurisconsulto Clóvis Beviláqua.[21] Em seu discurso de boas-vindas, Hugo Catunda disse o seguinte:

Havia na Escola de Atenas um pequeno cerimonial destinado à recepção dos que se iniciavam nos ensinamentos da filosofia socrática. Breve e simples, sem alaridos verbais nem as vibrações dos vinhos capitosos da Trácia que tumultuaram as tertúlias dos átrios de Academus, nem por isso o singelo acolhimento aos iniciados de Sócrates desvestia o encanto ático da espiritualidade helênica, suavemente esmaltado na lírica denominação daquele rito, - a Festa da Esperança - com a qual se estimulava o interesse dos neófitos pela doutrina espiritualista que aflorava em continuação à sofistica de Protágoras, marcando um instante decisivo na evolução do pensamento antigo. Era, assim, uma consagração que aos novos se antecipava através da manifestação festiva de uma esperança que não devia falhar, mas, ao invés disto, teria de afirmar-se em tempo breve, pela aquisição da sabedoria, para os torneios dialéticos da filosofia clássica.

Bem diferente, sr. Nertan Macedo, é a festa com que vos recebemos no brilho desta noite acadêmica, pois, ao contrário do festim simbólico dos filósofos atenienses, ela constitui não uma simples esperança, mas a consagração definitiva de méritos primos e sobejos já afirmados pela vossa obra cultural, e que há muito vos asseguravam direito indiscutível a um dos lugares desta Casa [...].[22]

 

Nertan Macedo também foi membro do Instituto Histórico[23] do Cariri, e membro correspondente do Instituto do Ceará.[24]

Em sessão solene realizada no auditório da Faculdade de Filosofia do Crato, na noite de 27 de fevereiro de 1973, Nertan Macedo tomou posse da Cadeira n° 17 do Instituto Cultural do Cariri-ICC, que tem por patrono João Brígido dos Santos. O autor foi recebido com um discurso de boas-vindas pelo secretário-geral Lindemberg de Aquino.[25]

Já em 22 de outubro de 1976, tomou posse como membro do Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Goiás – IHGEG. Solenidade que contou com a presença do governador do estado Irapuan da Costa Júnior, presidida pelo professor Colemar Natal e Silva, presidente do Instituto, com a mesa formada pelo governador, vice-governador, José Luiz Bittencourt, ministro Aquino Porto; Gonçalves Bezerra, representante do Ministro do Trabalho; deputado Juracy Teixeira, representante da Assembleia Legislativa, e pelo jornalista Jaime Câmara, diretor de J. Câmara e Irmãos.[26] A revista Itaytera, em sua coluna, destaca:

O professor Ático Vilas Boas Mota saudou o escritor Nertan Macedo, o Ceará, suas obras poéticas, folclóricas e históricas, dando-lhe as boas vindas a Goiás, como o mais novo membro do IHGEG, e augurando-lhe sempre sucessos nos seus empreendimentos literários. O governador Irapuan da Costa Júnior, ao fazer uso da palavra, também enalteceu a personalidade de Nertan Macedo, situando-o como um dos mais fecundos historiadores de nossa época, confessando sua alegria em ter o seu nome vinculado ao Instituto Histórico e Geográfico de Goiás e consequentemente ao Estado [...]. [27]

1.6 Morte 

Nertan Macedo de Alcântara, nascido no Crato, CE, em 20/05/1929, como supracitado, veio à óbito em 30 de agosto de 1989 aos 60 anos, na cidade do Rio de Janeiro.[28]

Segundo matéria publicada pelo jornal O POVO de 31 de agosto de 1989, Nertan faleceu de enfarte em sua residência no Rio de Janeiro, às 16h. A matéria relata ainda:

Os problemas de coração começaram a um ano atrás, quando o jornalista se submeteu a uma cirurgia no Instituto do Coração em São Paulo. No final do mês de julho, a doença retornou e, a partir daí, começou um processo de novos exames [...]. [29]

O Ceará perdia, naquele momento, um dos seus filhos ilustres; o Brasil perdia um dos seus maiores escritores e um grande jornalista contemporâneo.[30] O sepultamento se deu no dia 31 de agosto, na capital carioca.[31]

 

2. OBRAS LITERÁRIAS 

Como percebemos, Nertan Macedo dedicou-se boa parte da sua vida na produção literária, presenteando-nos com obras magníficas. Estudioso afinco dos sertões, elaborou várias obras destacando a vida, a cultura, a sociedade, as famílias e as relações dos povoadores das terras nordestinas. O excursionismo é a grande marca dos seus trabalhos, delimitada por dois momentos – as análises sobre os legítimos herdeiros das terras, oferecendo subsídios sobre a formação social do Ceará e a poesia de seus romanceiros. Seu olhar aguçado trouxe a lume episódios gravados na memória dos mais humildes, impressões vivas, recriando heróis e guerrilheiros místicos.[32]

Apresenta-se abaixo uma relação dos livros publicados desde 1944, acentuando O Clã dos Inhamuns, livro que expõe uma relação direta do autor cratense aos sertanejos dos Inhamuns, mais especificamente, à família Feitosa e suas contendas com a família Montes na disputa por terras para criação de gado.

¾     Poemas de um ginasiano foi o início das suas atividades literárias, o então poeta escreveu-o no ano de 1944, aos 15 anos, publicado pela Tip. Moraes, Fortaleza. Com prefácio de Francisco Gentil Nogueira, os poemas são dedicados a José Denizard, Pereira da Silva, Gentil Nogueira, Professor Luiz Mendes, à madame E. R. Gonthier, Raul de Castro, Florêncio Holanda, Leonardo Mota, Jesuítas de Baturité, Edilson Brasil Soárez, Hilton Cortez, Luís Teixeira Barros, Afrânio Rodrigues, Geraldo Nogueira de Queiroz, Rómulo Mascarenhas e à sua turma do ginásio.[33]

¾    Poemas esquecidos, publicado pela Tip. Moraes, Fortaleza, 1945. Capa de Rubens de Azevedo e prefácio de Mozart Sariano Aderaldo. Poemas dedicados a Rogaciano Leite, Eduardo Campos, Helsine e Heldine Cortez, Moacir Teles, Aluízio Medeiros, à Laura Alves, Francisco Freire, Raimundo Araújo, Filgueiras Lima, Alei Montenegro, Benévolo de Andrade, José Cursino Pessoa, Nilo Sampaio, Carlyle Martins e Zé Vieira Costa. O livrinho é dedicado a Vieira Monte, Mário Gurjão Pessoa, Rubens de Azevedo, Airton Silva, R. Moreira Ribeiro e Romeu Menezes.[34]

¾    Posteriormente publicou o livro Caderno de poesia pela Editora A Noite, no Rio de Janeiro, em 1949.[35] Dedicado à sua esposa Maria Gessen.[36] Sua sinopse diz o seguinte:

Longe dos grupos literários, circunscrito ao horizonte da própria solidão, o jovem poeta se apresenta com uma mensagem que se destaca pelo seu cunho pessoal, pela ausência de ligações com os postulados estéticos que às vezes, agrupando, desfiguram e despersonalizam. É poesia moderna pelos temas e arquitetura dos versos... Fundo e Substâncias se congraçam na poesia de Nertan. Sua disciplina formal, que não se fecha ao hermetismo, antes se abre para captação das emoções e paixões [...].[37]

¾    Já no ano de 1956, lançou o livro Aspectos do congresso brasileiro, publicado pela Editora Edições O Cruzeiro, no Rio de Janeiro.[38] Dedicado a Marcondes Filho e Nehemias Gueiros.[39]

¾    Em 1959, publicou o livro Cancioneiro de Lampião, a primeira edição foi impressa pela Editora Leitura, Rio de Janeiro,[40] a segunda edição, publicada pelo Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro, 1976. Gravuras de Jô Oliveira. Dedicado a Adonias Filho, Mauro Mota, José Alberto Gueiros, Fernando de Oliveira Motta, Hélio Pina, Amilde Pedrosa, Luís Santa Cruz e João Duarte Filho.[41] A propósito, a obra serviu de inspiração para criação de uma peça teatral no curso de Arte Dramática da Universidade Federal do Ceará - UFC.[42]

¾    Rosário, rifle e punhal, sua primeira edição foi publicada pela Editora Leitura, no Rio de Janeiro, em 1960.[43] Dedicado à memória de seu pai, Júlio Teixeira de Alcântara. Contém mais duas edições, reunido com O padre e a beata.[44] Esta obra também foi utilizada para criação de peça teatral no curso de Arte Dramática da Universidade Federal do Ceará - UFC.[45]

¾    Em 1961, lança O padre e a beata, primeira edição com prefácio de Jorge Amado, publicado pela Editora Leitura, no Rio de Janeiro.[46] Dedicado a Barbosa Mello, Álvaro Moreyra e ao padre Antônio Gomes de Araújo, com mais duas edições, reunido com Rosário, rifle e punhal.[47]

¾    Publicado pela Editora Renes, no Rio de Janeiro, em 1962, Lampião, Capitão Virgulino Ferreira.[48] Dedicado a Jorge Amado, Valdemar Cavalcante e Manuel Gomes Maranhão.[49] Trazendo em sua sinopse a seguinte descrição:

O texto do presente volume prende-se apenas à história do cangaço, às causas do surgimento da figura quase lendária do seu personagem central e dos que o seguiram para levar ao interior do Nordeste o sobressalto e o espanto. Daí termos julgado dispensável, para efeito de redução de custos, a republicação dos magníficos prefácios assinados, nas edições anteriores, por Adonias Filho e Virginius de Gama e Melo, assim como do Cancioneiro de Lampião, livro à parte, já com edições autônomas. o Autor achou desnecessária a reprodução das notas por ele escritas para as edições anteriores.[50]

¾    Já nos idos de 1964, publica a obra Memorial de vila nova pela editora Edições O Cruzeiro, no Rio de Janeiro,[51] com segunda edição publicada pela Editora Renes, Rio de Janeiro, 1983. Dedicado a Denizard Macedo, Milton Morais Correia, Dalton Costa Lima Vieira e José Kleber Macedo.[52]

¾    No ano de 1966, publica O bacamarte dos mourões por meio da Editora Instituto do Ceará, em Fortaleza – Ceará,[53] a segunda edição é publicada pela Editora Renes, Rio de Janeiro, 1980. Dedicado à sua esposa Maria Gessen.[54]

¾    A obra O clã de Santa Quitéria foi publicada pela gráfica O Cruzeiro, Rio de Janeiro, com sua primeira edição no ano de 1967 e segunda edição em 1980, pela Editora Renes.[55] Dedicado a Hugo Catunda e Aderson Magalhães (Ali Right).[56] Marcelo Pinto, em seu prefácio, inicia sua análise sobre a obra dizendo:

Aliando ao senso histórico a tendência para as indagações sociológicas, duas qualidades que não se deviam separar, mas que infelizmente e com frequência não coincidem na mesma pessoa; Nertan Macêdo acaba de publicar interessante estudo sobre personalidades da Província do Ceará na fase do 2º Império, a que denominou “O Clã de Santa Quitéria”. Logo se vê que o trabalho tem cunho de profundidade e segurança, proporcionando ao leitor uma perspectiva clara do cenário regional onde se desenvolveu o partidarismo daqueles que evoca, senhores absolutos das posições governamentais, mas incapazes não só de exercerem um personalismo exagerado, como de buscarem satisfação própria [...]. [57]

¾     Um pouco do exército ao longo da nossa história (conferência), na Escola Industrial Federal do Ceará, Fortaleza, 1965. Dedicado à memória do Marechal Canrobert Pereira da Costa.[58]

¾    Nertan Macedo na Academia Cearense de Letras (discursos), Departamento de Imprensa Oficial, Fortaleza, 1966. Discursos de Nertan Macedo e Hugo Catunda.[59]

¾    Em 1967, pela Imprensa Universitária, em Recife/PE, é publicada a obra Dois poetas pernambucanos[60] (Deolindo Tavares e Mauro Mota), Dedicado à memória de Moacir de Albuquerque.[61]

¾    Em 1968, é publicada a primeira edição de Cancioneiro de Lampião e Capitão Virgulino Ferreira, Lampião, reunidos em um só volume, impresso pela Edições O Cruzeiro, no Rio de Janeiro; uma terceira edição também foi publicada pela mesma editora no ano de 1970; a quarta edição foi publicada pela Editora Artenova, Rio de Janeiro, no ano de 1972.[62]

¾    Reunidos em um só volume, O padre e a beata e Rosário, rifle e punhal foram lançado no ano de 1969 pela Edições O Cruzeiro.[63]

¾    Em 1970, é publicada a obra FLORO BARTOLOMEU (O caudilho dos beatos e cangaceiros) pela agência jornalística IMAGE, Rio de Janeiro,[64] com segunda edição publicada pela Editora Renes, Rio de Janeiro, 1986. Dedicado à sua mãe, Corina Macedo de Alcântara.[65]

¾    Ainda em 1970 são publicados dois volumes de bolso de Cinco histórias sangrentas de Lampião e Mais cinco histórias sangrentas de Lampião pela Editora Monterrey, Rio de Janeiro.[66]

¾    Antônio Conselheiro, Record Editora, Rio de Janeiro, 1969, com segunda edição pela Editora Renes, Rio de Janeiro, 1978. Dedicado a Rachel de Queiroz e Octavio de Faria.[67]

¾    ABÍLIO WOLNEY (Um Coronel da Serra Geral) foi publicada pela primeira vez em 1975 pela Legenda Editora; tendo sua segunda edição publicada em 1980 pela Editora Renes, Rio de Janeiro.[68] Dedicado a Walter Fontoura e José Leal.[69]

¾    Pela Editora Artenova, em 1975, é publicado SINHÔ PEREIRA – o comandante de Lampião, com sua segunda edição publicada pela Editora Renes em 1980, ambas no Rio de Janeiro.[70] Dedicado à llusca, Lilian, Mário Henrique Simonsen e Humberto Barreto.[71]

¾    Da Provence ao Capibaribe (Charles Maurras e Gilberto Freyre) é publicado em 1980, pela Editora Renes, Rio de Janeiro. [72] Dedicado a José Alberto Gueiros e Renaldo A. Essinger.[73]

¾    Volta seca, o menino cangaceiro, Editora Thesaurus, Brasília, 1982. Dedicado a Melquíades Pinto Paiva.[74]

¾    Agreste, mata e sertão, Secretaria de Cultura e Desporto, Fortaleza, 1984. Dedicado a Antônio Girão Barroso, à Maria Conceição Souza, Eduardo Campos, Clímaco Bezerra e José Bonifácio Câmara.[75]

¾    Por fim, O clã dos Inhamuns (Uma família de guerreiros e pastores das cabeceiras do Jaguaribe), tendo sua primeira edição lançada pela Editora Comédia Cearense, Fortaleza, no ano de 1965; posteriormente, em 1967, foi lançada a segunda edição pela Editora A Fortaleza, Fortaleza, Ceará; já em 1980, pela Editora Renes, Rio de Janeiro, é publicada a terceira edição.[76]

Presenteia-nos a todos inhamunhenses com esta obra-prima, trazendo a bravura e a valentia dos desbravadores daqueles outrora sertões esquecidos.  Nertan se concentra nos aspectos socioculturais relacionados ao modo de viver e a sobreviver em terras povoadas por selvagens indígenas, não obstante, o sertão oferecia terras, que propiciaram aos colonizadores a oportunidade de desenvolverem a criação de seus gados e assentarem suas famílias e seus agregados. Fernandes Távora diz:

Neste livro, produto de exaustivas pesquisas em bibliotecas, cartórios e velhos baús sertanejos, mostra-nos ele, pacientemente, fatos e dramas que a voracidade do tempo ia consumindo e apagando, na memória das novas gerações.

Para reviver essa verdadeira epopeia da conquista do sertão Centro-Oeste do Ceará, o autor não poupou esforços; e sua extraordinária pertinácia nas perquirições que o levaram ao objetivo colimado, é digno de aplausos e louvores [...].[77]

Nesse ínterim, travou-se uma das batalhas mais sangrentas da história desses sertões altos, a contenda entre Montes e Feitosa, recorte  muito explorado pelo autor, trazendo à arena historiográfica escritores afamados pela crítica cearense, como Pedro Théberge, João Brígido, Antônio Bezerra, Leonardo Feitosa, entre outros, comparando suas interpretações sobre  esse período da história dos Inhamuns, bem como outros assuntos relacionados ao estabelecimento e às posses da família Feitosa na região das cabeceiras do Jaguaribe.

Em Inhamuns Terra e Homens, Antônio Gomes de Freitas faz a seguinte menção:

Existem ainda dois grandes livros, em cujas páginas brilhantes repassam sobre cousas e fatos dos Inhamuns e sua gente: << Retalhos do Passado>> do falecido Professor Joaquim Pimenta, ilustre sociólogo, filho de Tauá, e <<Clã dos Inhamuns>>, de autoria do aplaudido escritor Nertan Macedo[78] [...].[79]

Hugo Catunda  cita  O Clã dos Inhamuns prefaciando o livro Inhamuns Terra e Homens de Antônio Gomes de Freitas, destacando a configuração estética (apresentada na obra) ao que era tosco e bárbaro ao conteúdo histórico-cultural daquelas velhas terras do planalto, marcadas de beleza e evocações.[80]

Em carta enviada ao escritor Nertan Macedo, quando este tinha publicado a primeira edição em 1965, Maria da Conceição Feitosa e Castro (Santinha Feitosa) faz o seguinte relato:

Ilmo. Escritor Nertan Macedo – Meus Cumprimentos.

Acabo de ler o livro da autoria de V. Sia. O Clã dos Inhamuns. Gostei bastante do modo que V. Sia. Relata os fatos de minha família, procurando dizê-los com verdade, sem paixão e sem ódio como outros o fizeram [...].[81]

Frei Angelino Caio Feitosa, da Ordem Franciscana, que esteve por algum tempo em Canindé, como relata o autor, e residia no Convento de São Francisco, Serinhaém – PE, apresenta algumas considerações sobre a obra: “Acabo de ler o livro O Clã dos Inhamuns, o que fiz com crescente prazer [...].”[82]

Indiscutivelmente um grande legado nos outorgou Nertan Macedo em O Clã dos Inhamuns, eternizando, nas entrelinhas da história, com a habilidade de escrita que lhe era peculiar, a memória dos primórdios que desbravaram toda essa Sertânia. 

3. CINEMA E TEATRO 

Destaca-se o filme Lampião, o rei do cangaço, (1964), que narra a história do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião, e a trajetória do menino pobre, nascido no sertão de Pernambuco, que tornou-se um dos homens mais procurados e conhecidos do Brasil. O roteiro é baseado nas obras: Lampião – O Rei do Cangaço, de Eduardo Barbosa e Capitão Virgulino “Lampião” de Nertan Macedo.[83] O filme, com direção de Carlos Coimbra, apresenta a trajetória de Lampião, um dos mais temidos e respeitados cangaceiros de todos os tempos.[84]

Já na década de 1960, o teatro cearense teria mais um período de efervescência, liderado pela figura de B. de Paiva (José Maria Bezerra de Paiva),  é criado o curso de Arte Dramática da Universidade Federal do Ceará-UFC pelo então reitor Antônio Martins Filho, no ano de 1961. O curso apresenta  novas propostas cênicas e uma nova geração de atores, dando oportunidade, a quem quiser, de iniciar no teatro de maneira correta. Entre as grandes peças do Teatro Universitário, estão: Auto da Compadecida, A Raposa e as Uvas, Antígona, Bodas de Sangue, Macbeth, e a dramatização dos poemas Lamento pela Morte de Inácio de Lorca, e Cancioneiro de Lampião; Rosário, Rifles e Punhal, de Nertan Macedo[85].[86]

Outras peças teatrais, conforme José Bonifácio Câmara, representadas são:

¾    Cancioneiro de Lampião, adaptação de José Luiz Ribeiro, Juiz de Fora, 1967.

¾    A viagem do anjo Paulinho à terra (teatro infantil), Comédia Cearense, nº 2, Fortaleza.

¾    A guerra do Benze-Cacete. Comédia Cearense, nº 5, Fortaleza, 1978.[87]

  

4. DISCURSOS E POSSES

4.1 Discurso na íntegra de Hugo Catunda, saudando a chegada de Nertan Macedo à Academia Cearense de Letras – ACL 

 

Discurso proferido em 15 de agosto de 1966 por Hugo Catunda, recepcionando o mais novo membro da Academia Cearense de Letras, Nertan Macedo, assumindo a cadeira de nº 7, vacância decorrente do falecimento de Mário Linhares, tendo como patrono Clóvis Beviláqua.[88]

Hugo Catunda

Havia na Escola de Atenas um pequeno cerimonial destinado à recepção dos que se iniciavam nos ensinamentos da filosofia socrática. Breve e simples, sem alaridos verbais nem as vibrações dos vinhos capitosos da Trácia que tumultuaram as tertúlias ·dos átrios de Academus, nem por isso o singelo acolhimento aos iniciados de Sócrates desvestia o encanto ático da espiritualidade helênica, suavemente esmaltado na lírica denominação daquele rito - a Festa da Esperança -, com a qual se estimulava o interesse dos neófitos pela doutrina espiritualista que aflorava em continuação à sofistica de Protágoras, marcando um instante decisivo na evolução do pensamento antigo. Era, assim, uma consagração que, aos novos, se antecipava através da manifestação festiva de uma esperança que não devia falhar, mas, ao invés disso, teria de afirmar-se em tempo breve, pela aquisição da sabedoria, para os torneios dialéticos da filosofia clássica.

Bem diferente, sr. Nertan Macedo, é a festa com que vos recebemos no brilho desta noite acadêmica, pois, ao contrário do festim simbólico dos filósofos atenienses, ela constitui não uma simples esperança, mas a consagração definitiva de méritos primos e sobejos já afirmados pela vossa obra cultural, e que há muito vos asseguravam direito indiscutível a um dos lugares desta Casa.

Não viestes, pois, bater às portas ilustres da Academia, porque elas já vos estavam abertas para a acolhida calorosa e fraterna. Nem aqui chegais como os que, empós longa caminhada na colheita provida de louros, procuram apagar a luz do seu brandão para repousar tranquilos sobre a imortalidade e os lauréis do renome.

Se lá fora já fizestes muito, se muito já colhestes na vindima iluminada dos sonhos, das ideias e do pensamento em que o vosso espírito engalanou-se para a oferenda lírica dos frutos, aqui muito tereis ainda de sonhar e realizar no campo da inteligência e da cultura, sempre ricos de atrações para a intensa sensibilidade do vosso espírito. É que pequena não será, de certo, a tarefa que vos aguarda na obra ímpar que a Academia Cearense de Letras, há mais de meio século, vem realizando pelo maior brilho do nosso renome cultural, pelo prestígio das nossas letras, pela preservação do nosso patrimônio artístico e pelo estudo das nossas singularidades físicas e das características étnicas e sociais que nos condicionam a vida e explicam o nosso comportamento, face aos rudes e irremovíveis determinismos telúricos que nos subjugam. E a certeza de que aqui bem cumprireis a vossa missão, ressalta do sentido mesmo por que tendes sabido conduzir a vossa própria existência, toda ela dedicada ao serviço da cultura e da sua exaltação, ao amor do Belo e do Sensível, numa peleja lúcida e fecunda, cujos frutos opimos nos asseguram a abundância de outros tantos que, nesta Casa, por igual, tereis de colher.

E, se me permitis discretear um pouco sobre essa peleja que vos enobrece o nome, eu recordaria, de início, que, por entre os abrolhos e os cerrados que cobrem o caminho de todas as lutas, a vossa iniciou-se singularmente, abrindo clareiras de suavidade e harmonia que, no alvorejar da vida, aos dezesseis anos de idade, já versejáveis, e apareceram, então, na província, os vossos primeiros livros de versos, bem recebidos pela crítica literária que exaltou, sem reservas, a vossa estreia no mundo orquestral dos ritmos.

Mas a vossa definitiva afirmação poética no plano nacional nos veio com a publicação, no Rio de Janeiro, do vosso Caderno de Poesia, com honrosa e consagradora apresentação de Ledo Ivo e festivamente recebido pelos mais distinguidos críticos de literatura e de arte da antiga capital da República. Caderno de Poesia é, sem dúvida, um documento expressivo de como soubestes realizar o culto da forma em função da beleza. , para alcançar este recurso estético, procurastes, antes de tudo, ser autêntico, não vos prendendo ao ritmo convencional e uniforme de certas correntes literárias, no qual a expressão formal, os símbolos e as imagens à míngua de espontaneidade e fluência, e à força de serem repetidas, perdem, inevitavelmente, o seu poder de sugestão. Voltastes-vos, ao invés disso, livremente para a própria inspiração sentida e vivida intimamente, e que tão bem soubestes traduzir na expressão da vossa poesia, na qual se refletem originalmente não só a vossa visão da vida, das suas motivações e das cousas que a exaltam, senão também as tonalidades delicadas do vosso temperamento e da vossa natureza humana. Com efeito, a vossa visão da vida, ao lado da vossa aguda receptividade sensitiva, em contato com o mundo exterior, e dele recebendo o influxo dos seus dramas e das suas emoções para estilizá-los em suaves afirmações estéticas, constituem o centro e o destino da vossa poesia de vigorosa imaginação onde se misturam, magnificamente, um poético sensualismo e uma suave sensação de espiritualidade, transparecendo em alegorias e imagens de sugestiva beleza. Dir-se-ia que apanhastes a lição dos que insinuam - cria o teu ritmo e criarás o mundo. Daí por que fostes original e marcante pela sinceridade e pela arte de expressão, sugestivo pela nobreza da sensibilidade e afirmativo pelo vigor da vossa mensagem lírica. Entre os delírios e os desmantelas de tantos versos informes e imitados que andam por aí, a vossa poesia toma realmente a feição de alguma cousa diferente e repousante, com as suas evocações sentidas, com a sua inspiração, com a sua musicalidade, com a sua beleza formal e expressional. É que não fizestes versos ao acaso, impulsionado simplesmente pela força criadora da vocação natural, mas, sobretudo, pelo sentimento inspirador que vivia em vós mesmo, e tão bem soubestes ordenar na escala da beleza artística. Aliás, a poesia está presente em toda a vossa obra literária. Nos vossos livros, na prosa erudita, quando versais assuntos não poéticos, sente-se realmente aqui e ali, o toque ligeiro da sua presença sutil e amena, suavizando a objetividade dos temas e a natural aridez das narrativas.

 Mas por que pretender ir além, analisando a vossa obra poética, eu, que de versos nada sei, e, apenas por um dom que Deus concedeu a todas as criaturas, sinto a poesia que ressai, visível e tocável, da harmonia e até dos contrastes do mundo exterior, espelhando-se nas paisagens amenas que enfeitam e opulentam as formas infinitas da natureza? Prudente é ficar por aqui mesmo, atento ao conselho de Apeles, e lembrado do insucesso de certo fidalgo napolitano que se bateu em duelo catorze vezes para provar que Dante era superior a Ariosto e, ao falecer, vítima do ferimento recebido no último desses duelos, confessou melancolicamente que nunca entendera Dante nem Ariosto.

Já se afirmou que o poeta não tem o direito de ser outra cousa senão poeta. O conceito, como vedes, sr. Nertan Macedo, parece não comportar restrições e prende o destino do artista à perenidade cantante do sonoro destino da cigarra. Mas a verdade é que os poetas, talvez porque muito esvoaçam pelos intermúndios do sonho, não raro atravessam as fronteiras luminosas da sua arte e se revelam além, em outras formas de realização, embora o sinal de nascença permaneça indelével e inspirador, no prisma fantasista da imaginação criadora. Sois um destes que, atuando em outras formas de vida, sempre guardaram fidelidade à poesia, cuja presença reponta na harmonia e na humanidade dos gestos e das atitudes que definem o seu comportamento em outras latitudes. Porque foi, com efeito, o poeta disfarçado no prosador, no escritor brilhante, no pesquisador paciente e arguto, quem nos deu também tantos outros livros sobre temas e assuntos ligados intimamente com a paisagem nordestina e nos quais estão desenhados com forte relevo artístico e com os tons frementes da realidade cósmica, a agrestia da terra ensolarada, cujos cenários e perspectivas, colhidos na infância, se fixaram, com nitidez, na vossa memória visual, permanecendo impressos na retina sentimental da vossa alma de artista. As vossas obras que nos vieram depois dos vossos livros de poesia, numa fecundidade raramente alcançada pelos escritores da vossa idade - Cancioneiro de Lampião, Rosário, Rifle e Punhal, Aspectos do Congresso Brasileiro, O Padre e a Beata, com prefácio de Jorge Amado, Memorial de Vila Nova, Capitão Virgulino Ferreira Lampião, com apresentação de Adonias Filho, da Academia Brasileira de Letras, Clã dos lnhamuns e O Bacamarte dos Mourões, enriquecem a vossa bagagem literária não só pela quantidade, senão também e especialmente pelo mérito, pela atração e interesse que realmente não me seria possível, no breve espaço de uma saudação protocolar, referir-me particularmente a cada um dos vossos livros, bastando assinalar, para ressaltar a justa irradiação do vosso nome e da vossa fama de escritor, a simpatia e a consagradora receptividade com que os acolheu a crítica literária nacional. Mas não me corro de referir-me, ainda que de passagem, a alguns dos vossos livros que mais me sensibilizaram e aumentaram em mim a admiração que já tributava à vossa impressionante personalidade literária. Antes, porém, desejo assinalar que, distante do Ceará, num meio ultracivilizado e absorvente como o Rio de Janeiro, tão cheio de atrações sedutoras, capazes de transformar o pensamento e as tendências dos que delas participam, guardastes, indelevelmente, a nostalgia cósmica, a lembrança sentida e amorável da terra natal, dos seus mares lendários, das suas serras e dos seus sertões cheios de silêncios e às vezes de assombros, com a sua gente triste e poética, também cheia de bravura e canções, de crendices e misticismo. A paisagem distante e essas figuras humanas que a povoam estão, com efeito, presentes em quase todos os vossos livros - animadas, ingênuas e boas, em definições autênticas e vibrações vitais. A introdução do vosso livro Capitão Virgulino Ferreira, Lampião, no qual descreveis o mundo e a geografia do herói sinistro, ou seja, como bem os ·denominais, o país dos nordestinos, é, por exemplo, um capítulo evocativo de impressionante beleza e realismo, e valeria, por si só, o livro, não fora todo ele uma viva atração rica de interesse e curiosidade para quantos leram aquelas páginas épicas sobre a vida trágica do Rei do Cangaço. Com efeito, situando-vos entre a simplicidade impressionista de Gustavo Barroso, em Terra de Sol, e a ênfase frondejante de Euclides da Cunha, em Os Sertões, fixastes com autêntica originalidade e admirável poder descritivo, a natureza física e as nuanças todas representativas da realidade telúrica, o quadro amplo e sugestivo do país dos nordestinos, que ressai de vossas páginas com uma serena beleza, vibratilizada por uma linguagem concisa e adequada, sem angulosidades rudes nem arrebatamentos flamejantes. Há, em tudo, um colorido novo e um ressalto, a um tempo vigoroso e sereno, quase cantante, à maneira de uma rapsódia torrencial por onde fluem, na fixação do complexo e ecológico, todas as singularidades da paisagem geográfica e humana, refletindo, agudamente, angústias e grandeza de uma terra torturada pela inclemência clínica e de uma raça de heróis e sofredores que guarda intactos a rijeza, as qualidades morais e o sentimentalismo de sua origem étnica, ainda não desfibrada pela intrusão do cosmopolitismo deformador. Dispondo de seguros recursos verbais e grande poder de síntese, aliados a uma viva memórias das causas, longe de sobrecarregar a tela com as cores irreais da imaginação exaltada, ou minúcias perturbadoras da visão do conjunto, servistes-vos da descrição concisa, fluente e impressionante que, ferindo a imaginação, nos obriga a uma pausa na leitura da introdução do vosso livro para a contemplação mental dos quadros e cenários ali fixados em largas pinceladas. Cada escritor vê, através do pensamento, as cenas e os fatos que descreve a realidade que pinta e as imagens que evoca. O que lhe cabe evitar é que a visão pessoalíssima se deixe perturbar pela vibração emotiva, de modo a alterar a objetividade das cousas, sobrepondo-a à sua mesma realidade que pode ser evocada a cores fortes, mas nunca deformada pelos artifícios da imaginação fantasista. Certo, este dom de equilíbrio, esta capacidade viril de reproduzir a objetividade do mundo real sem a deformar pela forte sugestividade das impressões, e de manter, em toda a pujança, a personalidade própria na impressividade dos cenários naturais e dos quadros que evoca, é o traço dos escritores que jogam com estilo próprio, é a vigorosa característica dos mestres da prosa. Este dom de equilíbrio bem o revelastes naquelas páginas de sóbria beleza, eruditas e picturais, nas quais, sem as névoas da imaginação fértil que desluzem e esfumam os contornos dos quadros reais, descreveis o país dos nordestinos, situando-o com os verdadeiros tons da realidade cósmica entre o sertão fabuloso de Coelho Neto, cheio somente de solitários desesperos e o sertão lírico de Afonso Arinos, cheio de lianas verdes e do ácido perfume das flores silvestres.

O vosso apego às cousas da terra, este prazer de esmiuçá-las e de reproduzi-las, com afetividade, nas páginas dos vossos livros, vos levaria fatalmente à curiosidade, ao desejo de ir além, de pesquisar na tradição e nas heurísticas cousas e fatos tão mais distantes, que colorizaram a nossa história e dramatizaram a vida do homem, antes não alcançados, ainda, pelo raio projetante da vossa visão de artista. Daí o historiador em que, por fim, vos revelastes, de maneira talvez surpreendente para os que ainda não haviam atinado para os rumos indesviáveis que vos conduzia o sentido regionalista da vossa obra literária. E, no vosso caso, a história não roubou à arte o seu expoente, pois a história também é arte pelo sentido da expressão, pela revelação e avaliamento dos valores históricos quando evocados e identificados através de uma composição literária de perfeição estilística e de sabor artístico. Na antiguidade clássica, os gregos já pensavam assim e até opinavam que a própria filosofia, no mesmo sentido da expressão, devia guardar uma conceituação artística. A obra de Bergson, por exemplo, é uma obra de filósofo no conteúdo, e de artista na forma, o que, por igual, em relação à história, verifica-se em Taine, nas suas Origens da França Contemporânea, e em Macaulay, o imortal autor do Ensaio de Crítica Histórica. O que não fizeram eles – porque nem Taine seria autêntico historiador, nem Bergson autêntico filósofo – foi fantasiar a história e a filosofia com o objetivo de torná-las mais artísticas e mais agradáveis ao grande público.

Quando escrevestes os vossos livros de história – Clã dos lnhamuns e O Bacamarte dos Mourões, não vos afastastes destes conceitos, nem desdenhastes a vossa vocação artística, pois os fizestes também com o emprego de recursos estéticos, sem, no entanto, contrariar a regra de que, na reconstituição histórica dos fatos e das suas personagens, o que se deve ter em vista é o que eles representam realmente, e não o que, na simpatia e na imaginação do historiador, passam a ser idealmente. A vossa experiência literária no campo da historiografia é realmente afirmativa, especialmente porque também não incidistes na falsa concepção criadora dos autores de história e biografias romanceadas, nas quais a fantasia supera o conteúdo histórico e as suas obras, ao invés de representarem uma arte naquilo em que a expressão histórica pode ser artística, passam a ser simplesmente uma arte pelo aproveitamento do conteúdo estético que os fatos históricos possam encerrar. Nos vossos livros sobre história, ao lado da agudeza com que encarastes os assuntos, da perfeição da forma e do senso de humor, colocastes – mas em plano superior –,  os fatos em si mesmos com a honesta preocupação de não deformá-los, mas, ao contrário, de situá-los dentro da sua real perspectiva, da sua evidência e realidade. Para isso, graças a uma pesquisa paciente e a uma farta documentação valorizando datas, detalhes e episódios muitas vezes ainda ignorados, chegastes também a desfazer equívocos e fantasias, a destruir lendas e mitos radicados na tradição deturpada e no íntimo da credulidade fácil, reabilitando a verdade histórica pela revelação de fatos até então ignorados, com o que, além do mais, fizestes autêntica obra de revisionismo. Clã dos Inhamuns e O Bacamarte dos Mourões ganham, porém, maior dimensão quando, na verdade, situam-se dentro de um plano novo de revelação histórica, pela feição inédita do assunto que versam. Para os que os leram sem espírito analítico e interpretativo, poderão parecer simples e bem contadas histórias novelescas de façanhas, de tragédias e espoliações. Mas o que ali existe, na verdade, são autênticos e ainda não contados capítulos da história da nossa formação social, marcada, no seu início, de lutas e paixões, de individualismos e arrogâncias dos grandes e poderosos grupos familiares que senhoreavam a terra e assentaram nela a imensa base física do seu incontrastável domínio econômico e social. Certo, Capistrano de Abreu, o primeiro dos nossos historiadores a versar o problema da nossa formação social, traçou, em linhas gerais, a sua estrutura, dando-nos, em síntese, a sua visão panorâmica. Por outro lado, Oliveira Viana, versando o tema com mais profundidade e espírito científico, o encarou, porém, somente em face da sistemática das nossas instituições político-jurídicas e da sua relação com os fenômenos emergentes das formas disciplinadoras da vida civil e política das velhas elites agrárias e do povo-massa que a distância social lhes subordinara. Adotando critério sociológico inverso, Gilberto Freire fixou e analisou os aspectos variados da vida e dos costumes das velhas elites agrárias que se valorizaram socialmente em torno do engenho, desde os faustos até a decadência da Casa-Grande. Mas, até então, nenhum dos nossos historiadores se havia detido diante das grandes famílias que fundaram a sociedade brasileira, desses clãs em cuja cadeia rácica como que se percebe melhor a coesão das eras, a unidade consanguínea do Brasil que ajudaram a formar, construindo a sua casa patriarcal, devassando-lhes os sertões, alargando-lhe as suas fronteiras, disciplinando a sua vida coletiva. Como reagiram os colonizadores ante a pressão ecológica, para estender os limites sem fim do seu domínio sesmeiro, num sertão agressivo ainda ocupado pela indiada selvagens, como se organizaram os primeiros grandes grupos familiares, inter-relacionados pela endogamia e por interesses de domínio não raro conflitantes, como daí surgiram as lutas enraivadas ao golpe das adagas e ao estrondo dos bacamartes: como essas lutas repercutiram, envolvendo a comunidade toda, dividindo os clãs, gerando querelas e intrigas que se eternizavam no fermento dos ódios ancestrais – tudo isso que esbraseou a infância da nossa formação social, em algumas regiões do Brasil, com efeito, não fora ainda miudamente revelado. Coube-vos, sr. Nertan Macedo, iniciar esta tarefa meritória porque, antes de vós, não sei quem o tenha feito com tanto ineditismo, com minúcias tão ricas, com tanto realismo e impressividade como os que registam as páginas de Clã dos Inhamuns e O Bacamarte dos Mourões.

Se, como é evidente, a interpretação dos fenômenos históricos e sociais deve ser procurada na sociedade mesma nos valores que a integraram originariamente na evocação e análise dos fatos e das ações e reações que caracterizaram a acomodação e o comportamento dos grupos humanos no meio físico de sua fixação, nos processos associativos de vivência e inter-relação e nas instituições que criaram, com reflexos na vida social e política das gerações posteriores, – os vossos livros sobre a história dos clãs nos oferecem, agora, estas fontes e os elementos mais preciosos, indispensáveis aos estudos interpretativos da sociologia regional.

Toda a vossa obra literária, assinalada por sucessos tão relevantes, somada às vossas atividades jornalísticas, na Província e no Rio de Janeiro, onde fostes redator político e literário de muitos dos órgãos mais importantes e tradicionais da imprensa carioca, – constituem o justo garbo com que vos projetais no cenário das letras pátrias.

A Academia é como o grão de trigo que se renova sempre em outras vidas, à mercê e à graça dos outonos. Sois, sr. Nertan Macedo, uma destas novas vidas que aqui abrolham da perenidade fecundativa da semente maravilhosa, para a imortalidade do pensamento e da beleza. E, entre nós, não chegais de mãos vazias, mas, ao contrário, trazendo para o altar litúrgico do nosso culto, a grata oferenda de tantos frutos excelentes que já colhestes na seara das letras. E com eles, trazeis, igualmente, a chama viva de um ideal onde a arte e a inteligência florescem e irradiam para aumentar, ainda mais, as cintilações do espírito criador e o prestígio das letras acadêmicas, na mansão helênica das suas graças.

Ainda na ridente primavera da vida, quando os sonhos mais enfeitam as esperanças, sois, agora, por isso, o mais moço de todos nós, o Benjamin deste Cenáculo que assim vos recebe e saúda com os mimos mais afetivos que o caçula sempre disputa aos irmãos mais velhos.

Entrai, pois, sr. Nertan Macedo: a casa vos pertence.[89]

 

4.2 Discurso na íntegra de J. Lindemberg de Aquino, saudando a chegada de Nertan Macedo ao Instituto Cultural do Cariri - ICC

4.2.1 RECEBENDO NERTAN MACEDO NO INSTITUTO CULTURAL DO CARIRI[90] 

Escritor Nertan Macêdo,

Oportunidade única e sem par em minha vida, esta, a de saudar-vos, no instante em que ultrapassais as portas do Instituto Cultural do Cariri para vos sentar numa de suas cadeiras.

Não sei se os pensamentos que adiante se desenvolverão vão se coadunarem com a importância e o brilho desta solenidade e o sentido incomum desta cerimônia.

Se meu coração se enche de emoção, meu peito e meu ser se enchem de patriótico orgulho em ser o intérprete de todas as nossas venturas e alegrias ao receber-vos em nosso Instituto.

Porque, acima de tudo, sois um dos nossos, nascido num maio não muito distante sob a cálida brisa úmida que desce das quebradas do Araripe – a percorrer os verdes brejais molhados por fontes regadias, que emolduram a paisagem natural desta terra abençoada, nossa e vossa.

Vós tendes, portanto, direito adquirido, por imperioso naturalismo telúrico, de entrar nesta Casa e nela se instalar, tão bem soubestes engrandecer seu nome e tão bem soubestes representar o seu povo, por todos os recantos da nacionalidade!

Como – e de que maneira – pois, saudar aquele que já é entranhadamente nosso, que nunca foi um estranho e que, pela sua cultura, pelo seu renome e pelo seu amor à terra, já está definitivamente a ela vinculado?

Tarefa, ao mesmo tempo, fácil e ingrata!

O protocolo, porém, o exige.

O coração e a mente não reagem, não discrepam.

Enchem-se os dois de prazer e de orgulho, de entusiasmo e de satisfação – e por isso estou aqui e aqui me tendes frente a vós e frente a este auditório para desejar-vos as boas-vindas a esta Casa que também é vossa, e da qual, por força desse espartanismo próprio do cearense, estais distante há tantos anos, embora espiritualmente, celebrais sempre esta unidade de pontos de vista conosco na luta comum pela sua grandeza.

O Instituto Cultural do Cariri, pois, enche-se de festas e de luzes, de alegrias e de flores. É a noite da vossa chegada.

Pede o protocolo que sejam ditas palavras de vossa biografia oficial, nesta saudação. Direi, apenas, para não quebrá-lo:

 NERTAN MACÊDO DE ALCÂNTARA, filho de Júlio Teixeira de Alcântara e Corina Macêdo de Alcântara. Nascido em Crato, Ceará, a 20 de maio de 1929.

 E o resto?

O resto é claro e evidente! A curva ascensional de quem nasceu para vencer, um estudante brilhante, um jovem de valor, uma revelação da inteligência.

Quando daqui assistes, no verdor dos anos, cumprireis, de certo, o fado do nomadismo de nossa raça. Éreis um predestinado ao fulgor e ao brilho dos grandes centros da inteligência e da cultura nacionais.

Embora filho de terra de natureza esplêndida, que se farta de verde, tínheis, desde já, na alma, a missão histórica do cearense telúrico, que a força do destino empurrava para as grandes metas da vida.

Parsifal Barroso já disse, com muita propriedade, que “Não se deverá esquecer, entretanto, que antes de cumprir o fadário transregional, o cearense exercita e aprimora suas qualidades específicas, adquirindo a blindagem do espartanismo nativo, com a qual vencerá suas lutas, sempre em busca de uma segurança e de uma libertação”.

Foi o que vos aconteceu, cantor dos vaqueiros, dos sertões e dos místicos de nossa terra!

Se vencestes, é porque a couraça que vos envolvia tinha e tem a fibra do povo que cantais e tem a férrea resolução desta gente imortal do sertão bravio, que tornastes nacionalmente admirada.

Nertan Macêdo, poeta do sol e da luz!

Vaqueiro ilustre, na roupagem obrigatória de uma civilização de consumo.

Vaqueiro obrigado ao uso do paletó e da gravata quando o gibão de couro e a sela de montaria melhor lhe assentam!

Exprimido entre escritórios e apartamentos, saudoso do cenário natural que lhe é próprio, dos vastos campos e das vastas caatingas, onde aboia o vaqueiro á procura de uma res tresmalhada...

Cantor dos beatos e cangaceiros!

Novelista dos clãs imemoriais, que encheram com suas páginas de sangue, de heroísmo e de vingança, a paisagem social do sertão!

Inimitável prosador, poeta renomado, estudioso da gênese cearense, intérprete fiel e seguro de nossas guerras santas, guerras acompanhadas e assistidas de sóis inclementes, cangaços e misticismos...

Ninguém vos superou nessa dialética que exprime sertão e dor, drama e sangue, reza e fé, cânticos de morte e aboios dolentes – o capítulo imortal que as secas, no seu longo fadário, escreveram no sertão dorido, e que exigiam o intérprete adequado, como vós o fostes.

Citando, mais uma vez, o grande Parsifal Barroso, em seu livro  O cearense,  relembro quando ele diz que “a especialização cósmica da região cearense está à espera de uma exaustiva e sistemática investigação.”

Parece-nos – diz o ilustre intelectual – que, até agora, somente dois autores souberam ir ao encontro dos objetivos visados, paralelamente, pelos mestres Gilberto Freyre e Pompeu Sobrinho, focalizando a visão telúrica do palco ou cenário em que se desenrola, há séculos, o interminável prélio das vicissitudes cearenses. O primeiro, falecido antes que a Universidade Federal do Ceará publicasse sua excelente obra,  Notícias no povo cearense,  foi o notável escritor cearense  Yáco Fernandes.

O segundo, a quem toca a urgente missão de escrever a saga admirável do cearense, é Nertan Macêdo[CMeHr4] , o escritor mais enamorado das causas e dos seres que povoaram a caatinga desnuda e enxuta, e dos que ainda lutam em busca de uma segurança que os ajuste ao seu meio ambiente.

Através da vasta e importante obra de fixação dos lances mais dramáticos dessa luta áspera e desigual, sempre renovada, o autor de O padre e a beata demonstra como, através desse fadário, o sertanejo e sua gleba formam um conjunto, por força do estreito e vital liame que se estabeleceu entre os dois termos de estranho binômio e ainda se prolonga até nós.

Ninguém melhor do que o Mestre Parsifal poderia dizer o que se espera de vós, Nertan Macêdo. E temos certeza de que vós o fareis.

 Sede, pois, bem-vindo a esta Casa, onde encontrareis força, ânimo, apoio e decisão, para o cumprimento dessa meritória tarefa!

Aqui não se saúda neste instante, isoladamente, o emérito redator do  Diário de Pernambuco e do  Jornal do Comércio, do Recife, de larga temporada na Veneza Brasileira, se cujos usos e costumes se fez também cantor.

Não se saúda o poeta primoroso do  Acalanto, que é uma das obras-primas do verso, pela suavidade do estilo :

“Adormecei, amiga, adormecei

Urge adormecer, adormecei,

Colocai vossas mãos, assim, de leve,

Assim, de manso, colocai

Vossas mãos sobre as minhas,

Adormecei vosso corpo, adormecei...”

Não se saúda o poeta que cantou, tristemente, as alamedas do Cemitério de Santo Amaro do Recife, que sempre desejou visitar a tardinha,

“se brando for o vento e manso o ocaso”

e onde repousa o seu amigo, o Padre Antônio Fernandes, da Companhia de Jesus,

“Iazarino recurvo, metido na sua negra sotáina de jesuíta indiano, lembrando uma águia de bronze, alma lusitana, ardente de fé e submissão a Deus”,

ou o poeta que também cantou Canudos, onde

“O Conselheiro desce as montanhas de cinza, e abre, pelo arraial, caminho no ossuário, as órbitas de fogo incendiando o dia”.

Não se saúda, aqui, o jornalista do Recife e o poeta adolescente, não menos se saúda o jornalista adulto e bem informado, fazendo brilhante e invejável carreira na  Tribuna de Imprensa,  O Jornal, e  Jornal do Comércio, no Rio de Janeiro – e construindo, neles, as trincheiras das lutas sociais.

Não se saúda também só o grande escritor, que no fim dos anos 40 era a revelação da literatura brasileira.

O Nertan que já, então, era amadurecido espiritualmente.

O Nertan que, em 1949, surgia com o  Caderno de Poesia, da Editora A Noite,  com estrondosa repercussão. A poesia e o jornalismo já eram uma síntese brilhante do espírito daquele que ainda estava por revelar a mais varonil e curiosa de suas facetas – a de cantor dos sertões ásperos, duros e sofridos.

Em 1956, era o autor de Aspectos do Congresso Brasileiro e, em 1959, estreava com o Cancioneiro de Lampião, marco inicial dessa cadeia de livros sociológicos que sacudiria à literatura brasileira. O ano de 1960 nos trouxe o Nertan com o Rosário, rifle E punhal, seguindo-se 1961 com O padre e a beata e, em 1962, com O capitão Virgulino Ferreira, o Lampião.

O memorial de Vilanova vem de 1964 – depoimento autêntico do que fora a chacina de Canudos. Em 1965, editava O clã dos Inhamuns, para se seguir O clã de Santa Quitéria e O bacamarte dos mourões, e outras obras que seria fastidioso enumerar.

A crítica literária já o consagrara. Delem se ocuparam e sobre sua obra escreveram em artigos e ensaios: Jorge Amado, Anibal Machado, Otávio de Faria, Aderson Magalhães, Adonias Filho, Nilo Pereira, Raimundo Sousa Dantas, Plinio Salgado, Menotti dei Picchia, Mauro Mota, Aloisio de Carvalho, Emil Farah, Waldemar Cavalcanti, Willy Levy, Rui Santos, Brito Broca, Santos Morais, José Condé, Antônio Olinto, Fernando Mota, João Clímaco Bezerra, Eduardo Campos, Antônio Girão Barroso, Mozart Soriano Aderaldo, Fernandes Távora...

A Academia Cearense de Letras o recebeu em seu seio, no famoso “quarteto cratense” naquela Casa, que ele completava e que era composto por si, por Figueiredo Filho, por Martins Filho e Cursinho Belém, o último dos quais já não nesta vida. Álvaro Moreyra – o grande e inesquecível Álvaro Moreyra – o celebrizava, em sua crônica na Rádio Globo:

“Tarde linda, aquela em que Nertan Macêdo pôde assinar o CANCIONEIRO DE LAMPIÃO para tanta gente. Foi de coração que o “bandido poeta” chamado Nertan Macêdo, que tem também a sua Maria Bonita, chamada Maria Gessen, fez esse cancioneiro do povo, de poesia viva, com cheiro de chão, chão, outra palavra do sertão, cheiro de flor, cheiro de fruta. CANCIONEIRO DE LAMPIÃO, tão bem ilustrado por Bianco, precisa de uma edição popular, de cordel, para que ande de mão em mão, de sentimento em sentimento, de memória em memória. Grande poema, na verdade, Nertan Macêdo! Abro os meus braços para você, para a sua juventude, e lhe digo: poeta bom! poeta bom! Será pecado dar ao CANCIONEIRO o nome de Evangelho? Se for, já pequei...”

Mais tarde diria Valmir Ayala, falando sobre Rosário, rifle e punhal:

“Estamos diante de um trabalho documentado, fiel, simples, poético. Um trabalho que só encontra precedente, no gênero, no magnífico “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles”.

Não se saúda, aqui, portanto, a figura nacional do cratense, que tanto cresceu na admiração do povo, no prestígio das massas – com a sua série de livros de bolso — Cinco histórias sangrentas de Lampião – recorde de vendas no país.

Deixamos tudo de lado, só queremos receber, neste instante, o NERTAN, pessoa humana, simples e afável, autêntico, apreciador da água da Nascente e dos alfenins dos nossos engenhos, da bagaceira dos brejais, das histórias mal-assombradas da Serra do Araripe e da sua infância na Praça da Sé.

Os outros Nertans já pertencem ao Brasil todo.

Queremos receber aqui Nertan Macedo, menino travesso das ruas e becos do Crato antigo, o Nertan nosso, boa prosa, bom papo, “causer” admirável, dominando toda uma antologia do anedotário popular e dos sambas de Noel.

O Nertan que, mesmo com as características nacionais, permanece autêntico às suas origens. O fã do pequi e do doce de buriti, da mangaba e da ciriguela, dos doces, dos cheiros, das cousas do seu e do nosso Crato.

É ele que vem sentar-se ao nosso lado, por ser um dos nossos.

É o vaqueiro Nertan, cansado das lides da civilização, que procura no suave regaço do Instituto Cultural do Cariri o repouso para as canseiras da vida.

É a vós, vaqueiro Nertan, que saúdo e desejo as boas-vindas! Boas-vindas que traduzo nos abraços cordiais e nos sorrisos de alegria, estampados em todos os rostos, a alegria cordial, sincera e afetiva de todos os que fazem esta cidade, a vossa e a nossa cidade, a alegria de quem vos recebe neste instante, e vos dá passagem, e vos pede para sentar.

A alegria com emoção forte, com cheiro bom do mato do brejo, o carinho sincero e mais puro, para vos receber e vos impor esta imortalidade, no Instituto Cultural do Cariri, desta Cidade do Crato, Cabeça de Comarca, Coração do Cariri!

Sede bem-vindo, Nertan Macêdo![91]

______________________

(Palavras pronunciadas na sessão solene, do Instituto Cultural do Cariri, no auditório da Faculdade de Filosofia do Crato, na noite de 27.02.73, quando da posse do escritor NERTAN MACÊDO na Cadeira N° 17, desse sodalício, que tem como patrono João Brígido dos Santos).[92]

 

4.3 Discurso na íntegra de Nertan Macedo na solenidade de posse como membro do Instituto Cultural do Cariri – ICC

4.3.1 DISCURSO PRONUNCIADO PELO ESCRITOR NERTAN MACEDO[93] 

Meus Senhores,

A longevidade pode às vezes resultar num drama pessoal. Ezra Pound, um dos poetas maiores do nosso tempo, falecido há pouco, aos oitenta e sete anos, conheceu duras humilhações: foi mantido na prisão solitária de um acampamento militar na Segunda Guerra e, mais tarde, confinado como louco por treze anos, num hospital psiquiátrico norte-americano.

Não faz muito, Henry de Montherlant, uma das mais puras glórias do teatro e da literatura francesa, mergulhou, pelo suicídio, naquele “inferno privado” que foi também, em nossos conturbados dias, o de Ernest Hemingway.

Outro grande do nosso tempo, Charles Maurras, o teórico do nacionalismo integral, por ter vivido muito, e ainda talvez por ter sido fisicamente surdo, foi arrastado a um tribunal popular no após-guerra, uma corte odienta que pôs às avessas, aos olhos do mundo, a beleza e a intenção do seu pensamento de homem da França e da Provence, cheio de cintilações e degrecidade.

E que dizer do drama do marechal Pétain, vencedor de Verdum, condenado a pesada pena em sua velhice?

Revolta e comove, ao [MR5] mesmo passo que exibe as chagas da frágil condição humana. Sim, é grande e tantas vezes injusto o tributo que o homem paga por viver muito.

Essas reflexões, queridos e bons amigos do Crato, guardadas as proporções e o relacionamento devido vêm a propósito da longevidade do nosso extraordinário João Brígido, um dos patronos deste Instituto, sob cuja égide me acolhestes nesta Casa, para meu orgulho e satisfação. Mas, se o nosso fabuloso cronista viveu muito, pródiga de acontecimentos lhe foi a existência, conforme o testemunhou em seus numerosos escritos.

Jáder de Carvalho, a voz mais alta e bela da poesia do Ceará, ao organizar a Antologia de João Brígido, pintou dele um retrato definitivo.

Relendo a introdução do mestre à Antologia, ocorreu-me o contraste entre o juízo que a posteridade fez de João Brígido e de outros cearenses de talento, como Quintino Cunha. O autor de “Pelo Solimões” ficou ao anedotário popular; e as histórias e lendas que correm a seu respeito quase sempre não fazem justiça ao homem criador e culto que ele foi. A imagem do excessivo boêmio sempre me pareceu mais exagero do que fato real. De qualquer modo, ele terá sido, como tantos do seu tempo, vítima do meio ambiente provinciano, modorrento e sem perspectivas, a que faltava tudo ou quase de tudo para a realização de uma obra séria e duradoura. O poeta viveu num Ceará de quase nenhuma oportunidade. Recordá-lo é vê-lo sempre numa mesa de café a dizer piadas ou a escrever versos satíricos. Quem já pensou na solidão de Quintino ou de José Albano, que viveram na Europa e acabaram condenados a mover-se na direção de um horizonte que não ia além da Praça do Ferreira?

João Brígido é diferente. Deus, Nosso Senhor, deu ao velho panfletário e cronista o privilégio de ser um animal informático, numa época em que não se ligava muita importância ao dia a dia, tampouco, ao passado. Não me consta, nem pude verificá-lo nos admiráveis trabalhos que sobre ele escreveram Hugo Catunda, Joaquim Alves, Leonardo e Orlando Motta, H. Firmeza e Gomes de Mattos, para não mencionar outros, como os de Cruz Abreu, R. Ribas, Antônio Drumond e Adília Nunes Freire, que o meu admirado patrono neste Instituto fosse alguém capaz de jogar a sua saúde pela janela, queimando a alma e o corpo em noitadas. Brígido tinha hábitos morigerados. Sempre em casa, cercado de familiares e correligionários ou no jornal, a redigir os seus magníficos memoriais de acontecimentos, fatos, usos, costumes passados.

Foi um homem profundamente tocado pelo amor e pela curiosidade da vida, dos homens e das coisas que o rodearam desde a infância. Possuía em alto grau o instinto de testemunhar sobre seus semelhantes.

Permitam-me recordar: João Brígido, criança ainda, quando vem das suas origens capixaba/fluminense para o Ceará, é mimado por Pinto Madeira, no Recife, onde se demora com a família.

Conhece o Crato, respira, mora, estuda, aprende e luta aqui no Cariri, quando todo o nosso vale era um mundo perdido, um reduto de politiqueiros e caudilhos à moda antiga, depois da Independência: cenário de intrigas e contendas ferozes, dominado pelos bacamartes e cacetes dos “cabras” dos engenhos do pé da serra – o tempo mesmo em que nasce o Padre Cícero, patriarca dos Sertões.

Entra a fundo nas tricas e futricas da terra, no Crato, na Barbalha, onde quer que o convocasse a paixão política que vem da sua mocidade.

É o bicho político por excelência. O liberal, o ativista, o demandista facioso, tão à maneira do tempo, tão Ceará, tão Império, tão Brasil.

Vê tudo, vê todos que os rodeiam. Integra-se. Participa. Clama. Elogia. Ataca. Fere. Mas não esquece o passado...

Em meio ao turbilhão, os olhos da sua alma se voltam para o antigamente. que viu. O que sentiu. O que lhe deixou no corpo e na alma as marcas mais sensíveis.

Se já na vida pública, conhece o senador Thomás Pompeu de Souza Brasil, ainda menino sentara nas pernas do caudilho Pinto Madeira, um monarquista rebelde. Um dos seus amigos de infância, com quem quase morre afogado num banho de poço, no Quixeramobim, estripulia que também fiz muitas vezes no nosso antigo e saudoso poço das Piabas, nos tempos de Cleto Milfont, é um menino esperto e endiabrado, chamado Antônio Vicente. Nem mais nem menos do que o futuro Antônio Conselheiro, o bronco profeta que inspiraria Euclides da Cunha. A vida, tão avara para outros, sempre pródiga para João Brígido, suprindo-o com dilatados anos e muitos acontecimentos...

Esse político, esse cronista, esse militante da verrina, que tudo via e escutava com interesse, tem sido acusado mais de uma vez de escrever mal. Tem sido também incriminado, pelos catadores de piolho, de não respeitar certos fatos e, sobretudo, datas. Julgamento do qual nem de longe participo.

Era João Brígido um autodidata, sim, mas quanta graça, quanta verve, quanta espontaneidade em muitas das suas páginas, particularmente as de memórias que, para mim, constituem uma das delícias da nossa literatura nativa!

Brígido era um estilista a seu modo, à maneira de um conversador cheio de vivacidade e interesse. Mordaz no comentário e na crítica, nem por isso deixava de ser verdadeiro. Não me espantam no velho patrono as ideias que eram de um modo geral, as do seu século. Liberal, agnóstico, progressista, sempre atento aos destinos da nossa província, refletiu sobre tudo e todos: a Proclamação da República, a maçonaria, as viagens do Presidente Afonso Pena, a emancipação dos escravos, o senador Pinheiro Machado, a carestia de vida, o nosso pessimismo, a liberdade, o inverno, o clero, o comércio, a seca, os dízimos, a genealogia dos partidos, a emigração, o combustível', o porto do Mucuripe, o canal do São Francisco, o casamento religioso, a estrada de ferro de Baturité, a açudagem, as barragens subterrâneas, o analfabetismo, o divórcio, o pan-americanismo, o jogo, os nossos “bons, burros e bravos” ancestrais, os imóveis, a exportação, - tudo quanto lhe foi dado assistir, ou rememorar...

E coisa extraordinária: conservando-se monarquista, ele, que fora, no Império, um liberal, um não católico e um progressista, acreditando na ciência e na técnica como o maior instrumento da emancipação econômica, não se fez republicano quando da adesão geral ocorrida no País, após a queda de Pedro II.

O Imperador, ele o conhecera, nos seus dias áureos, quando eleito deputado, geral do. Ceará. Tinha pelo monarca o respeito e a veneração de um autêntico súdito. Louvou-o sempre, como o faria também ao genro, o Conde d’Eu, de quem foi companheiro de viagem na única visita feita ao Ceará pelo marido da Princesa Isabel.

É que a longa vivência com a terra, seus hábitos, problemas, bem como com os nossos antepassados, impediu João Brígido de render-se incondicionalmente às ideias que professava em política, e filosofia, desenraizadas da realidade.

Talvez pelo seu amor à terra cearense e aos que a semearam com a sua carne e o seu sangue, ele, inconscientemente, professou a lição de Barrés, de que a verdade social, humana, espiritual e até mesmo política de um povo está na sua íntima convivência com o chão e os seus mortos.

Aí reside, a meu ver, algo que eu chamaria de “sábia contradição” do velho mestre e panfletário. Sua longevidade não se transformou em tragédia porque a sua maneira ágil e plástica de atuar fê-lo não um acomodado, mas um amoldável, sem quebra dos seus compromissos e das suas ideias.

Não renunciou à fidelidade monárquica, mas nem por isso se sentiu na obrigação de abandonar o campo, alijando-se da participação na República, sufocando a vocação eminentemente política. Não virou as costas aos novos tempos, não se tornou um solitário, um frustrado, face às instituições criadas pelo 15 de novembro.

Voltou à liça, com a mesma vontade de dizer, de brigar, de contrariar, de narrar, de criticar. Ganhava e perdia. Mas, perdendo ou ganhando, fazia da longa existência a ação que o seu temperamento inquieto necessitava continuamente.

Meus amigos,

 Sou grato, de coração, ao meu querido Padre Gomes, aos meus caros Figueiredo Filho e José Newton Alves de Sousa e aos outros não menos caros companheiros do Instituto Cultural do Cariri, por esta acolhida tão amável e generosa.

Persegue-me, há tempos, o remorso de não ter ainda tomado posse desta cadeira. Deus sabe, porém, porque não o tinha feito preocupações e trabalhos que me assoberbam no Rio de Janeiro, onde resido.

Mas aqui estou. Para dizer do prazer e da honra que sinto neste momento, em sentar nesta Casa como um dos seus membros efetivos. Graças aos senhores, estou mais uma vez pisando a terra do Crato. E pode haver maior felicidade para quem, como eu, nasceu aqui?

Muito obrigado a todos.[94]

 

4.4 Discurso na íntegra de Nertan Macedo na solenidade de posse como membro do Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Goiás - IHGEG

 

Em seu discurso, Nertan Macedo chama a atenção para a importância do Planalto Central, representado por ele como região de encontro dos brasileiros e traçando paralelos culturais entre Goiás e o Nordeste, onde nasceu, situando em seu discurso o papel do Estado na formação brasileira. Nertan Macedo é empossado às 21 horas de 22 de outubro de 1976.[95]

“Euclides da Cunha tinha razão: o sertão é o homizio. E Goiás é o homizio do meu coração profundamente agradecido”, disse Nertan ao concluir seu pronunciamento. “O sertão é o homizio”. Esta curta, seca definição, aprendida há tantos anos em Euclides da Cunha, tem soado aos meus ouvidos pelo tempo afora como a mais patética, sinfônica, autêntica, pura síntese do papel que, em nossa formação brasileira, exerceram ao longo de quatro séculos os vastos e desertos plainos interiores deste grande País [...].[96]

 

4.4.1 DISCURSO EXALTA GOIÁS NA FORMAÇÃO BRASILEIRA[97]

 

Senhores: — Um cearense do Crato, que viu a luz primeira às brandas flutuações dos canaviais do seu longínquo vale do Cariri, encravado nas lindes dos sertões de dentro do Nordeste, vem de longe, de tão longe, abrigar-se hoje à sombra ilustre deste Instituto Histórico, que aninha em seu seio o que de mais egrégio, sóbrio e intelectualmente responsável esplende na jovem cultura goiana — tão antiga e tão moderna — para repetir aqui uma imagem literária muitas vezes já mencionada.

Goiás é uma das primeiras, fortes, recônditas lembranças da minha infância.

Eu era menino, no Crato, quando ali chegavam as boiadas de zebu, tangidas daqui à minha província, através da Bahia e do Piauí, a fim de racear o nosso rebanho, ainda muito dominado pelo “pé-duro” dos tempos coloniais. Então, na pracinha da Sé da minha cidade natal, um simples campo em forma de quadro, coberto de capim, areia e algumas mangueiras, eu ouvia, com os olhos deslumbrados, a história desse gado e desses vaqueiros que haviam atravessado centenas de léguas e vinham de tão longe para revigorar a mais antiga e nobre atividade do sertanejo cearense – a pecuária – fundamento de toda a civilização coureira que a minha raça, o meu pobre e grande povo plantou, para sempre, naqueles magros desertos, que Deus pincelou de cinza e azul e fez brilhar sobre eles um sol igual ao tão forte e belo como o que vejo nas manhãs e tardes deste Planalto Central.

Sol que é de Goiás e do Ceará. Que ilumina o meu coração nas horas de tristeza, alegria e, também, de sonho e saudade. Sol todo meu, a retemperar minha alma e esse corpo já um tanto cansado, mas não curvado, pelas agruras e decepções da vida.

Eu diria: Goiás é um dos remotos da minha vida. E outra recordação aqui me obrigo – e de que muito me orgulhava na meninice – era uma vaga alusão a uns meus parentes do lado paterno, os Alcântaras, que tinham vindo do Ceará e fincado raízes em Goiás (em Catalão, se não me engano), nunca mais retornando aos pagos natais. Assim uma reminiscência de infância e uma migração familiar atiçaram em meu espírito curiosidade e carinho por esta terra. E essa curiosidade e esse carinho não me têm abandonado, porém sido antes acrescidos, desde que vim morar em Brasília, como servidor público, há cerca de dois anos e meio.

Sou um enamorado da geografia goiana. Poucas, porém, quase nenhuma, e assim confesso, ligações históricas pude estabelecer, nas minhas pesquisas, entre o Ceará e o vosso grande e rico Estado.

Goiás, ao sul, é, pelos seus rios tributários do rio Paranaíba, formador do Paraná, integrante da bacia platina. Confluentes no extremo, dois outros grandes rios gêmeos, o Araguaia e o Tocantins, fazem-no também integrante da bacia amazônica[MR6] . Existe, aliás, uma diferença bem nítida entre o Goiás do Sul e do Norte. O Goiás sulino termina na Chapada dos Veadeiros, na Serra do Paraná, nas cabeceiras do Tocantins. E o mais rico, o mais densamente povoado, berço histórico do Estado, do Goiás antigo, com maior número de cidades. Campos cerrados e formações matosas dão seu fácies botânico. Seus rios procuram o Paranaíba, o Paraná, o Prata.

Já o Goiás do Norte é marcado pelas terras que se estendem do belíssimo Araguaia, com quem tenho alguma intimidade, à Serra Geral de Goiás ou do Espigão Mestre, pela Chapada das Mangabeiras, e que o separa da Bahia e do Maranhão, tendo ao meio a espinha dorsal do Tocantins, este (como o Araguaia) com dificuldades do aproveitamento à navegação – devido às corredeiras, itaipavas do tupi: trechos altamente declinados desses rios, águas escachoando entre pedras ou mesmo por pedras d’água, cachoeiras numerosas; população esparsa, pouco densa, também poucas e pequenas cidades – o Goiás do Coronel Abílio Wolney e dos seus jagunços. Transmuda-se aí a fisionomia da paisagem vegetal. Passa-se dos cerrados aos cocais os babaçuais que o iguala ao Maranhão e parte do Piauí, pela presença maciça dessas palmeiras, cuja exploração extrativa é uma das suas riquezas.

O que fraterniza na verdade Goiás com os sertões nordestinos, tanto ao Norte como ao Sul, é o pastoreio.

O início do povoamento pelo sul coube ao bandeirismo paulista. Aos dois Bartolomeu Bueno, pai e filho, um dos quais, segundo a lenda, e a fim de forçar os índios a dizer onde encontravam pepitas de ouro, queimou um pouco de aguardente – e os selvagens assombrados logo ficaram intimidados, julgando que ele poderia da mesma maneira queimar a água dos rios – lenda a que se liga o apelido de Anhanguera. Pertencia à Capitania de São Paulo, dela destacada como Capitania Geral em 1744, com capital na antiga Vila Boa, o simplesmente Goiás de hoje, elevado à cidade juntamente com Cuiabá, em 1818. Foram as duas últimas cidades criadas no Brasil pelo colonizador português, antes de 1822, da separação de Portugal, tendo sido governadas por altos e emproados fidalgos lusitanos. De um deles, que figura na nobiliarquia brasileira, com o título de Marquês de São João da Palma, consta ter ficado numerosa descendência bastarda em terras goianas. A informação é do Visconde de Taunay em seu livrinho intitulado Goiás.

Recordo agora um grande presidente de Goiás ao tempo da Guerra do Paraguai. Foi Ernesto Ferreira França, a quem se deve a organização de uma brigada goiana, que se uniu aqui aos mineiros e paulistas que marchavam para Mato Grosso, coluna esta que chegou até Laguna poucas léguas a dentro do Paraguai e daí bateu em retirada, dando origem ao episódio militar de que se ocupou em livro famoso o mesmo Visconde, Alfredo d’Escragnolle Taunay, então jovem oficial de engenharia e participante da referida coluna.

Os bravos goianos incorporados ficaram, em consequência das perdas que sofreram, reduzidos ao 20° Batalhão de Infantaria, comandados por um valente e imperturbável baiano, o Major Joaquim Ferreira Paiva, que terminou seus dias de vida tranquilamente na poética cidade de Ilhéus, terra de Jorge Amado e sua Gabriela. E berço natal de Crispiniano Tavares, o iniciador do conto literário em Goiás, segundo pesquisas do nosso eminente colega Basileu Toledo França.

Seria bom chamar a atenção para o significado do Planalto Central, no que ele representa, de encontro dos brasileiros, talvez o exemplo mais marcante a ser apontado no contexto nacional. E ressaltar a presença de troncos familiares portugueses que aqui também vieram frutificar: os Távoras e os Frotas. Gostaria de chamar a atenção para a figura de José Manuel Antunes da Frota, cirurgião-mor, o primeiro a escrever uma Memória Estatística de Goiás (parte publicada em O patriota de Lisboa), ligado ao mesmo tronco genealógico dos Frotas de Sobral (e seus primos que estão arrolados como os primeiros povoadores de Meia Ponte (hoje Pirenópolis).

O mesmo se diga da presença da literatura cearense, traduzida, sobretudo, na figura de José de Alencar, acentuando a influência que a produção alencariana exerceu sobre várias gerações goianas. Bastaria atentar para o levantamento bibliográfico do antigo Gabinete Literário de Goiás, já realizado, o que testemunha o grande prestígio de que desfrutou o autor de Ubirajara, não somente durante o período romântico, mas pelas décadas a fora, numa demonstração convincente do quanto se apreciou e se aprecia ainda o que em tão boa hora nos transmitiu a sensibilidade nordestina, através de seus melhores porta-vozes, ou seja, os seus escritores.

Aqui gostaria de rememorar um cearense: Lourenço Alves de Castro Feitosa. Filho dos sertões dos Inhamuns, de uma das mais poderosas famílias patriarcais da minha terra, era acadêmico de Direito no Recife quando rebentou a Guerra do Paraguai. Empolgado pela vibrante propaganda de Castro Alves, alistou-se como voluntário. Dizem que sem o consentimento paterno. Lourenço, pelos azares da vida militar, acabou incorporado ao 17° Corpo de Voluntários da Pátria, um batalhão de mineiros. O jovem acadêmico muito se distinguiu na campanha do Paraguai, ascendendo a alferes e a tenente comissionado. Jogado nesse batalhão de mineiros, o estudante aventureiro seguiu até a Vila das Dores do Rio Verde, a antiga Vila das Abóboras, hoje a importante cidade de Rio Verde, capital regional do sudoeste. Dali foi incumbido de seguir para Cuiabá, o que o impediu de tomar parte na Retirada da Laguna. É ele o único dos meus conterrâneos que se rastreia historicamente perto desse fato. Reza a tradição familiar dos Feitosa que Lourenço, ao retornar à casa paterna, nos Inhamuns, levou uma surra do pai, a despeito das suas façanhas, por haver se alistado e feito a guerra sem o consentimento prévio do velho patriarca. Deliciosas coisas do tempo...

E, curioso destino: essa coluna vinha de São Paulo, sob o comando do Coronel Manoel Pedro Drago. Em Uberaba uniu-se à brigada mineira, que vinha de Ouro Preto, sob o comando do Coronel José Antônio da Fonseca Galvão, de troncos rio-grandense do norte, pernambucano e alagoano. José Antônio era tio de Deodoro da Fonseca, irmão do pai do proclamador da República. Sabem mais quem era esse mesmo José Antônio? Está nos curiosos registros do grande historiador e polemista cearense, João Brígido, patrono da cadeira que tenho a honra de ocupar no Instituto Cultural do Cariri, sediado na minha cidade do Crato e que há anos edita regularmente uma das melhores revistas culturais do sertão brasileiro – a revista Itaytera.

Era esse mesmo José Antônio o famoso major Pastorinho, que 40 anos antes, em 1824, prendera Frei Caneca e outros rebeldes da Confederação do Equador, remetendo-os para o Recife, onde foram supliciados.

Quando Drago se retirou, José Antônio comandou a coluna e foi morrer em Mato Grosso, na travessia do Pantanal, junto ao Rio Negro. Seus filhos, ambos oficiais – generais do Exército Imperial foram o Barão do Rio Apa e o Visconde de Maracaju. Este o último ministro da Guerra do Império, a quem Deodoro saudou corretamente, ao entrar na sala do Ministério, no dia 15 de novembro de 1889, com estas breves e amáveis palavras: “Como vai, primo Rufino?” – Naquela sala estava reunido o último gabinete de Pedro II, o gabinete Ouro Preto.

Taunay é quem nos revela ainda outro nordestino, um rio-grandense do norte, cujo destino se ligaria também a Goiás. Falo de Antônio Florêncio Pereira do Lago, que, banhado de elogios pelo visconde-escritor-soldado, vai, depois da Guerra do Paraguai, explorar o Tocantins e o Araguaia. Traçou o visconde a biografia desse seu colega e companheiro de armas. Publicou também o excelente relatório de sua exploração dos rios mencionados, considerando-o tão notável neste campo quanto o de Couto de Magalhães, que desceu o Araguaia quando exercia a presidência de Goiás. A proteção do Visconde do Rio Branco, em 1872, fez de Antônio Florêncio, aos 29 anos de idade e moço, capitão de engenharia, deputado geral por Goiás. O fato é narrado por Taunay em suas memórias, dizendo da emoção de Antônio Florêncio no dia em que tomou posse do mandato. Foi após a missa de praxe, rezada naquele tempo, a chamada missão do Espírito Santo, velha tradição herdada das Monarquias europeias com que se abriam as Cortes, os Estados Gerais, as Dietas das Monarquias Católicas, extinta depois do cataclismo revolucionário de 1789.

Permitam-me, nesta altura, uma palavra sobre o Instituto do Ceará – o Instituto Histórico Geográfico Antropológico do Ceará – ao qual tenho a honra de pertencer, na qualidade de sócio correspondente. Faço-o com o simples intuito de torná-lo melhor conhecido deste plenário ilustre, que me acolhe tão distintamente. Foi fundado – 12 foram os seus fundadores – em 1887. E a chamada Casa do Barão de Studart. Do notável erudito Guilherme Studart, filho de um inglês e uma cearense, barão pela Santa Sé, e que foi o maior escavador de documentos na história regional de todo o Brasil. Sua herança à posteridade cearense: 30 mil documentos, que a família deixou estragar, e dos quais o Instituto do Ceará logrou salvar 6 mil. O Instituto do Ceará, irmão deste de Goiás, publica ininterruptamente, desde 1887, notável revista, cujo índice foi paciente e beneditinamente organizado por esse brilhante e severo historiador brasileiro, meu amigo José Honório Rodrigues. Dentro de 13 anos, a Revista do Instituto do Ceará completará 100 anos. Minha província natal é assim a que tem a sua história mais bem aprofundada no Brasil, sob todos os aspectos: política, militar, administrativa, econômica etc.

Consintam-me outra breve palavra sobre a Academia Cearense de Letras, com suas 40 vagas, e da qual sou titular do número 7, cujo patrono é Clóvis Beviláqua. Fundada a 15 de agosto de 1894, é a mais antiga do País, anterior mesmo à Academia Brasileira de Letras, com uma revista que já está com inúmeros tomos.[98]

 

5. OUTROS APONTAMENTOS

 

5.1 Sérvulo Esmeraldo – Nertan Macedo[99]

 

Sérvulo Esmeraldo. Bom e doce menino do Crato. Meu companheiro de infância. Mais moço do que eu e o Armando, a quem não vejo há mais de trinta anos.

Sérvulo do Crato, Sérvulo de Paris, Rua de La Marne, 38 Neuilly, Plaissance, oficial gravador em França. Quem diria?

Éramos três. Sérvulo, Armando e eu. E sobre nós pairavam as diáfanas e protetoras de um anjo – tia Lourdinha Esmeraldo –, que nos ensinou a bem querer o bem, com sua bondade, sua solicitude, seu carinho de sua segunda mãe.

Hoje, tantos anos passados, recordo esse menino Sérvulo Esmeraldo – Sérvulo do Crato – Sérvulo de Paris –, que escolheu a França para oficina da sua arte vitoriosa de gravador emérito, de consumado artista, brasileirinho do Cariri, vindo ao mundo, nos pés do Chapadão do Araripe e que conhece a intimidade das galerias europeias, norte-americanas e do Rio de Janeiro.

Simples, modesto, dinâmico. Nos dias da infância, era o mais calmo e calado de nós três, esse artesão medieval que a França nos arrebatou, levou para muito longe, considerou e consagrou.

Não era o Crato da nossa meninice um pequeno trecho perdido naquela idade de ouro, cheia de misticismo e artesanato?

Onde quer que esteja, com sua sorte, sua esplêndida habilidade manual, sua poesia, seu coração, suas gravuras maravilhosas, Sérvulo é um dos nossos como foi Antônio Bandeira. Em Paris, em Nova York, no Rio e nesse recanto de Ouro Preto, que a teimosia e o idealismo de Ignês Fiúza mantêm aberto ao gosto e sensibilidade dos cearenses.

Eu me orgulho do companheiro fraterno de meninice no Crato. Um orgulho que é meu e do qual, estou certo, participamos todos nós, nascidos nessa dura e querida terra do Ceará.[100]

5.2 Nertan Macedo: o dia em que o Padre Cícero viu um avião pela primeira vez[101]

 

Há pouco, num almoço de conterrâneos meus, no Leme, um deles me perguntou:

"Você sabia que há cinquenta anos chegava ao Crato, sua cidade natal, no Ceará, o primeiro avião?”

Dei uma resposta evasiva, como quem não era assim tão ignorante do assunto mas, na verdade, a pergunta do patrício cearense não me saiu mais da cabeça.

Fiquei um tempão calado, ruminando a lembrança. Pois, tinha eu quatro anos quando tal fato acorreu. E recordo até hoje os pormenores da maior festa que, em criança, vi na minha terra natal: era o povo esperando o primeiro avião que chegava ao Crato, no vale do Cariri.

O piloto, por sinal, era um cratense, meu tio o agora Major-Brigadeiro José Sampaio de Macedo, que lá ainda reside. Seu companheiro de aventura um outro jovem tenente que seria mais tarde ministro da Aeronáutica, Nelson Lavanère-Wanderley.

No meio da multidão, com seus noventa anos de idade, um sacerdote famoso em todo o sertão: o Padre Cícero Romão Batista. Meu tio José inaugurava a rota do São Francisco, penetrando o vale do Cariri, até Fortaleza, a voar sobre as caatingas de Minas, Bahia e Pernambuco. Era o tempo da epopeia do Correio Aéreo Nacional, obra imperecível ligada ao Brigadeiro Eduardo Gomes. No meio da multidão, o Padre Cícero. E eu, com meus pais, irmãos, primos e tios. Recordo o porre comemorativo de Cleto, no cinema do meu tio Moisés, uma figura muito popular na minha cidade, goleiro de futebol nas horas vagas. E me revejo cinquenta anos depois, no meu orgulho infantil de sobrinho do desbravador da ponte aérea Rio-Fortaleza, inaugurando a chamada “rota do São Francisco”.

 

O VELHO BRIGADEIRO

O Brigadeiro Macedo voltou mais tarde ao Crato, já reformado, para semear as terras que foram do meu avô, o coronel Cazuza. Fabrica, no seu engenho do Brejo, a única aguardente erudita do Brasil, marca Teimosa, e assim considerada por exibir, no rótulo, uma citação de Euclides da Cunha tirada de “Os Sertões”.

Num livro “A epopeia do Correio Aéreo”, escrito por um velho jornalista, José Garcia de Souza, encontro, além de antigas fotografias, alguns fatos pitorescos da vida do meu tio que, desembarcando na Base Aérea de Fortaleza, que o então coronel Macedo comandava, empertigou-se todo para cumprimentá-lo:

— Senhor Comandante, bom dia. Sou Prado. Prado ... de São Paulo.

E o coronel – aviador, nascido no sertão, alisando o bigode, a responder com tranquila ironia:

— Pois muito prazer, sr. Prado, sou Macedo, Zé Macedo, do Crato.

O SERTANEJO

As façanhas do Brigadeiro são ainda hoje recordadas na FAB.

Seus conterrâneos na antiga Arma da Aviação, do Exército, apelidavam-no “o sertanejo”. Muitos, porém, conhecem-no por Zé do Crato, assim chamado por causa do paulistano fidalgo e desavisado. Seu amor pelo sertão não é fingido. Poderia ter sido, como muitos dos seus colegas de carreira, um homem público eminente, mas tudo desprezou para retornar, Major-Brigadeiro reformado, ao seu engenho e terras no verde vale do Cariri.

Leio, a propósito, no referido livro de Garcia, publicado há tantos anos, que, simples cadete, o velho Brigadeiro já gostava de dizer aos companheiros:

"Sou descendente, filho legitimo de uma pacata família de agricultores do Crato. Descambei para a carreira das armas enquanto, como dizia Euclides, os demais se prendem à terra pelo vínculo nupcial do sulco dos arados”.

Meu tio é assim mesmo. Basta dizer que, um dia, quando era capitão, pediu licença ao Ministro da Guerra e foi “comissionado” oficial da Polícia baiana, pelo seu colega e amigo Juracy Magalhães, governador do Estado na época.

Macedo sonhava uma coisa bem a seu estilo: dar combate a Lampião. Embrenhou-se no mato, oficial saído da Escola Militar de Realengo como um mero comandante de "volante” – e foi ao encontro de Lampião e seu bando, num dos piores homízios do rei do cangaço: [MR7] o Raso da Catarina. Naquele deserto, trocaram tiros, tendo meu tio voltado dos combates de mão abanando. Em compensação, brindou-o Lampião com uma bala no pé. Ele é muito cioso dessa bala do rifle bandoleiro.

Em resumo: um velho aviador militar, cujas memórias poderiam, se escritas, ser das mais curiosas e fascinantes da história dos anos 30. Tenho morado no Rio e, também, nos Estados Unidos, o velho Brigadeiro ama o seu canavial, o seu gado, a sua plantação. Detesta a grande cidade, a megalópoles. Um dia, na pracinha do Crato, perguntei-lhe à queima-roupa:

— Mas, meu tio, como é que o senhor, homem educado e vivido nos grandes centros, veio terminar morando aqui no Crato? E ele:

— Imagine que eu já estou me enfarando do Crato. O Crato está muito crescido e eu acabo indo me embora pro Bodocó...

Bodocó é uma cidadezinha do sertão, perto do Crato, na fronteira do Ceará com Pernambuco, do outro lado da chapada do Araripe.

Hoje, com certeza, já bastante pesteada de TV em cores e outras misérias.

Certa vez, servindo na Base Aérea de Fortaleza, avisou o Brigadeiro a um velho sertanejo que lá trabalhava:

— Vou ao Quixeramobim, mas volto para almoçar.

E o espantado tabaréu, pensando nas muitas léguas que separavam Fortaleza da cidade natal de Antônio Conselheiro, observou ao meu tio:

— Ai, "seu” tenente, esse mundo velho está mesmo “incuiendo!”

O velho queria dizer – “encolhendo”. O mundo estava diminuindo. Ficando cada vez melhor. Tornando se a famigerada aldeia global.[102]

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nertan Macedo avultou, foi além de seu tempo, fazendo parte daquela geração que era de tudo, escritor, historiador, poeta, jornalista... A capacidade de perscrutar vários caminhos por meio de sua habilidade na escrita é constatada na juventude e aperfeiçoada ao longo de sua vida. Ademais, toda sua capacidade de articulação lhe proporcionou inúmeras oportunidades profissionais ao longo de sua carreira.

Observamos também a importância de Nertan Macedo para a historiografia nordestina, sem dúvidas, seu talento natural colaborou sobremaneira para enaltecer ainda mais a cultura e a identidade sertaneja, trazendo a lume, em seus escritos, a memória de lutas, conquistas, resiliência e obstinação.

Todo esse talento certamente não passou despercebido, reconhecido através dos títulos e honrarias acadêmicas que lhe foram outorgados de forma justíssima, fatos que constatamos nos discursos supracitados, ressaltando, nesse ínterim, sua versatilidade na oratória em seus afamados discursos.

Outrossim, digno de reverência é este ateneu ao entrepor em sua estrutura acadêmica a cadeira n° 33, denominando-a como patrono Nertan Macedo, esse ilustríssimo nordestino, cratense, que, em suas visitas in loco, investigou fontes que pudessem subsidiar suas considerações sobre o alto sertão, desbravou os Inhamuns e descreveu os feitos de seus antepassados na história, revelando-nos em O Clã dos Inhamuns.

REFERÊNCIAS

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[1] É graduado em História pela Universidade de Santo Amaro – UNISA, historiador (CRP: 0000132/CE), professor, cristão, membro-fundador da Associação de Pessoas Com Deficiência de Tauá – APCD – Tauá, arte-finalista, assessor de produção literária, capista e diagramador. E-mail: banner.paulocesar@gmail.com - http://lattes.cnpq.br/6833852266569409

[2] A atribuição do sobrenome Macedo (sem acentuação) se aplica a estrutura textual em concordância com a grafia utilizada para informar o nome do autor em suas obras ou citações, embora algumas utilizem o sobrenome Macêdo (com acento). Na grafia de registro de nascimento deduzimos que o sobrenome Macêdo utiliza o acento, conforme verificamos na escrita dos sobrenomes de seus irmãos.

[3] CÂMARA, José Bonifácio. 5ª PARTE: Transcrições. In: CÂMARA, José Bonifácio. NERTAN MACEDO: (Uma bibliografia). Academia Cearense de Letras-ACL: [s. n.], 1992. cap. V, pp. 189-192. Disponível em: https://www.academiacearensedeletras.org.br/revista/revistas/1991_92/ACL_1991_1992_32_Nertan%20Macedo_(Uma%20bibliografia)_Jose_Bonifacio_Camara.pdf?fbclid=IwAR3C79C-tAfnXDixnskpiVywW6X_K6NVIBmyavnP5zRLC4amklx4ZdV2Doc. Acesso em: 4 out. 2021, p. 189.

[4] CRATO, Prefeitura do. Dados do município. In: MACEDO, Nertan. O Município: dados do município. [S. l.], 2021. Disponível em: https://crato.ce.gov.br/omunicipio.php. Acesso em: 11 set. 2021.

[5] O POVO, Jornal. Denizard Macêdo, "O inesquecível intelectual", nascia a 100 anos: Licínio Nunes de Miranda. O POVO, Fortaleza, 2 set. 2021. CIDADES, p. 15.

[6] DENIZARD, José. DADOS Genealógicos. Destinatário: Joaryvar. Fortaleza, 3 mar. 1973. Carta.

[7] Relato fornecido por Licínio Nunes de Miranda, via Messenger, em setembro de 2021.

[8] MACEDO, Nertan. Transcrições: 5ª parte. In: MACEDO, Nertan. UM CAVALEIRO DA TRADIÇÃO. Fortaleza: [s. n.], 1988. p. 230-238. Disponível em: http://www.ceara.pro.br/acl/revistas/revistas/1987_88/ACL_1987_1988_40_Um_cavaleiro_da_tradicao_Nertan_Macedo.pdf. Acesso em: 4 out. 2021.

[9] Relato fornecido por Licínio Nunes de Miranda, via Messenger, em setembro de 2021.

[10] ibidem.

[11] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 189.

[12] Ibid.

[13] O POVO, Jornal. Morre no Rio o escritor cearense Nertan Macedo. O POVO, Fortaleza, p. 5-A, 31 ago. 1989.

CEARÁ, loc. cit., Acesso em: 11 set. 2021.

[14] CEARÁ, Portal da História do. 1001 Cearenses Notáveis-F. Silva Nobre. InNERTAN MACEDO de Alcântara. [S. l.], 2015. Disponível em: http://portal.ceara.pro.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2720&catid=293&Itemid=101. Acesso em: 11 set. 2021.

[15] O POVO, op. cit., 1989, p. 5.

[16] CEARÁ, op. cit., Acesso em: 11 set. 2021.

[17] O POVO, op. cit., 1989, p. 5.

[18] MURILO MARTINS, José. POETAS DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS. InOs Membros da Academia Cearense de Letras de ontem: Nertan Macedo. Web Site da Academia Cearense de Letras, 2009. Disponível em: http://www.ceara.pro.br/acl/Academicosanteriores/NertanMacedo.html. Acesso em: 11 set. 2021.

[19] ibidem.

[20] WILKIPÉDIA, A enciclopédia livre. Nertan Macêdo. InNertan Macêdo. [S. l.], 12 jul. 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Nertan_Mac%C3%AAdo. Acesso em: 11 set. 2021.

[21] MURILO MARTINS, op. cit., 2009.

[22] CATUNDA, Hugo. CADEIRA Nº 7. [S. l.], [1966]. Disponível em: http://www.academiacearensedeletras.org.br/revista/Colecao_Antonio_Sales/Falas_Academicas/ACL_Falas_Academicas_25_CADEIRA_N_7_Recipiendo_Hugo_Catunda.pdf. Acesso em: 12 set. 2021. pp. 300 – 301.

[23] É possível que esta nomenclatura esteja equivocada, pois não há um Instituto Histórico do Cariri, através de várias pesquisas e contatos com pesquisadores da região, não se confirmou tal existência; é possível que a fonte esteja se referindo ao Instituto Cultural do Cariri – ICC, no qual Nertan Macedo ocupou a cadeira n° 17, do patrono João Brígido (CARIRI, 1977, p. 4.).

[24] CEARÁ, op. cit., 2015.

[25] CARIRI, Instituto Cultural do. ITAYTERA. 17. ed. Crato/Ceará: [s. n.], 1973, pp. 34 e 39.

[26] ibidem, p. 151.

[27] (CARIRI, 1977, pp. 151 – 152).

[28] CEARÁ, Revista do Instituto do. Datas e fatos para a história do Ceará: EFEMÉRIDES (1988 - 1989). [S. l.s. n.], 2020. Disponível em: https://www.institutodoceara.org.br/revista/Rev-apresentacao/RevPorAno/2008/11-Efem_DataseFatos.pdf. Acesso em: 11 set. 2021, pp. 241-242.

[29] O POVO, 1989, p. 5.

[30] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 189.

[31] O POVO, op. cit., p. 5.

[32] VASCONCELOS, Marly. NERTAN MACEDO. In: VASCONCELOS, Marly. NERTAN MACEDO. Academia Cearense de Letras-ACL: [s. n.], 1992. p. 175. Disponível em: https://www.academiacearensedeletras.org.br/revista/revistas/1989_90/ACL_1989_1990_26_Nertan_Macedo_Marly_Vasconcelos.pdf?fbclid=IwAR2Wju3Wm-2wWnaW90wFDM_vBdzcl-Lt_m-g0S-HPRe96pqRc59koRBFf_U. Acesso em: 4 out. 2021.

[33] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 190.

[34] Ibid.

[35] MACEDO, Nertan. O Clã dos Inhamuns: (Uma família de guerreiros e pastores das cabeceiras do Jaguaribe). 3. ed. Rio de Janeiro: Renes, 1980, p. 2.

[36] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 190.

[37] VIRTUAL, Estante. Caderno de Poesia: Nertan Macedo de Alcântara. [S. l.], 2021. Disponível em: https://www.estantevirtual.com.br/livrariamachadodeassis/nertan-macedo-de-alcantara-caderno-de-poesia-2876916842?show_suggestion=0. Acesso em: 11 set. 2021.

[38] MACEDO, O Clã dos Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.

[39] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 190.

[40] MACEDO, O Clã dos Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.

[41] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 190.

[42] COSTA, Marcelo Farias. O Teatro Cearense em Síntese. [S. l.], [----]. Disponível em: https://www.sesc.com.br/wps/wcm/connect/3c89489a-08b4-4588-a3a8-c9a3c30b5d80/O+Teatro+Cearense+em+Sintese+-+Marcelo+Farias+Costa.pdf?MOD=AJPERES&CONVERT_TO=url&CACHEID=3c89489a-08b4-4588-a3a8-c9a3c30b5d80. Acesso em: 12 set. 2021, p. 04.

[43] MACEDO, O Clã dos Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.

[44] CÂMARA, op. cit., 1992. p. 190.

[45] COSTA, loc. cit., Acesso em: 12 set. 2021, p. 04.

[46] MACEDO, O Clã dos Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.

[47] CÂMARA, op. cit., 1992. p. 190.

[48] MACEDO, O Clã dos Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.

[49] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 191.

[50] SKOOB, SKOOB. Lampião: Capitão Virgulino Ferreira. [S. l.], 2021. Disponível em: https://www.skoob.com.br/livro/13245#_=_. Acesso em: 11 set. 2021.

[51] MACEDO, O Clã dos Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.

[52] CÂMARA, op. cit., 1992. p. 191.

[53] MACEDO, O Clã dos Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.

[54] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 191.

[55] MACEDO, O Clã dos Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.

[56] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 191.

[57] MACEDO, O Clã de Santa Quitéria: (Memória histórica sobre vaqueiros políticos e eruditos). 2. ed. Rio de Janeiro: Renes, 1980, p. 7.

[58] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 191.

[59] Ibid.

[60] MACEDO, O Clã dos Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.

[61] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 191.

[62] MACEDO, O Clã dos Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.

[63] Ibid.

[64] Ibid.

[65] CÂMARA, op. cit., 1992,  p. 191.

[66] MACEDO, O Clã dos Inhamuns, op. cit., 1980,  p. 2.

[67] CÂMARA, op. cit., 1992,  p. 191.

[68] MACEDO, O Clã dos Inhamuns, op. cit., 1980,  p. 2.

[69] CÂMARA, op. cit., 1992,  p. 192

[70] MACEDO, O Clã dos Inhamuns, op. cit., 1980,  p. 2.

[71] CÂMARA. op. cit., 1992,  p. 192

[72] MACEDO, O Clã dos Inhamuns, op. cit., 1980,  p. 2.

[73] CÂMARA, op. cit., 1992,  p. 192

[74] Ibid.

[75] Ibid.

[76] MACEDO, O Clã dos Inhamuns, op. cit., 1980,  p. 2.

[77] (MACEDO, 1980, p. 7).

[78] Grifo do autor.

[79] FREITAS, Antônio Gomes de. Inhamuns Terra e Homens: Coleção Recontar. 1. ed. Tauá: Mandacaru, 2008. 216 p. v. 1, p. 19.

[80] Ibidem, p. 13.

[81] (MACEDO, 1980, p. 123).

[82] Ibid. op. cit., 1980, pp. 123 – 124.

[83] Grifo do autor.

[84] FÓRUM, Revista. 32. Lampião, o Rei do cangaço: direção de Carlos Coimbra (1964). In: MACEDO, Nertan. Uma lista de 65 filmes para entender o Brasil disponíveis no YouTube. [S. l.], 2020. Disponível em: https://revistaforum.com.br/debates/uma-lista-de-65-filmes-para-entender-o-brasil-disponiveis-no-youtube/. Acesso em: 11 set. 2021.

[85] Grifo do autor.

[86] COSTA, loc. cit., Acesso em: 12 set. 2021,  p. 04.

[87] CÂMARA, op. cit., 1992,  p. 192.

[88] CATUNDA, loc. cit., Acesso em: 12 set. 2021,  p. 300.

[89] CATUNDA, op. cit., pp. 300 – 310.

[90] Transcrição na integra do texto da revista ITAYTERA do Instituto Cultural do. Cariri. 17. ed. Crato: [s. n.], 1973.

[91] CARIRI, op. cit., 1973,  pp. 35 – 39.

[92] Ibid., p. 39.

[93] Transcrição na íntegra do texto da revista ITAYTERA do Instituto Cultural do. Cariri. 17. ed. Crato: [s. n.], 1973.

[94] Ibid. 1973,  pp. 39 – 42.

[95] CARIRI, op. cit., 1977,  p. 151.

[96] CARIRI. 1977,  p. 152.

[97] Transcrição na íntegra do texto da revista ITAYTERA do Instituto Cultural do. Cariri. 21. ed. Crato: [s. n.], 1977.

[98] CARIRI, op. cit., 1977,  pp. 152 – 158.

[99] Transcrição na íntegra do texto da revista ITAYTERA do Instituto Cultural do. Cariri. 17. ed. Crato: [s. n.], 1973.

[100] CARIRI, 1973,  p. 210.

[101] Transcrição na íntegra do texto da revista ITAYTERA do Instituto Cultural do. Cariri. 28. ed. Crato: [s. n.], 1984.

[102] CARIRI, Instituto Cultural do. ITAYTERA. 28. ed. Crato/Ceará: [s. n.], 1984,  pp. 117 – 118.


O FATÍDICO 12 DE JUNHO DE 1883

  Por Paulo César Silva [1] Nesse dia, o Juiz de Direito da Comarca da Vila de São João do Príncipe, Dr. José Balthazar Ferreira Facó, sui...