segunda-feira, 2 de maio de 2022

PARABÉNS, TAUÁ! 220 ANOS DE EMANCIPAÇÃO. (1802-2022)


Tauha ou Tauá, é a capital natural do sertão dos Inhamuns, com seu topônimo indefinido, pode ser na língua dos aborígenes, “barro amarelo”, para José de Alencar “barro vermelho”, Raimundo Girão já diz que “realmente é Barro, mas sem definição de cor”, para Valverde é “solo tipicamente laterizado”, no Grande Dicionário da Língua Portuguesa “Palmeira do Brasil, de cujos frutos se fazem vários objetos”, para Antônio Gomes de Freitas “Aldeia Antiga”[...]

Os colonizadores alcançando o centro sudoeste da Capitania do Ceará por volta de 1707, encontrou terras, e vastas terras habitadas por hordas selvagens sob o domínio da valente nação Jucás, abrigada as margens do riacho que leva o mesmo nome que desagua no Jaguaribe perto da Serra dos Boqueirões. Os ameríndios eram tenazes inimigos da colonização, enquanto não foram completamente vencidos pelas armas dos brancos, estes não puderam estender suas posses. Assim as paragens foram ocupadas a partir da segunda década do século XVIII, sendo Luiz Coelho Vidal e João de Almeida Vieira, os primeiros colonizadores a estabelecerem seus currais de gado nas ditas terras, sendo esta concedida por carta de sesmaria em de 06 de julho de 1717, onde fundou a Fazenda Tauha.

Alguns anos depois, Tauá era composto de duas grandes propriedades, uma ao lado direito das margens do Rio Trici, pertencente a José Alves Feitosa e outra do lado esquerdo, terras do Sargento-mor José Rodrigues de Matos, este que em 1762 erigiu com recursos próprios a igreja de Nossa Senhora do Rosário, hoje, templo matriz. Ao redor da igreja foram-se construindo residências, prédios para oficina de ourives, tenda de ferreiro, vendas e tabernas. Tornando a antiga fazenda a Povoação do Tauá.

Quando foi dada a ordem de separação dos Inhamuns do Icó, Tauá foi escolhida em detrimento a Arneiroz onde estava estabelecida a matriz da paróquia. Tauá levou ligeira vantagem por conter uma capela um juiz residente e claro, era as terras do Capitão-mor. Para além disso, foi considerado pelo Governador Bernardo Manoel de Vasconcelos a distância que os habitantes dos Inhamuns percorriam até o Icó e carecendo de uma melhor administração da justiça, já que a mesma era refúgio de criminosos. A elevação do povoado a condição de Vila, tinha entre outros fatores, conter essa onda de criminalidade crescente na região. Com isso, os moradores se comprometeram a construir uma casa para a Câmara, uma cadeia, e o pelourinho, que era o símbolo de uma Vila. Para tanto o Ouvidor José da Silva Coutinho cumpriu a determinação, pois publicou um decreto a 20 de abril de 1802, dando instruções ao povo dos Inhamuns para comparecer a Tauá no próximo dia 03 de maio, a fim de participar da festa de instalação da Vila sob a multa de 6$000 (seis mil réis) para quem não prestigiasse, diga-se de passagem, uma vaca era comercializada a 3$000 (três mil réis) e aos faltosos, o Ouvidor não abria mão de duas, pela paga da multa!

Era 03 de maio de 1802, com a presença da maioria dos habitantes os sinos da igreja badalavam enquanto o decreto era anunciado e o pelourinho erguido, todos davam três vivas em honra ao Príncipe Regente D. João. O Ouvidor procedeu de boa oratória para aquele momento dizendo que Deus havia ordenado, segundo ele, que os homens deviam ser reunidos em grupos, pois somente desta maneira, poderiam ser felizes e prósperos. A história já demostrou, (continuava em seu discurso) que os que vivem separados dos outros homens em condições anárquicas vivem como animais; mas uma vez transplantados para sociedades organizadas, perdem sua ferocidade e adquirem virtudes.

Então declarou o Ouvidor: "Eu estabeleço e vos entrego a Governança Municipal deste território com todos os privilégios, honras e invenções da Vila do Icó da qual é desanexada". A nova vila foi batizada de São João do Príncipe, nome escolhido pelo Governador em homenagem ao Príncipe Regente D. João.

____________

REFERENCIAS:

CHANDLER, Billy Jaynes. Os Feitosas e o Sertão dos Inhamuns; a história de uma família e uma comunidade no Nordeste do Brasil - 1700-1930, Tradução de Alexander F. Caskey e IgnácIo R. P. Montenegro. Fortaleza, Edições UFC; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.

FEITOSA, Aécio. INHAMUNS: - minha terra, minha gente -. Fortaleza: GrafHouse Gráfica Digital, 2011. 19 p. v. 1.

GOMES DE FREITAS, Antônio. INHAMUNS: Terra e Homens. Fortaleza: Editora Henriqueta Galeno, 1972.

LIMA, João Álcimo Viana. Documentos históricos do município de Tauá. Fortaleza: Caminhar, 2021.

SILVA, Paulo César. Potentados das Ribeiras do Jaguaribe : Feitosa e Montes, duas famílias pastoris deflagram um dos maiores conflitos por terras no interior do Ceará setecentista. Tauá/Ce. Ed. do Autor. 2022.

____________

IMAGEM:

Elevação da Vila de São João do Príncipe. Tela de Afonso Lopes. 1963.



O FATÍDICO 12 DE JUNHO DE 1883

  Por Paulo César Silva [1] Nesse dia, o Juiz de Direito da Comarca da Vila de São João do Príncipe, Dr. José Balthazar Ferreira Facó, sui...