domingo, 20 de setembro de 2020

RESISTÊNCIAS EM MEIO A IMPLANTAÇÃO DO ESTADO NOVO

        Por: Paulo César da Silva

       É importante compreendermos a conjuntura política no período da implantação do Estado Novo. Neste sentido, fazia se necessário ao Estado, desenvolver uma imagem estereotipada do Brasil e que inculcasse nas pessoas a imagem de Vargas como “pai dos pobres”, para isto, instituiu-se o (Departamento de Imprensa e Propaganda) DIP. 

      Essa estrutura será o principal instrumento de repressão utilizado durante o Estado Novo, nesse sentido, o DIP, criado em 1939, tornou-se o principal instrumento de censura, propaganda e cooptação. O DIP para controlar a reprodução ideológica, utilizava-se de um amplo meio de comunicação produzindo muitas peças de propaganda, como cinejornais, matérias de jornais (oficiais), panfletos, cartilhas infantis, propagandas de rádio. 

   Consideremos também, As festas cívicas, muito comuns a partir de 1939, procuravam agregar as multidões de trabalhadores em torno da figura de Vargas, e, por consequência, em torno do Estado Novo, visto como guardião dos valores nacionais e da ordem social. O rádio foi utilizado de maneira eficiente pela propaganda oficial, alternando uma programação de entretenimento com a publicidade oficial, cujo exemplo maior era a Hora do Brasil, transmitida para todo território do país. A Rádio Mauá, por exemplo, era ligada ao Ministério do Trabalho e veiculava uma programação dirigida aos trabalhadores, reforçando a imagem pessoal de Vargas, o “trabalhador número 1”. 

    Há de se perceber ainda, outros modus operandi; se todo esse aparato falhasse na conformação das consciências em torno do Estado Novo, a censura e a repressão policial se encarregariam dos opositores. A censura, realizada a partir de 1939 também pelo DIP, não era organizada apenas para inculcar nas classes populares os valores do Estado Novo, mas também para impedir determinados temas no debate do público leitor de jornais. 

    Em 1940, houve 373 músicas censuradas como, por exemplo, a produção de Wilson Batista no samba malandro “O Bonde São Januário”. Vejamos: 

               [...] Quem trabalha é que tem razão 

               Eu digo e não tenho medo de errar 

               O bonde São Januário 

               Leva mais um operário 

               Sou eu que vou trabalhar 

               Antigamente eu não tinha juízo [...] 

      Note que a palavra, operário “sugerido” pelo DIP em contraponto a palavra, otário que constava na letra original; concebia um tom apologético, coerente com a ideologia difundida e demostrava a interversão do Estado. 

    Entretanto, a sociedade, através de manifestações, apresentavam resistências, no caso do samba O Bonde São Januário; cantavam a letra original “leva mais um otário”, expressando suas insatisfações; outras contrapartidas eram utilizadas também – “Se para os filmes de notícia do DIP era só chegar 10 minutos atrasado ao cinema, a Hora do Brasil foi popularmente apelidada de 'o fala sozinho'”. (1986, p. 40). 

     Enfim, o DIP, departamento de imprensa e propaganda, criado por Getúlio a fim de reprimir seus opositores e facilitar sua permanência no poder teve resistência popular, como destacamos. As manifestações de repúdio e boicote objetivavam resistir ao controle institucionalizado pelo Estado Novo, mesmo sobre forte supressão.


Paulo César da Silva é graduando do VI semestre em História

 pela UNISA Universidade Santo Amaro; Polo IDETE; Tauá-Ce.

__________________________________________________________________

Referências: 

NAPOLITANO, Marcos; HISTÓRIA DO BRASIL REPÚBLICA; da queda da Monarquia ao fim do Estado Novo; São Paulo; Contexto; 2016; p. 150 e 159. 

DIAS, Luiz Antônio; Vídeo aula; 2.10.FAP.VACP.CONTROLE SOCIAL E “RESISTÊNCIAS”; (Disponível em: http://digital.unisa.br/mod/page/view.php?id=557643; Acesso em: set./2020). 

Ataulfo Alves / Wilson Batista; O BONDE SÃO JANUÁRIO; (Disponível em: https://www.letras.mus.br/wilson-batista/259906/; Acesso em set./2020). 

LENHARO, Alcir. A SACRALIZAÇÃO DA POLÍTICA. Campinas: Papirus, 1986. 

SIQUEIRA, Lyvia Cristina; A CENSURA NO ESTADO NOVO DE GETÚLIO VARGAS; p. 21. (Disponível em: http://www.revista.universo.edu.br/index.php?journal=2013EAD1&page=article&op=viewArtic le&path%5B%5D=6486; Acesso em set./2020)

O FATÍDICO 12 DE JUNHO DE 1883

  Por Paulo César Silva [1] Nesse dia, o Juiz de Direito da Comarca da Vila de São João do Príncipe, Dr. José Balthazar Ferreira Facó, sui...