segunda-feira, 26 de setembro de 2022

PARABÉNS, MARRECAS. PELOS SEUS 165 ANOS!

Por Paulo César Silva[1]

A povoação de Marrecas foi elevada a condição de distrito por meio da Lei Provincial nº 831, de 22 de setembro de 1857. O referido distrito está localizado em um dos primeiros locais alcançados pelos colonizadores dos Inhamuns, sendo as primeiras concessões de sesmarias datadas de 1717 à José de Almeida Vieira (Riacho das Cacimbas) e aos sesmeiros Luiz Coelho Vidal e Manuel Coelho Vidal (Riacho das Onças), vindo, posteriormente, se estabelecer pela região o famigerado clã dos Carcarás.

No local foi erguido, como de costume no período colonial, uma capela dedicada a Jesus, Maria e José por volta de 1717, tendo duas hipóteses sobre seus edificadores, uma atribuída a senhora Márcia de Oliveira, filha de um dos primeiros povoadores; outra, descrita por Raimundo Girão, atribuindo ao senhor Manuel Cândido Pereira a fundação da dita capela. A referida igreja tornou-se patrimônio tombado pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural do Estado do Ceará (COEPA) e pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de Tauá, está inserida desde 2016, no calendário de turismo religioso cearense, através da Lei nº 16.047 de 28 julho de 2016.

Para além disso, o referido distrito teve destaque nas questões que envolveram o período escravista, recebendo escravos fugitivos, empregava-os como trabalhadores livres, sendo o local denominado como “Carcarasal dos Inhamuns”. No âmbito político, abrigando os conservadores Carcarás, esses se opuseram a hegemonia dos liberais integrados pela família Feitosa.

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Fonte: LIMA, João Álcimo. Anotações Históricas dos Distritos de Tauá. Fortaleza: Caminhar. 2020.



[1] É graduado em História pela Universidade Santo Amaro (UNISA), Historiador e membro titular da Academia Tauaense de Letras (ATL).

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

15 DE SETEMBRO DE 1970: O DECLÍNIO

 


LEI Nº 9.397, de 15 DE SETEMBRO DE 1970.

Extingue o Município de Cococi e dá outras providências.

 

Lamentavelmente, o declínio do vigoroso município iniciou em 15 de setembro de 1970 (na verdade, alguns anos antes, como verão adiante) através da publicação da Lei Estadual nº 9.397, publicada na página 8279 do Diário Oficial do Ceará, ponto culminante desse retrocesso. Conforme exposto na Lei supracitada, Cococi é então anexado ao município de Parambu como simples distrito.

Segundo consta, tal retorno se materializou por supostas irregularidades administrativas em relação à utilização dos recursos do Fundo de Participação Municipal (FMP), cometidas no período da última gestão 1967-1970 do então Exmo. prefeito Eufrásio Alves Feitosa, “Major Feitosa” no que se refere à prestação de contas do município, embora o parecer apresentado na publicação do Diário Oficial da União de 9 de setembro de 1971 estabeleça certa ambiguidade no que tange aos apontamentos de irregularidades .

Segundo Manuelina Duarte, Cococi tem uma historicidade extraordinária e avassaladora como a paisagem que lhe rodeia, vindo a sucumbir através das descobertas de irregularidades pelo poder federal. Ela acrescenta que o município nunca possuiu terras próprias, mas as verbas públicas foram utilizadas para levantamento topográfico do então prefeito Eufrásio Alves Feitosa sob a justificativa que tais delimitações tinham a intenção de doar essas terras a gleba municipal.

Dantas, citado por Manuelina, relata em seu artigo: "O Tribunal de Contas da União, acolhendo Parecer do Ministro Amaral Freire, solicitou ao Ministro da Justiça que intervenha no município de Cococi, Ceará, cuja área se confunde com a fazenda do prefeito e seus familiares, onde são aplicados todos os recursos recebidos pelo ‘município fantasma’. (...) A única propriedade na ‘sede do município’ que não pertence a (sic) família, é um terreno doado ao Estado, para uma escola isolada, cuja construção, embora terminada (mas não entregue pelo Estado), ainda não foi utilizada e se encontra em ruínas, ameaçando desabar [...]."

Corroboram-se aos fatos as investigações historiográficas a rigor, trazidas à lume com a relação público/privado na criação do município. Há fontes que esclarecem que, como o antigo município não deixou rastros de terras públicas ao retornar à condição de distrito, abordando novas narrativas, ratificando ou refutando as referências já evidenciadas.

Segundo Aécio Feitosa, o declínio da pujante cidade se deu por puro jogo político, questões partidárias destruíram a estrutura administrativa. O êxodo foi inevitável. Hoje, do tão próspero e rico passado só sobraram ruínas e duas resilientes famílias.

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SILVA, Paulo César. Cococi no Sertão dos Inhamuns : uma breve história do século XVIII ao XXI / Paulo Cesar Silva ; Tauá, CE : Ed. do Autor, 2021.

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

OS INHAMUNS E A CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR


Por Paulo César Silva[1]

Ainda sobre os desdobramentos pós-independência, em 1824, o Ceará era comandado por Pereira Filgueiras, contudo, houve uma ruptura de Filgueiras com o Império, por conta de Pedro I ter escolhido para o cargo de presidente da província o militar Pedro José da Costa Barros. Preterido, Filgueiras, desafiando as ordens do imperador, decidiu se aliar a revoltosos pernambucanos favoráveis à criação de uma república. O movimento, ficou conhecido como Confederação do Equador, por alguns meses exerceu controle sobre o Nordeste do Brasil em insubordinação a Pedro I. 

Nos Inhamuns, coube ao Coronel João de Araújo Chaves, a contragosto, representar os Inhamuns no novo governo, entretanto, quando a criação vacilante dos republicanos começou a ruir, O Coronel Chaves voltou-se contra o governo ao qual havia jurado lealdade e, acompanhado pelo Major José do Vale Pedrosa, (este que marchou com suas tropas para o Icó em defesa de Pedro I), hastearam a bandeira do império nos Inhamuns..

O Coronel João de Araújo Chaves não somente escapou ao destino que tiveram as lideranças republicanas do Ceará, dos quais, a maioria foram assassinados ou executados, bem como assumiu um papel de maior relevância no governo monarquista, sendo nomeado comandante militar da vila do Icó, e, antes do final da referida década, foi indicado comandante das forças militares do Ceará.

 

Referencias: 

CESÁRIO, Luciano. Há 200 anos, independência do Brasil acirrou disputa política no Ceará: Governo provincial do Ceará reconheceu oficialmente a emancipação mais de dois meses após a proclamação da independência por Dom Pedro I. Fortaleza, 5 set. 2022. Disponível em: https://mais.opovo.com.br/reportagens-especiais/200-anos-de-independencia/2022/09/10286659-ha-200-anos-independencia-do-brasil-acirrou-disputa-politica-no-ceara.html#.YxJkNRh56-o.whatsapp. Acesso em: 5 set. 2022.

CHANDLER, Billy Jaynes. Os Feitosas e o Sertão dos Inhamuns; a história de uma família e uma comunidade no Nordeste do Brasil - 1700-1930, Tradução de Alexander F. Caskey e Ignácio R. P. Montenegro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.

FREITAS, Antônio Gomes de. Inhamuns (Terra e Homens). Fortaleza. Editora Henriqueta Galeno. 1972.



[1] É graduado em História pela Universidade Santo Amaro (UNISA), Historiador e membro titular da Academia Tauaense de Letras (ATL).

terça-feira, 6 de setembro de 2022

INFANTARIA DOS INHAMUNS NA BATALHA DO JENIPAPO

                                 

 Por Paulo César Silva[1] 

Neste 07 de Setembro de 2022, o Brasil comemora 200 anos de sua independência desde o “Grito do Ipiranga”, marco simbólico da emancipação do Brasil em relação a Portugal. A resistência, liderada por meio do então príncipe regente dom Pedro I não era homogênea entre as províncias brasileiras, Pará, Piauí, Bahia e Maranhão, por exemplo, mantiveram-se fiéis a Corte Portuguesa.

No Ceará, a Independência só foi reconhecida pelo governo local dois meses após sua proclamação, dada a dificuldade de comunicação entre as províncias. Naquele período, o Ceará era comandado por uma “junta provisória” com status de governo provincial.

A ruptura com a metrópole, desencadeou algumas revoltas pelas províncias brasileiras com movimentos contra a independência, principalmente no norte do país. Entre elas, a famigerada Batalha do Jenipapo ou Guerra de Fidié onde, cearenses e maranhenses, se juntaram ao povo do Piauí para lutar contra resistentes tropas portuguesas lideradas pelo Major João José da Cunha Fidié.

Entre a resistência brasileira estavam, o Coronel João de Araújo Chaves e o Capitão/Major José do Vale Pedrosa (filho único do capitão-mor) chefes das tropas dos Inhamuns, oferecidas pelo capitão-mor José Alves Feitosa para serem enviadas ao Piauí em auxílio a Pedro I, sendo aceito, foram com 300 praças de cavalaria, marchando em direção a Campo Maior, chegando em Valença no dia 1º de março de 1823 e dali partiram para a ribeira do Jenipapo aos 13 do mesmo mês para tomar parte naquela sanguinolenta batalha.

Os conflitos se iniciaram após terem sido descobertas as intenções do comandante das tropas portuguesas: manter a região sob o domínio português para abafar os movimentos de independência que se desenvolviam na área. Os brasileiros então decidiram impedir que a sedição dos portugueses fosse realizada e travaram uma luta entre o Império do Brasil e o Reino Unido de Portugal e Algarves. Nesse interim, estavam de um lado, brasileiro simples, lavradores, artesãos, escravos, roceiros, vaqueiros, etc. Enquanto do lado português haviam soldados bem treinados, bem armados e a cavalo, diz Abdias Neves: "E só a loucura patriótica explica a cegueira desses homens que iam partir ao encontro de Fidié quase desarmados.".

Óleo sobre tela, arte pictórica de
 "Artes Paz" retratando o conflito

A batalha do Jenipapo é conhecida como uma das mais cruéis batalhas realizadas no solo brasileiro, muito pelo fato da fragilidade em que se encontravam as forças brasileiras nessa peleja, cerca de 200 foram mortos e outros 542 foram feitos prisioneiros por Portugal, enquanto 116 portugueses morreram e 60 ficaram feridos, entre os quais estavam homens comandados pelo Coronel João de Araújo Chaves. Durante os combates que se intensificaram, houve um encontro entre os homens comandados pelo Capitão/Major José do Vale Pedrosa e uma coluna piauiense, ambas nacionalistas, porém, não se identificando, abriram fogo, uma contra outra, trazendo maiores baixas. 

Tombaram homens de ambos os lados, contudo, Fidié conquistou vitória aparente apesar de perder parte de sua bagagem de guerra, foi se acampar a um quilômetro de Campo Maior, na fazenda Tombador.

No entanto, os filhos dos Inhamuns se mantiveram comprometido com as refregas, desde o inicio até a rendição das tropas de Fidié em 31 de julho de 1823 no improvisado Forte da Taboca, em Caxias, no Maranhão onde piauienses e cearenses o cercaram e fizeram que ele se rendesse, entregando suas onze peças de canhões, sendo coagido a cessar fogo.

Por fim, enaltece o ato de bravura da Infantaria inhamunhense o Brigadeiro Manuel de Sousa Martins, Presidente da Província de São José do Piauí por meio do Capitão/Major José do Vale Pedrosa: << ...veio da Província do Ceará aonde hé morador para esta – comandando Cento e sincoenta prassas em auxílio à Cauza da Independência e Império do Brasil e com melhor conducta Civil e Militar, e firme adesão à mesma Cauza, dezempenhou todas as ordens que lhe foram dirigidas athé que os inimigos encantonados no morro da TABOCA se renderão as tropas Imperiais >> (Dos INÉDITOS do Barão de Studart).

 

Referencias: 

CHANDLER, Billy Jaynes. Os Feitosas e o Sertão dos Inhamuns; a história de uma família e uma comunidade no Nordeste do Brasil - 1700-1930, Tradução de Alexander F. Caskey e Ignácio R. P. Montenegro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.

CESÁRIO, Luciano. Há 200 anos, independência do Brasil acirrou disputa política no Ceará: Governo provincial do Ceará reconheceu oficialmente a emancipação mais de dois meses após a proclamação da independência por Dom Pedro I. Fortaleza, 5 set. 2022. Disponível em: https://mais.opovo.com.br/reportagens-especiais/200-anos-de-independencia/2022/09/10286659-ha-200-anos-independencia-do-brasil-acirrou-disputa-politica-no-ceara.html#.YxJkNRh56-o.whatsapp. Acesso em: 5 set. 2022. 

FREITAS, Antônio Gomes de. Inhamuns (Terra e Homens). Fortaleza. Editora Henriqueta Galeno. 1972.

INTERNET, Eureka. A história da guerra: Conheça detalhes da história desta guerra sangrenta. [S. l.], 5 set. 2022. Disponível em: http://batalhadojenipapo.pi.gov.br/a-historia-da-guerra/. Acesso em: 5 set. 2022.



[1] É graduado em História pela Universidade Santo Amaro (UNISA), Historiador e membro titular da Academia Tauaense de Letras (ATL);

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

19 DE AGOSTO É O DIA DO HISTORIADOR


"A função do historiador é lembrar a

sociedade daquilo que ela que esquecer."

(Peter Burke)

Por Paulo César Silva 


O Dia Nacional do Historiador é comemorado anualmente em 19 de agosto. Essa data tem o objetivo de homenagear os profissionais que se dedicam a estudar e conhecer sobre a história das civilizações e comunidades.

A criação do Dia do Historiador foi oficializada a partir do Decreto de Lei nº 12.130, de 17 de dezembro
de 2009. A escolha do dia 19 de agosto é uma homenagem a Joaquim Nabuco (1849- 1910), nascido nesse dia, em Pernambuco. Um dos grandes historiadores do país e um dos responsáveis pela fundação da Academia Brasileira de Letras.

Vale destacar que, recentemente, os historiadores tiveram sua atividade regulamentada no ano de 2020, através da Lei 14.038/2020.

Segundo Marc Bloch (1886-1944) estudar a História não era estudar o passado, mas estudar ação humana ao longo do tempo e do espaço. Estudar a humanidade vivendo em sociedade, desenvolvendo linguagens, conhecimentos, tecnologias, Estados, culturas etc. Bloch também chama a atenção ao esclarecer que os historiadores devem “saber falar, no mesmo tom, aos doutos e aos estudantes”. Lucien Febvre (1878 – 1956) diz que a história é "uma resposta a perguntas que o homem de hoje necessariamente se põe.” Esses homens, foram grandes precursores da historiografia problematizada ou história-problema. Abandonando métodos positivistas de se fazer história (história dos heróis) voltaram-se para o todo, para a compreensão do processo histórico ao longo do tempo e a intervenção humana nesse meio, fundando a famigerada Revista dos Annales (1929-1989).

É conhecido de todos que o ofício do historiador passa, ao longo do tempo, por ataques constantes, seja pela negação, pelo desprestígio ou pela coação, pois, trazer a lume, os fatos ocorridos ao longo do tempo, nem sempre é visto com “bons olhos”, Eric Hobsbawm (1917-2012) dizia que: “[Os historiadores] são os memorialistas profissionais do que seus colegas-cidadãos desejam esquecer”. Falar de processos históricos são, por vezes, “indigestos”. Sendo assim, é dever do historiador se manter fiel ao fazimento histórico. Separar o “joio do trigo” é um dever!

Ademais, o revisionismo histórico, através de suas “novas narrativas historiográficas” camufladas de “verdade”, bem como as problemáticas Fake News, espalham desinformação e distorção dos fatos através das redes sociais. Não obstante, lançamos novos olhares sobre a historiografia, porém isso não ocorre por mera “opinião” do escritor, é notório que as novas tecnologias, por exemplo, permitem novos meios para pesquisas, ampliando o campo de análise documental, com isso, atores e fatos históricos saem do anonimato para o protagonismo por meio desse fazer.

Enfim, olhamos para o passado, com os olhos do presente, pois é nele que vivemos e nos relacionamos, como disse Lucien Febvre (1878 – 1956) “Assim eles [historiadores] atuarão sobre sua época.” o historiador é um sujeito que pertence ao seu tempo. Entretanto, evitamos transportar valores de um tempo para o outro, voltamos para o passado, buscando compreender o presente, para então, melhor interpretá-lo.

Parabéns historiadores(as), sigamos!

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PAULO CÉSAR SILVA é natural de Cruzeiro/SP, mudou-se para Campo Grande/MS aos três anos de idade, onde morou até o ano de 2016, quando mudou-se nesse mesmo ano para Tauá/CE, local em que reside atualmente. É graduado em História pela Universidade Santo Amaro (UNISA); membro titular da Academia Tauaense de Letras (ATL); membro fundador da Associação de Pessoas Com Deficiência de Tauá (APCD/Tauá); historiador; escritor; cristão; arte-finalista; assessor de produção literária; capista, e diagramador.

O FATÍDICO 12 DE JUNHO DE 1883

  Por Paulo César Silva [1] Nesse dia, o Juiz de Direito da Comarca da Vila de São João do Príncipe, Dr. José Balthazar Ferreira Facó, sui...