sábado, 26 de janeiro de 2019

COMO É O PROCESSO DE CHAMAR UM PASTOR.

por PR. KENNETH WIESKE

  • Ofício e vocação
Em primeiro lugar, devemos deixar claro o que a Bíblia nos ensina sobre o caráter do pastorado. Não é uma carreira qualquer; é uma vocação. O ministro da Palavra e dos Sacramentos é um homem separado pelo Espírito Santo, através da legítima eleição da Igreja de Cristo, para o ofício. Após a ordenação, ele passa a ser ministro. A palavra “ministro” significa “servo”. O pastor é ministro da Igreja, ministro de Cristo, ministro do evangelho. Ele não constrói uma carreira; ele não procura “subir na vida” por meio de procurar igrejas cada vez maiores ou mais importantes. Muito pelo contrário, o ministro fiel vai aonde o Mestre o envia. O Mestre chama o ministro para seu ofício pela Igreja, e pela Igreja envia o ministro para o seu campo de trabalho (Rm 10.15; At 13.2,3; veja também artigo 31 da Confissão Belga).
  • Preparação para o chamado

  • A comissão
Uma Igreja sem pastor, normalmente aponta uma comissão do Conselho para investigar quais os ministros que poderão ser chamados. A comissão, às vezes, inclui alguns irmãos que não são oficiais, mas que são reconhecidos por sua sabedoria, piedade e compromisso com Cristo. Essa comissão pesquisa sobre os pastores da confederação. Normalmente, por respeito às outras Igrejas da confederação, não é cogitada a possibilidade de chamar um pastor que tem menos de três anos de serviço na sua Igreja atual. Também é levado em consideração os dons, talentos e pontos fortes dos possíveis candidatos, comparando o perfil de cada um com as necessidades da Igreja que o irá chamar.
Sobre este último ponto, devemos tomar cuidado. Todo pastor que serve às Igrejas fielmente, que prega Cristo crucificado, deve ser um bom candidato. Porém, às vezes, tem alguma característica especial na Igreja que o irá chamar, que torna um pastor mais idôneo do que o outro. Por exemplo, na Igreja Reformada da colônia holandesa em Unaí-MG, um pastor que tem algum conhecimento da língua holandesa, certamente teria preferência, pois assim, ele poderia mais facilmente pastorear as pessoas mais velhas.
A “Comissão de chamado”, normalmente lê ou ouve sermões dos pastores. Também fala com membros e oficiais da Igreja em que o pastor está servindo atualmente, para ter uma ideia de como ele cumpre com os deveres do seu ofício.
  • A participação da congregação
A congregação não deve ficar fora do processo da busca de um candidato. Conforme a prática da Igreja desde a época apostólica, a congregação está muito envolvida no processo de escolher novos oficiais. Vemos isso em Atos 1, quando a Igreja escolheu Matias para substituir Judas Iscariotes, e de novo em Atos 6, quando a Igreja escolheu os primeiros diáconos. A congregação deve receber oportunidade para sugerir nomes de possíveis candidatos, entregando esses nomes ao Conselho, ou verbalmente, ou por meio de carta. É recomendável que os membros coloquem as razões pelas quais estão considerando o nome proposto como um bom candidato para o ministério nesta Igreja.
  • A assembleia geral
Quando a “Comissão de chamado” tiver feito seu trabalho de pesquisa, apresenta um relatório ao Conselho, propondo o nome de um pastor para ser chamado. Algumas Igrejas Reformadas escolhem dois nomes para apresentar à congregação; outras apresentam apenas o candidato que o Conselho considera mais indicado.
O conselho convoca uma assembleia geral da congregação. É uma reunião do Conselho com a congregação, portanto, é necessário lavrar uma ata para registrar tudo o que acontecer. Na assembleia geral, o Conselho apresenta à congregação o(s) candidato(s). A “Comissão de chamado” apresenta um relatório sobre o pastor. Esse relatório ajuda a congregação a conhecê-lo melhor.
Um sermão escrito ou gravado pode ter sido distribuído antes da reunião, ou a congregação pode ouvir juntos uma gravação de uma pregação recente do pastor.
Depois de abrir oportunidade de fazer perguntas e comentários edificantes, o Conselho chama a congregação a votar. A votação para eleger oficiais é uma prática desde o tempo dos apóstolos (At 14.23) e também foi a prática da Igreja primitiva. Nos primeiros séculos, depois de Pentecostes, antes de a Igreja de Roma começar a dominar as demais Igrejas, a prática sempre era que os ministros da Palavra fossem eleitos pela congregação. É essa prática bíblica, apostólica e histórica que confessamos, a qual está registrada no artigo 31 da Confissão Belga:
“Cremos que os ministros da Palavra de Deus, os presbíteros e os diáconos devem ser escolhidos para os seus ofícios mediante eleição legítima pela igreja, com oração e em boa ordem, como estipula a Palavra de Deus”.
  • O chamado
Depois da eleição, o Conselho da Igreja se reúne. Se a congregação votar em favor do nome chamado (indicado), o Conselho envia, em nome da Igreja, uma carta para o pastor que está sendo chamado.
  • A carta de chamado
O Conselho envia uma carta explicando por que a Igreja está chamando o pastor. A carta contém informações sobre a história, tamanho e situação da Igreja. Também explica a necessidade de a Igreja ter um pastor pregador. Na última página da carta, o Conselho inclui informações sobre o sustento adequado que a Igreja promete ao pastor, conforme a instrução da Palavra de Deus (1 Co 9.13,14). Por via de regra, o pastor deve receber o suficiente para que possa se dedicar ao trabalho do seu ofício sem muitas preocupações, e para que possa cuidar de suas necessidades básicas, bem como as de sua família. Geralmente, a Igreja oferece ao pastor um sustento suficiente para ele ter moradia, transporte e recursos de estudo para cumprir o seu chamado. O sustento do pastor não deve deixá-lo rico, nem pobre. Normalmente, um valor que reflete a média dos salários dos membros é suficiente para o pastor viver uma vida digna. Nas congregações mais pobres, às vezes é necessário o pastor receber acima da média, pois ele pode ter muitos custos para exercitar a hospitalidade (1 Tm 3.2), para manter comunicações com suas ovelhas e colegas, e para se deslocar para fazer visitas e participar nas assembleias gerais das Igrejas. Na hora de avaliar o custo do sustento do pastor, devemos lembrar que alguém que trabalha numa empresa não paga transporte, internet, telefone, energia ou aluguel do seu escritório — esses custos a empresa cobre. No caso de um pastor, esses custos são pagos com o dinheiro do seu sustento.
A Igreja que está chamando o pastor, normalmente comunica que ela deseja uma resposta dentro de três semanas. Muitas vezes, ela também oferece pagamento dos custos de uma viagem para o pastor e a sua esposa visitarem a Igreja que o está chamando, para que ele possa se reunir com os presbíteros, conhecer a congregação, e, assim, ter melhores condições de avaliar o chamado.
  • Como considerar um chamado
Quando um ministro da Palavra está servindo uma Igreja e recebe um chamado de uma outra Igreja, Deus está lhe dando uma oportunidade de avaliar seu trabalho na videira de Deus. O pastor já teve um chamado de Deus para trabalhar na sua Igreja atual. Agora, Deus está abrindo a possibilidade de ele se mudar para uma outra Igreja, para um outro campo de trabalho.
Como um pastor deve considerar esses dois chamados? Um pastor mercenário irá logo olhar o valor do sustento, as condições de moradia e as oportunidades econômicas e sociais para ele e a sua família. Um verdadeiro pastor, porém, avaliará em primeiro lugar, a questão: Onde há mais necessidade? Será que a Igreja atual precisa mais, ou a Igreja que está chamando?
Esta pergunta é difícil para se responder. Portanto, durante o período em que o pastor está considerando o chamado, os membros da Igreja que o chamou podem enviar cartas, mensagens, ou até telefonar para o pastor, para comunicar como a Igreja está carente de ter um pregador do Evangelho. Ao mesmo tempo, os membros da Igreja atual podem falar com o pastor, indicando as razões pelas quais eles acham que seria melhor ele ficar. O pastor passa o tempo meditando, refletindo, ouvindo, conversando com sua esposa, e orando muito a Deus. Ele pode ter certeza de que o Espírito Santo irá usar esses meios para levá-lo a tomar uma decisão que agrade a Deus e seja uma bênção para as Igrejas.
O pastor não deve apenas se perguntar: Onde há mais necessidade? Ele deve também se perguntar: Será que eu sou o mais indicado para essa necessidade? Aqui entram as questões que não são primordiais, mas que, mesmo assim, são questões realistas que o pastor deve levar em consideração. Por exemplo, talvez o chamado venha de uma Igreja pequena, num bairro onde moradia é muito cara e os apartamentos são muito pequenos. Se o pastor tem 5 filhos, talvez ele não seja o mais indicado para servir àquela Igreja, pois a maior parte do seu sustento será gasto com moradia. Talvez o mais indicado é um pastor solteiro ou um pastor com uma família menor. Com certeza, normalmente a Igreja que o chamou já levou em consideração essas questões quando o selecionou.
Com jejum e oração, o pastor busca a vontade de Deus. Onde posso ser mais frutífero em Teu serviço, ó Deus? Quando, em um chamado, essa atitude é levada em consideração, o pastor pode ter certeza de que Deus abençoará a decisão.
  • Responder ao chamado
No fim do período de considerar o chamado, o pastor envia uma carta formal para a Igreja que o chamou. Se ele recusar o chamado, não é necessário colocar no papel todas as coisas que o Espírito Santo colocou no seu coração. Basta comunicar que Deus o levou a tomar aquela decisão, porque ele viu que seu trabalho na Igreja atual ainda não chegou ao seu fim.
Se o pastor aceitar o chamado, comunica também por carta oficial. Isso dá início a uma cadeia de eventos que culminarão na instalação do pastor na nova Igreja.
  • Aceitar o chamado
As Igrejas da confederação vivem num relacionamento pactual para promover a boa ordem entre as Igrejas de Cristo. Portanto, no artigo 5 do Regimento2 elas estipulam que a transferência de um pastor de uma Igreja para outra deve acontecer com ordem e decência. Os documentos relacionados ao chamado são apresentados a um Concílio (uma reunião das Igrejas). O Concílio verificará os seguintes documentos: primeiro, um atestado de doutrina e comportamento lavrado pela Igreja onde o pastor estava ministrando; segundo, uma carta do Conselho da Igreja de origem, liberando o pastor do seu trabalho naquela Igreja; terceiro, a carta de chamado; quarto, a carta do pastor comunicando a aceitação do chamado. O Concílio deve aprovar o chamado se tudo está em ordem e se tudo foi feito conforme a Palavra, as Confissões e o Regimento. Não cabe ao Concílio se pronunciar para concordar, ou não, com a ideia do pastor de se mudar de uma Igreja para a outra.
A aprovação por um Concílio não é um ato hierárquico. É uma medida que as Igrejas concordem em aplicar para evitar situações nas quais pastores se mudem de uma Igreja para outra, sem um devido chamado, ou sem serem devidamente liberados do seu último chamado pela Igreja. Isso promove a paz e ordem das Igrejas.
  • Instalação
Uma vez aprovado o chamado, a nova Igreja comunica à Igreja anterior a data em que a responsabilidade de cuidar do pastor passará desta para aquela Igreja. Também marca o dia em que haverá o culto de instalação do novo pastor e quando será comissionado pelo Conselho em nome de Deus para começar seu novo trabalho na Videira do Senhor Jesus Cristo.

  • Notas:
1 O artigo refere-se ao processo de chamar um pastor nas Igrejas Reformadas do Brasil. Neste artigo, o Pastor Kenneth trata apenas do chamado e instalação de homens ordenados. O chamado pode ser estendido também a proponentes. Um proponente é um homem examinado por um concílio, e por este, declarado elegível ao ministério da Palavra. No caso de um proponente, dentro da política reformada, a igreja que o chama é a mesma que o ordena ao ministério da Palavra. O chamado de um proponente deve ser aprovado por um concílio. Este observará o que está na primeira parte do Artigo 5º do Regimento das Igrejas Reformadas. No caso de igrejas presbiterianas, os proponentes são chamados de “licenciados”. A ordenação destes é feita por um presbitério. [N. do E.]
2 ARTIGO 5. Ordenação de Ministros da Palavra. Aqueles que ainda não serviram no ministério da palavra, serão ordenados somente após aprovação do chamado por um concílio. O chamado será aprovado se for apresentado um testemunho satisfatório do conselho sobre a sã doutrina e boa conduta do candidato. Aqueles que já estão servindo no ministério da palavra, serão ordenados somente após aprovação do chamado por um concílio. O chamado será aprovado se o ministro apresentar bons testemunhos de sua doutrina e conduta, junto com uma declaração do conselho. Para a aprovação de pastores que estão servindo em igrejas irmãs, ainda será necessário uma conversa fraternal que tratará da doutrina e do governo espiritual das Igrejas Reformadas do Brasil. [N. do E.].

TEOLOGIA | IGREJA | MINISTÉRIO DA PALAVRA


Disponível em: https://revistadiakonia.org/como-e-o-processo-de-chamar-um…/

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Como ajudar membros da igreja que estão tendo problemas com a pornografia.

por PR. JIM WITTEVEEN
A luxúria não é uma novidade. Desde a Queda, o pecado sexual têm sido uma presença e um problema constante para a raça humana. Embora possamos pensar que a nossa geração tenha maiores problemas nesta área do que as gerações anteriores, os fatos da história, incluindo a história da redenção registrada nas Escrituras, nos mostram que o pecado sexual, a prostituição e o adultério em geral têm sido um perigo perene para o povo de Deus.
O que difere no século XXI é a forma que esse pecado toma e a maneira como o ser humano pode cometer adultério. Hoje em dia, os avanços tecnológicos facilitam acesso às imagens sexualmente explícitas, que são disponíveis em um clique do mouse. Sem ter que sair de casa, uma pessoa pode mergulhar em qualquer forma de perversão que o seu coração deseja. Na época do Antigo Testamento, as prostitutas religiosas das nações eram um perigo constante para o povo de Deus (Dt 23.17). Na época em que o Novo Testamento foi escrito, a prostituição, de uma forma diferente, proporcionou uma tentação poderosa para a comunidade dos crentes (1 Co 6.15-16).
A prostituição no século XXI é diferente porque pode ser “virtual”. Pode não envolver contato físico. Pode ser acessada na privacidade da própria casa. Mas, apesar da forma ser diferente, o pecado é o mesmo. Talvez não tenhamos que lidar com a tentação de prostitutas religiosas trabalhando publicamente no centro da cidade ou a ligação entre as prostitutas e os deuses falsos das nações. A prostituição moderna pode ser completamente “não religiosa” (embora saibamos que todas as atividades, até as assim chamadas atividades “seculares”, são de fato religiosas), mas continua sendo uma poderosa armadilha utilizada pelo inimigo para atrair o povo de Deus. E a forma mais recente de prostituição, a pornografia na internet, está causando uma devastação entre o povo de Deus também.
O que as estatísticas 1 nos dizem sobre o consumo de pornografia em todo o mundo?
A cada segundo, 28.258 usuários estão assistindo pornografia na internet;
A cada segundo, US$ 3.075,64 são gastos em pornografia na internet;
35% de todos os downloads da internet estão relacionadas à pornografia;
25% de todas as pesquisas na internet estão relacionadas à pornografia – cerca de 68 milhões de pesquisas por dia;
A cada 39 minutos, um novo vídeo pornográfico está sendo criado nos Estados Unidos;
Um terço dos espectadores da pornografia são mulheres;
E, finalmente, para que não pensemos que este seja um problema limitado a outros países, o Brasil tem a décima maior taxa de consumo de pornografia no mundo.
O uso de pornografia é uma epidemia, e até mesmo os pesquisadores e psicólogos seculares estão começando a argumentar que a epidemia de pornografia tem um impacto prejudicial na sociedade como um todo.
E os cristãos não estão imunes a esse problema. Se você tem alguma experiência pastoral, especialmente com homens jovens, é certo que você já teve que lidar com essa questão e seu impacto negativo nas vidas de alguns membros da sua congregação. Sim, há boas notícias no tocante a estatísticas sobre cristãos professantes e o uso de pornografia. De acordo com o Grupo de Pesquisa Barna nos Estados Unidos2 “os cristãos praticantes são mais de três vezes menos propensos a usar pornografia do que outros adolescentes e adultos”.
Podemos dar graças a Deus que essa distinção existe e que o problema não é tão grave na Igreja como no mundo. Mas mesmo essa “boa notícia” significa algo horrível: 13% dos cristãos declarados usam pornografia. Isto significa, pastor, que mais de um membro a cada dez em sua congregação, estatisticamente falando, estão lutando contra o pecado da pornografia – ou, de fato, desistiu dessa luta e cedeu completamente à tentação da luxúria.
Esta é a realidade. Agora, o que podemos fazer?
A primeira coisa que nós, oficiais na Igreja de Cristo, precisamos fazer é reconhecer a existência do problema. O problema existe, mesmo em igrejas reformadas e em igrejas “conservadoras”. Não podemos e não devemos viver em negação. Não podemos dizer, “isso não acontece aqui”, porque na verdade acontece! Pode estar oculto. Ao contrário do mundo, que se revela na pornografia e nega a sua imoralidade e os danos causados por ela, o uso da pornografia entre os cristãos ainda é algo escondido, vergonhoso e uma atividade em que poucos falarão abertamente. Mas, o primeiro passo para lidar com o problema é reconhecer a sua existência, e depois levá-lo para a luz.
Devemos brilhar a luz do Evangelho na escuridão da pornografia. Não devemos evitar o assunto porque nos deixa desconfortáveis ou porque incomoda aos nossos ouvintes. Devemos tratá-lo em nossas pregações, nas visitas e no aconselhamento pastoral pessoal. O pecado cresce na escuridão. E para expô-lo à luz devemos estar preparados para:
1. Chamar este pecado por seu nome;
2. Falar sobre a seriedade desse pecado (como o apóstolo Paulo fez na sua primeira carta aos Coríntios);
3. Avisar aos membros da igreja sobre as consequências sérias, temporais e eternas desse pecado;
4. Incentivar os membros da igreja a arrependerem-se, afastarem-se desse pecado e voltar-se para Cristo, que deu Sua vida para pagar o preço por esse pecado, e que dá o Seu Espírito Santo para ajudar o Seu povo na batalha contra ele.
Então, onde podemos iniciar? Começamos abordando este assunto em nossos sermões, pessoal e diretamente. Será incômodo? Claro que sim, especialmente em congregações menores. Mas é necessário? É necessário, sim – sem dúvida.
Nós pregadores sabemos os assuntos que são fáceis de pregar a respeito. É fácil pregar contra os males de mariolatria, por exemplo, quando sabemos muito bem que ninguém em nossa congregação é tentado a pensar em Maria como corredentora e mediadora de todas as graças. É fácil pregar contra o papado, quando os membros da nossa congregação já ativamente rejeitaram o papado e todas as outras práticas da Igreja Católica Romana. É fácil pregar contra os excessos do movimento carismático, quando os nossos membros já deixaram este movimento para trás. É muito mais difícil abordar um problema que existe dentro da congregação, um problema que talvez o pastor, outros oficiais e um número de membros têm enfrentado, ou estão enfrentando atualmente.
Mas como abordamos este assunto?
1. Avisos. Passagens como a de 1 Coríntios 6.9-10 fornecem a base dos avisos muito sérios que nós devemos às nossas congregações: “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus”.
2. Exortações Positivas. Efésios 5 nos dá um programa de ação positivo para homens no contexto dos seus relacionamentos com suas esposas. Quando se trata da sexualidade, não devemos limitar a nossa exortação às proibições, como se fosse as coisas que não fazemos que nos define como cristãos. O casamento é uma bênção dada por Deus com um propósito muito importante, e devemos pregar o lado positivo tão forte como o lado negativo: “Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja; porque somos membros do seu corpo. Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne.” (Ef 5.28-31). O rei Salomão também nos fala de um plano positivo para a vida “debaixo do sol” em passagens como a de Eclesiastes 9.9: “Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de tua vida fugaz, os quais Deus te deu debaixo do sol; porque esta é a tua porção nesta vida pelo trabalho com que te afadigaste debaixo do sol”. A pornografia é um substituto vulgar para a coisa real. Pregue as bênçãos do artigo genuíno, e os prazeres aparentes do substituto vão desvanecer.
3. A Proclamação do Evangelho. O legalismo cria uma lista de comportamentos proibidos, e define a vida cristã em termos de obediência. O antinomianismo proclama a liberdade das exigências da lei. Mas a proclamação do Evangelho prega Cristo. Os imperativos do Evangelho (os mandamentos e as exigências éticas) sempre se baseiam nos indicativos do Evangelho (a mensagem que proclama quem nós somos e o que nos tornamos em Cristo). Em Romanos 6, o apóstolo Paulo mostra o exemplo perfeito de como podemos e devemos encorajar a vida de santidade entre o povo de Deus: a nossa obediência é fundada em nossa união com Cristo. “Assim também considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6.11-14).
4. Ênfase na Gratidão. Quando falamos sobre a obediência, seria bom que nos lembrássemos da estrutura do nosso Catecismo de Heidelberg. A explicação da Lei de Deus no Catecismo é encontrada na terceira parte, que lida com a nossa gratidão. Precisamos enfatizar “a pecaminosidade do pecado” (como são grandes os nossos pecados e miséria), e de que modo somos libertos de todos os nossos pecados e miséria. Com esta base, podemos encorajar a nossa congregação a considerarem o quanto eles já receberam em Cristo e de que modo eles devem mostrar esta gratidão a Deus pela libertação que eles receberam.
Pregue o Evangelho fielmente e com oração, e descanse na certeza de que o Espírito Santo operará nos corações e nas mentes do povo de Deus, revelando o seu pecado, levando-os ao arrependimento e habilitando-os a viver uma nova vida para a glória de Deus.
Mas ao mesmo tempo, precisamos nos lembrar de que, para aqueles que são presos ao vício de pornografia, não existem soluções fáceis. Você precisará lidar com jovens (e outros também, mas a maioria daqueles que caiem neste pecado são jovens homens, pois são especialmente mais suscetíveis a este pecado) que ouvem esta pregação, que acreditam que a mensagem é a verdade, que querem desesperadamente escapar o ciclo infernal do vício da pornografia, mas que se sentem como se não houvesse uma saída desta armadilha.
Devemos estar prontos a acompanhar estes jovens ao longo do processo de santificação e crescimento, e podemos esperar dificuldades e lutas nesta jornada. O ciclo de vício é difícil de quebrar e a mudança não vai acontecer da noite para o dia. Precisamos fazer este trabalho de discipulado com firmeza, mas também com amor e paciência. Talvez, haja um homem na sua congregação que tem experiência com esta luta, que pode servir como mentor, e para ajudar na prestação das contas. Há ferramentas tecnológicas disponíveis para ajudar homens evitar os sites que levam eles a pecar. Há técnicas e planos práticos que podemos encorajar que ajudarão o membro fugir do pecado – só usar o computador na presença de outras pessoas, por exemplo.
Precisamos lembrar de que é uma batalha, e estamos lutando juntos, como membros do mesmo exército. Nossa tarefa como pastores não é bater nas ovelhas até elas que elas obedeçam, mas encorajá-las, admoestá-las e acompanhá-las ao longo do processo. Todo esse trabalho pastoral exige que nós nos lembremos que todos estamos no mesmo barco. Somos companheiros nesta peregrinação, e o nosso alvo é levar os outros conosco para que eles possam cruzar a linha de chegada junto conosco.
E enquanto estamos envolvidos nesta batalha, não devemos nos esquecer das palavras do apóstolo Paulo em 1 Coríntios 10.12: “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia”. Nesta guerra espiritual, o inimigo quer nada menos do que a queda dos líderes da igreja. Não estamos lidando com assuntos físicos e psicológicos; “porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6.12). Precisamos estar de guarda, alertas e acordados, pois somos alvos principais das flechas do maligno.
Neste campo de batalha, e em todos os outros, devemos nos lembrar da exortação do apóstolo em Efésios 6.13: “Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis”.
Seja Deus gracioso para conosco, e nos abençoe, e faça resplandecer sobre nós o rosto, nesta luta contra o veneno perigoso da pornografia.
Notas:
TEOLOGIA | PRESBITERATO | MEMBRESIA

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

CRISTO ENSINA QUE VOCÊ PODE ESCOLHER UMA IGREJA COMO SE ESTIVESSE FAZENDO COMPRAS?

por DR. JASON P. VAN VLIET
Pode acontecer assim. Você tem uma certa preocupação, porque não vê o irmão Fulano na igreja regularmente como antes. No início, você nem tem certeza de que seu sentimento está certo. Afinal, as pessoas ficam doentes. Ou talvez ele tenha uma namorada em outra congregação. Talvez ele esteja fora da cidade devido ao trabalho. Talvez… ? No entanto, algum tempo depois, você ouve o boato. Aparentemente, o irmão Fulano também está adorando na nova igreja evangélica que está crescendo rapidamente.
Essa igreja é nova e bem sucedida. Em poucos anos, já atrai centenas de pessoas, e mais estão se juntando a cada mês. O pastor sênior dessa igreja é um homem dinâmico que prega de uma maneira que chama a atenção das pessoas e se conecta às suas vidas. A igreja tem uma banda, e eles cantam todos os louvores bem conhecidos. Doutrinariamente, essa igreja pode ser descrita como uma congregação Reformada-Batista-Ligeiramente Carismática. Em outras palavras, eles enfatizam a graça soberana, rejeitam o batismo infantil e estão pelo menos abertos à continuação dos dons espirituais, especialmente o dom da profecia.
Não querendo depender dos boatos não confiáveis, você fala com o irmão Fulano diretamente. Ele confirma que sim, ele está frequentando esta nova igreja. Além disso, ele não vê nada de errado com isso porque, como ele relata, “Nunca me senti tão espiritualmente vivo em toda a minha vida.” Como você deve responder a uma declaração como essa?
O que significa tratar a escolha de uma igreja como se estivesse fazendo compras?
O cenário fictício descrito acima se enquadra na categoria do que é comumente chamado de consumismo religioso – pensando na escolha de uma igreja como se estivesse fazendo compras. Mas o que exatamente que essa frase significa? Afinal, discussões frutíferas começam com definições claras.
Primeiramente, quero começar com o que eu não estou dizendo. Alguém descobre que ele é parte de uma igreja infiel, isto é, uma igreja que não governa a si mesma de acordo com a pura Palavra de Deus (Confissão Belga, Artigo 29). Por algum tempo ele tenta efetuar mudanças positivas, mas todos os seus esforços são sistematicamente frustrados. Chegará um ponto em que esse crente buscará uma igreja fiel do Senhor Jesus Cristo. Não podemos dizer que esse irmão está tratando a escolha de uma igreja como se estivesse fazendo compras. Ele está buscando uma igreja fiel, nos moldes dos artigos 28 e 29 da Confissão Belga.
No entanto, a situação é bem diferente quando alguém pertence a uma igreja de Cristo fervorosamente fiel, mas reconhecidamente imperfeita. Se, enquanto pertencer a tal congregação, alguém começar a visitar e cultuar em uma outra igreja devido a várias circunstâncias pessoais ou preferências pessoais, então ele pode muito bem estar tratando a escolha de uma igreja como se estivesse fazendo compras.
Por quê?
O que motiva as pessoas a começarem a buscar outra igreja nessa maneira? Recentemente conversei com um grupo de jovens de algumas congregações das Igrejas Reformadas Canadenses. Os jovens geralmente têm um bom entendimento da vida eclesiástica. Juntos, concordamos na seguinte lista de oito razões, em nenhuma ordem especial, de que as pessoas começam a se tornar consumidoras religiosas, buscando igrejas como se elas estivessem fazendo compras:
Elas querem evitar admoestação ou disciplina.
Elas querem um novo começo por causa de más experiências em sua igreja atual.
Amigos ou membros da família começam a cultuar em outro lugar.
Elas estão procurando um namorado(a).
Elas estão procurando pregação mais relevante.
Elas se sentem mais em casa em uma atmosfera de adoração mais casual, mais otimista, com música popular.
Elas se sentem mais espiritualmente vivas na outra igreja.
Elas têm uma visão (hiper)-crítica de sua própria igreja ao ponto de ver negativos em quase toda parte.
Embora essa lista certamente não seja exaustiva, ela cobre algumas das razões comuns pelas quais as pessoas começam a frequentar outras igrejas. Ao mesmo tempo, essa lista não indica precisamente o que está no cerne da questão: a crescente centralidade dos meus desejos da comunhão dos santos. Em outras palavras, quando ouvimos as várias razões para ir a outra igreja, é muito “eu gosto…”, “eu quero…”, e “eu prefiro…”
A parte difícil, porém, é quando o desejo do “eu” parece ser piedoso. Voltando ao cenário acima, se “eu” quiser estar mais espiritualmente vivo do que nunca, isso deve ser algo que agrada a Deus, certo? Bem, essa é uma excelente pergunta e merece uma resposta completa e bíblica. Então, vamos pensar nisso sistematicamente.
De quem é a igreja?
Embora falamos casualmente da “minha igreja” ou “nossa igreja,” todos percebemos que a igreja pertence a Jesus Cristo. Ele comprou a igreja com seu próprio sangue precioso (Atos 20.28). Portanto, a igreja pertence a ele (Romanos 16.16) e é seu próprio corpo (Efésios 5.23,29; Colossenses 1.24). Também confessamos isso no Credo Apostólico (“na santa igreja universal de Cristo”) e no Dia do Senhor 21 do Catecismo de Heidelberg (“reúne para Si mesmo, de entre todo o gênero humano, uma igreja… a qual protege e preserva na unidade da verdadeira fé pelo Seu Espírito e pela Sua Palavra”). Por essa razão, todos os membros da igreja devem ser enfática e genuinamente centrados em Cristo.
O desafio surge, porém, quando este ensinamento bíblico tem que ser aplicado consistentemente. Quando um desejo de cultuar em outra igreja surge, é realmente porque Cristo o direciona a ir para lá? Algumas pessoas responderão prontamente: “Sim, sinto em meu coração que Cristo está me chamando para ir a outro lugar.” Mas como esse “chamado” pode ser verificado? E se esse “chamado” vier de mim em vez de vir de Cristo? Afinal, nossos corações são altamente habilidosos em nos enganar (Provérbios 28.26; Jeremias 17.9). Assim, em vez de confiar em nossos corações inconstantes, devemos nos voltar para a Palavra fiel de Cristo, as Sagradas Escrituras (1 Pedro 1.10-11).
Por exemplo, a Palavra de Cristo fala claramente de uma aliança eterna que o Senhor estabelece de geração em geração (Gênesis 17.7). E o Espírito de Cristo também confirma que as promessas da nova aliança se estendem aos filhos dos crentes (Atos 2.39). Então, o mesmo Cristo, que afirma a inclusão dos filhos dos crentes na aliança de graça, direciona alguém para cultuar em uma igreja que exclui crianças daquela aliança de graça? Isso significaria que Cristo está se contradizendo, o que é, claramente, impossível (Hebreus 13.8).
Além disso, quando alguém começa a cultuar em outra igreja e diz, “Nunca me senti tão espiritualmente vivo em toda a minha vida,” outras perguntas precisam ser feitos, como: “Mas o que é o impacto das suas ações para seus irmãos na congregação a qual você pertence? Eles estão sendo edificados por sua presença esporádica? Se estamos verdadeiramente focados em Cristo, essa é uma questão importante, porque é precisamente Cristo que nos ensinou a “amar o próximo como a si mesmo,” e nossos irmãos espirituais em nossa própria congregação estão entre alguns dos próximos mais próximos que temos!
Em suma, o ponto é este: uma vez que a igreja pertence a Cristo, precisamos nos submeter a ele, conforme ele revela sua vontade em sua Palavra, em tudo o que fazemos. Uma coisa é falar de Cristo; e outra realmente se submeter a ele.
Uma igreja católica [universal]
No entanto, alguém pode fazer essa objeção: “Sim, mas a igreja de Cristo é católica (ou universal). Confessamos isso todos os domingos. Então quer eu cultue em uma confederação de igrejas ou outra, nessa nova igreja evangélica ou na igreja reformada, tudo se resume à mesma coisa. Juntos, somos todos parte da igreja católica de Cristo.”
No entanto, falar sobre a catolicidade da igreja dessa maneira não é o modo como Cristo fala sobre a catolicidade. A igreja católica é reunida de todas as nações, não composta de todas as denominações. Uma rápida olhada no Salmo 2.8, Mateus 28.19 e Apocalipse 7.9 confirma que a catolicidade tem a ver com Cristo chamando seu povo de muitas origens étnicas diferentes. Isso não significa que todas as diferentes correntes eclesiásticas fluam para um rio grande e católico.
Uma igreja santa
Além disso, a santidade da igreja de Cristo é muitas vezes mal compreendida. Para muitos, a santidade da igreja está localizada especificamente em quão bem os membros da igreja obedecem aos Dez Mandamentos ou à Grande Comissão. Seguindo esta abordagem, se houver pecados que tem a ver com dinheiro ou com palavras na igreja, ou se os membros não estiverem suficientemente entusiasmados com o evangelismo, então a igreja não será mais considerada sagrada.
Certamente, a desobediência contra os mandamentos de Deus e a falta de desejo de espalhar o evangelho são questões sérias e pecaminosas. No entanto, se começarmos por localizar a santidade da igreja dentro de seus membros, começaremos no lugar errado. A santidade da igreja começa com Cristo. Ele faz do seu povo uma “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus” (1 Pedro 2.9; Êxodo 19.6; Apocalipse 1.6). Para ser sucinto, ser a santa igreja de Cristo significa que Cristo nos separa para sermos diferentes do mundo e dedicados a ele.
Sim, devemos ser diferentes do mundo, da mesma forma que vemos a membresia da igreja. No mundo, se uma certa associação lhe serve bem, você a mantém. Se isso não lhe servir bem, você assume sua filiação em outro lugar. Por exemplo, se ser um membro da academia local se encaixa no seu programa de exercícios, muito bom. Mas se encontrar uma academia que funciona melhor para você, você sempre pode mudar sua lealdade. Sem problemas! É sua prerrogativa. Apenas lembre-se, porém, que sua participação na igreja é algo sagrado, algo diferente, algo separado. A sua escolha de uma igreja não tem nada a ver com o que mais lhe serve. Ser membro de uma igreja tem a ver com como você serve melhor a Cristo (Marcos 10.43-45).
Igreja envolve matrimônio, não fazer compras
Nós frequentemente mencionamos isso, mas quantas vezes meditamos sobre isso? Fazer parte da igreja de Cristo é estar envolvido em um relacionamento matrimonial com ninguém menos que o eterno Filho de Deus. Se você contemplar essa verdade revelada por algum tempo, há algo profundamente perturbador na ideia do que podemos tratar a igreja como uma loja ou empresa. A igreja tem tudo a ver com o casamento mais gracioso e glorioso de todos os tempos. Testemunhe a afirmação do apóstolo Paulo no meio dessa passagem bem conhecida sobre o casamento cristão em Efésios 5:22-33: “Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja” (v.32). Em outras palavras, se você está falando de igreja, então você está falando sobre casamento. Pelo menos, se você está falando da maneira como o Espírito de Cristo fala, então estar envolvido na igreja é estar envolvido em um casamento.
Então, uma vez que a igreja envolve casamento, é apropriado pensar sobre a igreja na mesma maneira em que você pensar em fazer compras? Fazer compras é uma coisa, o casamento é algo completamente diferente. A psicologia e a prática das compras não têm lugar, seja qual for, dentro do vínculo sagrado do matrimônio. Isso já se aplica aos casamentos terrestres de tempo determinado. Aplica-se ainda mais ao casamento celestial e eterno.
Comprar tem seu lugar apropriado nesta vida. Se você precisa de alguma coisa para sua existência diária, vá ao shopping e faça compras. No entanto, ser membro da igreja de Cristo é algo bem diferente. É sagrado. É matrimônio sagrado com o próprio Filho de Deus. E dentro do casamento, a palavra operativa é a fidelidade amorosa, não a compra.
Teologia | Membresia

domingo, 20 de janeiro de 2019

A Cruz Celta – Origens e Significado


 
       Quando se trata de símbolos, há muitas controvérsias e confusões, às vezes acusações sem base ou sem nexo... às vezes até desculpas chulas. Eu, como bom amante de polêmica, resolvi tomar esse símbolo e esclarecer, de forma clara e objetiva, suas origens e seu significado.
            Antes de qualquer coisa, você pode estar se perguntando: que coisa é essa? Bem, cruz céltica (ou cruz celta) é uma cruz com um círculo ao centro, também podendo ter as bordas internas da cruz neste círculo arredondadas.
            E os celtas, que povo é esse? Calma, vou explicar. Os celtas são um povo inicialmente pagão que viveu na saxônia, ou seja, na região do Reino Unido (Inglaterra, Escócia e irlandas). Deste povo temos lendas como a Jack O’Lantern, aquela abóborazinha engraçada que os estadunidenses confeccionam na época do Halloween.
            Bem, com os termos esclarecidos, vamos entender a história da cruz celta e seu significado?
            A cruz céltica não tem uma origem clara. Autores como Geraldo Cantarino explicam que o termo é meio difícil de explicar, tendo um pouco de confusão sobre seu início.  O que sabemos é que os celtas tinham um tipo de “cruz” circundada. Segundo alguns autores, significava os quatro elementos, aqueles que muitos filósofos gregos tanto falam: ar, terra, fogo e água. O círculo significava o sol. Como a maioria dos povos pagãos, sejam eles mesopotâmicos, gregos, egípcios, enfim..., o sol, para os celtas pagãos, era um deus.
            As cruzes celtas (cristãs) foram encontradas no Reino Unido, onde residiam os celtas anteriormente pagãos. Seu uso passou a ser um símbolo comum a partir do século IV.
As raízes dessa cruz fazem voltar à eternidade passada. Antes mesmo do homem ter caído, quebrando a relação com Deus, Deus havia planejado o evento que iria efetuar a cura dessa relação para todos os que confiam nele.
Se as raízes dessa cruz podem alcançar a eternidade passada, os efeitos dessa cruz podem se estender à eternidade futura. A missão de Cristo ao morrer era oferecer a si mesmo como o sacrifício que iria satisfazer a justiça divina pelos crimes espirituais dos seres humanos. Através de sua morte, a vida com Deus que foi perdida no Éden seria restaurada para aqueles que confiam nele. Esta vida começaria em tempo real e iria durar para sempre, transformando até mesmo a morte física em ressurreição. Ele disse, em referência à sua morte iminente por crucificação, "Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, assim o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crer tenha a vida eterna" (João 3.14-15).
Cerca de 2000 anos atrás, em um dia real no calendário, talvez em abril de 33 d. C., a eternidade circulou a cruz do meio naquele dia.
Sabemos que os celtas foram convertidos ao cristianismo pela mensagem redentora de Cristo levada por José de Arimateia, e também por escravos fugidos por volta do ano 77 d. C., sendo criada a Igreja Celta. Devido a isso, evangélicos carismáticos, ou afins, alegam que a cruz céltica, no sentido cristão, é um símbolo pagão.
Agora fica a pergunta, qual é a simbologia da cruz celta, além da que eu disse?
1)      Essa cruz é um símbolo da eternidade, que enfatiza a vida eterna no céu para os eleitos de Deus.
2)      O amor gracioso de Deus, como mostrado através da crucificação de Cristo.
3)      O círculo é associado à ideia da Santa Ceia, pois o círculo lembra os moinhos de trigo da Escócia Antiga.
4)      A coroa de espinhos.
5)      A coroa de Cristo.
6)      A ressurreição de Cristo.
7)      Uma auréola.
8 )      Uma possível versão da Chi Rho, a cruz que apareceu à Constantino em 312 d. C.
9)      Uma outra aplicação de sugestão, embora improvável, que o círculo poderia ser simplesmente um suporte estrutural  para os braços horizontais, uma vez que a cruz era feita de pedra.
Assim como a sarça ardente, é um dos grandes símbolos do presbiterianismo. É um tradicional símbolo presbiteriano, representa o nascimento, morte e ressurreição de Jesus Cristo, o plano da ação redentora de Cristo determinado pelo Pai, além da presença dEle na Igreja e o seu plano desde a Criação. O círculo dá uma ideia de continuidade, podendo ser parafraseado com o lema: "Ecclesia Reformanda semper reformata est (Igreja Reformada: sempre reformando!)".
Os celtas são um grande exemplo de espiritualidade. “O cristianismo conhecido como “celta” floresceu na Irlanda, na Escócia, no País de Gales e mesmo em partes da Inglaterra, grosso modo, do quarto ao décimo séculos. São conhecidos os nomes de missionários celtas como Patrício, Columba e Columbano, que evangelizaram o norte das Ilhas Britânicas e vastas partes do continente europeu. Mas o cristianismo celta floresceu, humanamente falando, não apenas devido ao trabalho dos missionários mais conhecidos, mas também devido ao esforço de incontáveis anônimos, pessoas sinceras em sua fé, que viviam o cristianismo com “alegria e singeleza de coração”. Foi um cristianismo que desenvolveu características próprias, que o tornavam distinto do cristianismo de inspiração romana que florescia na Europa continental no mesmo período. O cristianismo celta tinha muitas características notáveis. Entre tantas, destaca-se aqui apenas a que interessa diretamente aos propósitos desta breve reflexão: um modelo de espiritualidade centrado na criação.
Os celtas desenvolveram uma teologia que enfatizava uma visão de Deus como Senhor da criação. Ainda que não haja nada de original nesta perspectiva — os cristãos celtas não foram os inventores desta teologia —, não se pode deixar de mencionar que há diversas implicações práticas dessa visão. Uma dessas consequências é exatamente ter uma atitude constante de júbilo e regozijo na criação, que revela Deus. Como os celtas eram um povo com forte inclinação à poesia, produziram muitas poesias comoventes, louvando a Deus pela obra da criação.” Rev. Carlos Caldas (é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil. Leciona na Escola Superior de Teologia e no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo). Revista Ultimato, Edição 294.
A cruz celta é amplamente utilizada pelas igrejas de tradição reformada, como os presbiterianos, batistas reformados e anglicanos reformados. Isso porque essas igrejas tiveram origem na Escócia. Há também uma ala da igreja romana que a utilizam, mas são casos bem remotos.
Em países europeus como Irlanda, Escócia, principalmente, e Portugal, a cruz celta é o símbolo maior da Igreja Presbiteriana, especialmente no caso deste último, e reconhecido como tal. Todavia, sua utilização não é fechada a esse continente, sendo utilizada em todo o mundo, deste os EUA, Brasil e até a África.
No Brasil, igrejas como a Igreja Presbiteriana do Brasil, Igreja Anglicana Reformada, Igreja Presbiteriana Independente e Igreja Presbiteriana Unida utilizam a cruz celta. Essas duas últimas, por exemplo, a tem em suas logomarcas oficiais.
Hoje, utilizar a cruz celta nas igrejas não é só um adorno ou uma forma de enfeitar a igreja, mas sim uma forma de mostrar sua identidade, mostrar sua herança da Reforma Protestante do século XVI. É uma forma de demonstrar a soberania de Deus, de entender seu plano e entregar nossos planos a Ele.

História | História da igreja | Reforma

Disponível em: http://christofercruz.blogspot.com/2013/03/a-cruz-celta-origens-e-significado.html?m=1

sábado, 19 de janeiro de 2019

SUA ADORAÇÃO É REFORMADA?

por DR. WES BREDENHOF

Há alguns anos, participei de um culto de adoração de uma igreja vizinha que não era reformada. O que mais me impressionou foi onde eles dão ênfase na adoração. O trabalho inicia com música. Um conjunto com cantores estava no palco. Eles cantaram diversas formas de louvor e adoração. Por fim, o líder de louvor disse: “Agora que a adoração acabou, nosso pastor se aproximará e dará sua mensagem”. A “mensagem” foi ironicamente frustrante depois da emocionante “experiência de adoração”. A ênfase desta igreja parecia-me bastante evidente.

Uma das características das igrejas reformadas é a doutrina dos meios de graça. Essa doutrina, quando conscientemente preservada, também desenvolve um culto reformado específico. Você pode dizer que está em uma igreja reformada, quando os meios de graça são considerados relevantes à adoração da igreja. A ênfase de um culto de adoração reformada é o ministério da Palavra e os Sacramentos. Vejamos como estas coisas funcionam como meios de graça, uma vez que elas precisam permanecer como nosso objetivo.

O primeiro meio de graça é a leitura e a pregação da Palavra de Deus. A Escritura é aberta, lida e exposta. A Lei de Deus é aplicada à congregação. A congregação é devidamente informada de seus pecados e misérias. Isso tem o duplo propósito de tornar-nos humildes na presença de um Deus santo, e então, também, de nos conduzir a cruz de Cristo Jesus. Essa aplicação da Lei concretiza-se com a leitura dos Dez Mandamentos, mas também por intermédio da leitura e pregação de outras passagens das Escrituras. O Evangelho também é aplicado para o consolo da congregação. O povo de Deus é encorajado com as promessas de seu amor e salvação em Jesus. Isso ocorre em muitas igrejas reformadas com a certeza do perdão, mas depois, claro, também através da leitura e proclamação da Palavra de Deus. Por fim, a vontade de Deus expressa em sua Lei também é exercida sobre uma congregação agradecida. Somos instruídos a boa vontade de Deus para as nossas vidas, e demonstramos nosso amor por esse Deus gracioso que tão profundamente nos amou. Isso também acontece através da leitura e pregação da Escritura.

A Escritura é um meio de graça porque é assim que Deus planeja abençoar o seu povo quando Ele o encontra. Sua intenção é abençoá-los por intermédio de sua Palavra. Por meio de sua Palavra, a voz do Bom Pastor é ouvida. É ouvida quando Ele repreende, conforme Ele consola e instrui. Quando realizado fielmente, não apenas ouvimos uma voz humana quando um ministro prega. A pregação fiel da Palavra de Deus é a Palavra de Deus — “E nós também somos gratos a Deus constantemente por isso, que quando você recebe a Palavra de Deus, a qual você ouviu de nós, você a aceitou não como a palavra dos homens, mas como o que realmente é, a Palavra de Deus, que atua em vós crentes”. (1 Ts 2:13). O outro meio de graça, é a administração dos Sacramentos. As Igrejas Reformadas administram os Sacramentos do batismo e da Ceia do Senhor, seguindo o comando de Cristo e dos seus apóstolos. O Batismo é administrado como o sacramento de iniciação. Por meio do batismo, somos admitidos publicamente na aliança e na igreja de Deus. Através do batismo, recebemos o sinal e o selo das promessas da aliança de Deus. Deus está demonstrando uma atitude graciosa para com aqueles que recebem o batismo. No entanto, em cada batismo, toda a congregação é favorecida com a graça de Deus. Somos todos visualmente lembrados, de como o nosso Deus gracioso nos abordou pela primeira vez e nos levou para os seus. Veja, o batismo não fala somente àqueles diretamente envolvidos no batismo (aquele que está sendo batizado e aos pais), mas a toda a congregação!

A Ceia do Senhor é administrada como o sacramento de nutrição. É frequente que muitos vejam a Ceia do Senhor apenas como um memorial, semelhante a colocar flores no túmulo de um ente querido que partiu. A visão reformada inclui um aspecto memorial, mas é muito mais que isso. Neste sacramento, Jesus Cristo está verdadeiramente presente em sua Divindade, Majestade, Graça e Espírito. Ele está presente para abençoar os crentes que participam do pão e do vinho na fé. Ele os refrescará e os nutrirá, fortalecendo sua fé. Por intermédio da Ceia do Senhor, somos verdadeiramente alimentados pelo próprio Salvador.

Os Sacramentos são meios de graça porque também é assim que Deus quer abençoar seu povo quando se encontram com ele. Ele quer continuar dando a eles o inverso do que eles merecem, em vista de continuarem pecadores. Ele reivindica essas pessoas pecaminosas para si, e as alimenta com alimento e bebidas espirituais. Além disso, nosso gracioso Deus sabe que a Palavra é frequentemente recebida com fraqueza. Compreender sozinho é difícil para nós como criaturas pecaminosas. Então, em sua graça, Ele acrescenta esses dois Sacramentos multissensoriais do batismo e da Ceia do Senhor. Agora, por que esses meios de graça são o centro de um culto reformado?

Por que essas coisas são o foco e a ênfase? Isso remonta ao pacto da graça. O pacto é um relacionamento entre Deus e o Seu povo. Quem permanece no centro desse relacionamento? Não eu ou você. Não, Jesus Cristo que permanece no centro como o Mediador da Aliança. Ele é aquele que “lubrifica as engrenagens” desse relacionamento. Se um culto de adoração é reflexo deste relacionamento de Aliança, não deveria Cristo e seu ministério permanecerem no centro? O foco não deveria estar em Cristo, em seu ministério da Palavra e nos Sacramentos, uma vez que Ele “lubrifica as engrenagens”? Há uma lógica reformada distinta em nosso foco nos meios de graça e tem tudo a ver com o pacto da graça.

Sim, é claro, ainda há lugar para nossa resposta na oração e na música. O relacionamento de Aliança é bilateral e Deus espera que seu povo responda a Ele. Em virtude da Aliança, ambos devem existir, em nosso culto de adoração. Essa não é a questão. Ninguém jamais disse que a oração e a música deveriam ser extintas na adoração reformada. A questão é: onde está o nosso foco? O que está no centro? Qual é a principal atração em um culto de adoração reformada? A resposta precisamente reformada, extraída da Escritura, sempre foi: os meios de graça, a Palavra e o ministério dos Sacramentos. Com ênfase na Palavra e no ministério dos Sacramentos, os meios de graça, sua adoração será reformada – isto é, bíblica.

TEOLOGIA | LITURGIA | MEMBRESIA

disponível em: https://revistadiakonia.org/sua-adoracao-e-reformada/

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

QUEM DEVE CATEQUIZAR?

por Pr. CLARANCE BOUWMAN

Com o início do período de instrução sobre o Catecismo, é importante pensarmos a respeito de sua devida instrução/ensinamento. Mais precisamente, quem é o responsável por catequizar os jovens? Essa é uma importante pergunta, se a resposta incluir algumas mudanças de hábitos. Perceba que tanto os pais quanto a igreja têm importância nesse assunto.
Aliança
O Senhor Deus reivindicou para Si um povo de propriedade exclusiva. Essa reivindicação de propriedade é conhecida como “aliança”. Aqueles a quem Deus reivindica como Seus filhos recebem dEle promessas particulares:
Ele será seu Pai bondoso, dando a eles somente aquilo que é bom e tornando em algo benéfico todo o mal que venham a experienciar;
Os pecadores nunca merecem tamanha graça, de maneira que esses laços de amor só são possíveis por causa do sacrifício de Jesus na cruz; na verdade, em sua aliança de amor o Senhor Deus promete nunca tratar com os pecadores conforme eles merecem, mas sim perdoar nossos pecados.
Tendo em vista que os pecadores são por natureza contrários a Deus, o Senhor promete dar Seu Espírito de vida a fim de fazê-los se deleitar na bondade de Deus e viver uma vida que demonstre gratidão por sua divina graça.
Nós ouvimos esses três pontos repetidamente na Forma de Batismo dos Filhos dos Crentes. Estamos conscientes de que devemos responder à maravilhosa reivindicação de Deus sobre nós com as mãos estendidas da fé.
Pais
O chamado de Deus inclui não apenas os adultos como também as crianças que Ele sabiamente confia sob os cuidados de pais crentes. Deus não dá um clique de repente nessas crianças quanto elas fazem 18 anos, então elas subitamente passam a crer; ao invés disso, Deus usa seus pais, aos quais Ele confiou, para que possam ensiná-las a levarem Deus a sério e a confiarem nEle em meio as questões e lutas dessa vida. Deus disse com relação a Abraão, “Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo” (Gn 18.19). Moisés reforçou essa ideia, “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.” (Dt 6.6,7). “Assentado em tua casa” é hoje em dia uma referência sobre conversar com seu filho a respeito do que você vê na televisão ou numa tela de computador, e “quando estiver andando pelo caminho” é uma referência daquela conversa que acontece no carro voltando para casa do jogo de futebol.
Essa ordem aos pais demonstra a razão do por que o Senhor deu aos filhos o mandamento de “honrar teu pai e tua mãe” (Êx 20.12). Honra envolve uma atitude de receptividade a instrução do pai e da mãe. Tudo isso é ecoado nas palavras de Paulo: “Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor.” (Ef 6.1,4). Deus têm dado aos pais um papel vital de buscar o desenvolvimento espiritual aos filhos da aliança.
Catequizando
A consequência do que foi exposto acima é que, primeiramente, os pais são os responsáveis pela instrução no Catecismo. O ministro (e os presbíteros) não fizeram um juramento solene no batismo de responsabilidade sobre aquela criança da congregação; foram os pais quem “prometeram como pai e mãe instruir seu filho na doutrina”. Mas essa responsabilidade não para apenas na “instrução”; os pais também devem ensinar aquela criança como deve ser grata ao chamado gracioso de Deus sobre ela. Deus disse ao povo de Israel que eles deveriam confessar a sua fé (veja Dt 26.5-10). Essa resposta seria de caráter pessoal e confessada de própria boca – e deveria ser memorizada. Assim, isso era e permanece, como uma tarefa destinada aos pais, tanto em ensinar a doutrina como em fazer com que seja memorizada. Em ambos os aspectos, os pais é que têm essa responsabilidade primária dada por Deus.
Mesa de jantar
Essa instrução deve acontecer “assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.” – em outras palavras, em qualquer hora e todo o tempo. Desse modo, a mesa da cozinha, quando a família está reunida para comer (o que acontece fielmente em sua casa, eu espero), provê uma oportunidade ideal para falar sobre a vontade e as promessas do Senhor no contexto das experiências do dia-a-dia. Também é de grande ajuda adicionar a leitura do Catecismo aos devocionais realizados em cada refeição. Então, além da leitura e discussão da Escritura, oração e cântico (seja de um salmo designado pela escola ou selecionado livremente), tome certo tempo para falar sobre o Dia do Senhor com sua família em toda e qualquer refeição.1 Quanto mais cedo a família começar com esse hábito, mais familiar a criança estará com o Catecismo e mais facilmente o trabalho de memorização terá início.
A conclusão que se segue é que os pais têm a responsabilidade primária pelo ensino de seus filhos no caminho do Senhor, ou seja, ensiná-los o conteúdo do Catecismo. Entretanto, ainda há uma segunda parte envolvida.
Igreja
O Cristo ascenso reúne a Sua igreja, o que quer dizer que Ele congrega o Seu povo em um único rebanho que habitualmente se reúne domingo após domingo. É verdade que nem todo crente realmente faz parte da igreja de Jesus ainda; Jesus Cristo congrega algumas de Suas ovelhas em Seu aprisco próximo do fim da vida (conforme Jo 10.16), talvez até em face da morte. Os membros das Igrejas Reformadas, entretanto, têm recebido do Cabeça da Igreja a oportunidade de já poder fazer parte de Sua igreja; mesmo as crianças também gozam disso plenamente. Isto, precisamos ter em mente, é um grandíssimo privilégio.
Pastor
Como o Bom Pastor, Jesus Cristo cuida de Sua ovelha, e faz isso por meio do trabalho dos subpastores. Esse cuidado acontece pela pregação domingo a domingo; jovens e velhos são alimentados pela nutrição da Palavra em meio as questões e desafios dessa vida. Por certo, os pais talvez precisem explicar a pregação em pedaços menores para seus filhos, mas isso não retira o mérito de que o Bom Pastor também cuida de Seus cordeiros pela pregação semanal da Palavra. Essa é a razão pela qual as crianças da congregação permanecem dentro da igreja assim que sejam capazes de se sentarem, ao invés de serem levadas para uma sala separada assim que o sermão tem início.
A responsabilidade dos sub-pastores (isto é, todos os presbíteros) não é apenas limitada a pregação do evangelho. O apóstolo Paulo disse aos presbíteros de Éfeso para que “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue.” (At 20.28). Com certeza, a expressão “todo o rebanho” se refere não apenas às ovelhas adultas, mas também aos cordeirinhos.
Classes de catecúmenos
Os presbíteros, então, têm a responsabilidade sobre os mais jovens da igreja. Esses adolescentes estão próximos a idade de prestação de contas, quando o Senhor requer que eles deem uma resposta para as ricas promessas da aliança de Deus que Ele estabeleceu com eles em sua infância. É justamente sob a perspectiva de ajudar esses filhos da aliança a responder adequadamente as promessas de Deus que os presbíteros organizam a instrução do Catecismo para os mais jovens, e escolhem alguém responsável para instruí-los a respeito do que Deus revelou em Sua Palavra. Essa instrução costuma ser mais aprofundada do que o ensino que os pais desenvolveram em suas casas até então.
Providenciar a instrução no Catecismo faz parte da obrigação de cumprir o mandato de “cuidar/zelar” pela jovem ovelha que o Senhor confiou aos presbíteros. Razão pela qual os presbíteros visitam periodicamente as classes de catecúmenos, assim como perguntam nas visitas domiciliares sobre como os infantes estão respondendo aos ensinamentos recebidos. E, sabendo que o Senhor Deus está cuidando de Sua jovem ovelha por meio dos presbíteros (incluindo a instrução no Catecismo que eles oferecem), é natural que os jovens recebam os presbíteros prontamente e estejam abertos a conversar com eles sobre como se sentem em relação às instruções recebidas.
Conclusão
Portanto, a catequese dos filhos da aliança de Deus indubitavelmente tem ocorrido anualmente sob a cuidadosa instrução do pai (e da mãe) nas residências. Chegou a época de aumentar o trabalho dos pais com a instrução periódica da igreja. Meu trabalho como instrutor nas classes de catecúmenos, então, não é ter a intenção de substituir o trabalho realizado pelos pais até então, mas é o de auxiliar no chamado dos pais. Para esse fim, tentarei novamente este ano encaixar a instrução da sala de aula com as pregações dominicais; assim os pais ficarão sabendo o que está sendo ensinado e poderão conversar ainda mais a respeito com seus filhos – e netos. Que o Senhor Deus abençoe ricamente o trabalho de catequizar, tanto o que os pais realizam em casa quanto o que os instrutores e oficiais fazem na igreja.

Teologia | Oficialato | Catequese

Disponível em: https://revistadiakonia.org/quem-deve-catequizar/ acesso em 18/01/2019

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

A BASE VETEROTESTAMENTÁRIA PARA QUE OS GENTIOS SEJAM CHAMADOS DE ISRAEL DE DEUS

“Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura. E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus”. (Gálatas 6:15-16)
O objetivo deste estudo é provar, com base no Velho Testamento, que “o Israel de Deus” inclui tanto os judeus étnicos quanto os gentios que fazem parte da Igreja.
Ó POVO DE GOMORRA
Em Isaías 1:10, Deus chama a nação de Israel de “Sodoma” e “Gomorra”: “Ouvi a palavra do SENHOR, vós poderosos de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra” (Isaías 1:10). Mas Sodoma e Gomorra já não tinham sido destruídos muitos séculos antes (Gênesis 19)? Em Isaías 1:10, o objetivo não é dizer o povo de Israel e os povos de Sodoma e Gomorra eram literalmente o mesmo povo. O objetivo era dizer que havia uma equivalência espiritual. Etnicamente, eram povos distintos. Espiritualmente, Israel não era mais Israel. Era Sodoma e Gomorra.
ESTE HOMEM NASCEU ALI
O Salmo 87 apresenta a ideia contrária. Enquanto Isaías chama Israel de Sodoma e Gomorra para dizer que o povo de Deus se tornou como um povo pagão, o Salmo 87 fala de povos pagãos que se tornariam o povo de Deus:
SALMO 87
(1) O seu fundamento está nos montes santos.
(2) O SENHOR ama as portas de Sião, mais do que todas as habitações de Jacó.
(3) Coisas gloriosas se dizem de ti, ó cidade de Deus.
(4) Farei menção de Raabe e de Babilônia àqueles que me conhecem: eis que da Filístia, e de Tiro, e da Etiópia, se dirá: Este homem nasceu ali.
(5) E de Sião se dirá: Este e aquele homem nasceram ali; e o mesmo Altíssimo a estabelecerá.
(6) O SENHOR contará na descrição dos povos que este homem nasceu ali. (Selá.)
(7) Assim os cantores como os tocadores de instrumentos estarão lá; todas as minhas fontes estão em ti.
Aqui o Salmo menciona diversas nações – Raabe (Egito), Babilônia, Filístia, Tiro, Etiópia – que naquele tempo eram idólatras, mas que, no futuro, serviriam ao Senhor. Como forma de enfatizar que eles serviriam ao Senhor, é dito que os crentes desses povos seriam contados como nascidos em Sião: “E de Sião se dirá: Este e aquele homem nasceram ali“. No Salmo 87, “Sião” é a cidade de Jerusalém, mas o objetivo não é dizer que todos os crentes desses povos literalmente nasceriam em Jerusalém. É dizer que eles seriam o povo de Deus. É nesse mesmo sentido que Paulo chama tanto os judeus étnicos quanto os gentios que fazem parte da Igreja de “Israel de Deus” (Gálatas 6:15-16). Eles são o Israel de Deus porque espiritualmente eles nasceram em Sião. É o mesmo que Paulo já tinha dito no capítulo 4:
GÁLATAS 4
(26) Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós.
(27) Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido.
(28) Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa como Isaque.
Quando Paulo diz que “a Jerusalém que é de cima” é “mãe de todos nós”, ele está falando de todos os crentes como filhos dessa mãe – judeus e gentios. Portanto, a ideia é exatamente a mesma do Salmo 87: “E de Sião se dirá: Este e aquele homem nasceram ali” (v. 5). Etnicamente, os judeus e os gentios – como Raabe (Egito), Babilônia, Filístia, Tiro, Etiópia – eram povos diferentes. Mas espiritualmente, por meio da fé, podem ser o mesmo povo – o Israel de Deus.

Disponível em:
https://catequesepresbiteriana.com/2019/01/17/a-base-veterotestamentaria-para-que-os-gentios-sejam-chamados-de-israel-de-deus/?fbclid=IwAR1RUBraCkRy1zHVHpkScX60BG2csRMXtOsRv64T4J-vENQPtDnUKkrF1rk acesso em:  17/01/2019

O FATÍDICO 12 DE JUNHO DE 1883

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