Paulo César Silva[1]
Figura1: Busto Comemorativo do
Decênio de Getúlio Vargas (1930-1940).
Foto: Edilberto Honório.
O presente
artigo procura analisar uma fotografia despretensiosa de um busto, feita pelo
amigo Edilberto Honório, fixado em um imóvel na cidade de Tauá/Ceará e que
me chamou a atenção. Nesse busto de metal, aparentemente com um pouco mais de 30
cm de altura, há a seguinte descrição: “Decênio
1930-1940” e logo abaixo, “Guia da
Nacionalidade”.
[...] conseguimos descobrir que os bustos foram
confeccionados em 1940 por ocasião do aniversário de dez anos da Era Vargas. Não
foi possível descobrir o artista ou mesmo a fundição responsável pela produção
do objeto, apenas uma menção em um jornal de 1940 onde se diz que milhares
dessas peças foram produzidas e distribuídas em repartições públicas, partidos
políticos e dadas de presente a personalidades e autoridades. Também apuramos
que uma parte das peças foram produzidas em bronze enquanto uma parte, igual a
nossa, fora confeccionada em ferro fundido [2].
Ficando claro, nesse sentido, que se trata de uma peça comemorativa aos dez
anos do governo varguista e que várias foram produzidas e enviadas a diversas
cidades brasileiras.
Durante o regime do Estado Novo, era comum a ufania com a imagem de
Getúlio Vargas, sendo, inclusive, o DIP, responsável por essa difusão. Em meu
livro Instrumentalização Sociocultural no
Estado Novo, faço uma análise concisa sobre o referido assunto.
A descrição “Guia da Nacionalidade” representa bem esse
aspecto estado-novista. De acordo com SILVA (2022):
Há de se considerar o cuidado à imagem de Vargas,
como defensor de interesses populares, preocupado com a população e realizador
de suas reivindicações. Desenvolvendo um culto à personalidade, próprio de
regimes totalitários, consolidando prerrogativas populistas[3]
.
Destaca-se ainda
a fala do desembargador A. Saboia Lima, em seu discurso proferido no Instituto
Nacional de Ciência Política em 20 de Dezembro de 1941, sobre o Exército e o Estado Nacional onde faz a
seguinte referência sobre a figura política do Chefe de Estado: “O Brasil
confia plena e decididamente no seu providencial chefe — o Snr. Getúlio Vargas
— guia da Nacionalidade” [4].
SILVA assevera da seguinte forma: “Toda essa mobilização, convergia na construção
da imagem de um estado onipresente, com seu líder tomando as decisões necessárias,
sendo o promotor do bem-estar social” [5].
LIMA (1942) ressalta esse desejo de unificação
nacional, dizendo:
[...]
regime de autoridade, governo hábil e seguro, orientado pela visão esclarecida
de autêntico homem de Estado; consciência nacional cristalizada nos princípios
de ordem e de disciplina coletiva e essa rara coesão mental criada pela
aquisição de sentimentos comuns, de interesses que se fundem no mesmo bloco de
influência glótica e racial, que fazem o brasileiro do norte tão ligado, tão
preso ao solo da Pátria, com o gaúcho das coxilhas rio-grandenses ou o caboclo
dos sertões nordestinos [6].
Com relação ao período em que este busto foi enviado
à Tauá, presumo que chegou próximo do final da gestão do interventor Joel
Marques, já que o referido busto foi confeccionado no ano de 1940 e de acordo
com FREITAS (2019), Joel Marques era o interventor em Tauá até o ano de
1943:
Com a Constituição de 1934 em vigor, realizou-se em Tauá a eleição para Prefeito [...]. Venceu Joel Marques que governou por nove meses como prefeito eleito. Com a instalação do Estado Novo, em 1937, o prefeito assumiu o poder como interventor até 1943 [7].
Em tempo, vale destacar o belíssimo trabalho de restauro, produzido em uma peça similar apresentada no artigo: Getúlio Vargas – Guia da Nacionalidade, publicado pelo jornalista Douglas Nascimento, conforme imagens abaixo:
Figura 2: Busto Getúlio
Vargas. Imagem disponível em: https://saopauloantiga.com.br/guia-da-nacionalidade/.
Acesso em 08 jun. 2023. |
Figura 3: Busto Getúlio Vargas Restaurado. Imagem
disponível em: https://saopauloantiga.com.br/guia-da-nacionalidade/. Acesso em
08 jun. 2023 |
Por fim, ainda pouco se sabe sobre o referido busto, todavia, ressaltamos a importância desta iconografia para discussão em torno do regime do Estado Novo bem como suas decisões políticas, inclusive, alcançando regiões distantes, como os Inhamuns. Para tanto, seria oportuno que o mesmo fosse entregue aos cuidados do Museu Regional dos Inhamuns, permitindo a pesquisadores e estudantes, um ambiente mais acessível para análise, estudo e aula de campo.
REFERENCIAS:
FREITAS,
Mariano. Dondon Feitosa de Tauá /
Mariano Freitas. – Fortaleza: Tipogresso, 2019.
LIMA,
A. Saboia. O Exército e o Estado Nacional: (Discurso pronunciado no Instituto
Nacional de Ciência Política em 20 de Dezembro de 1941). Ciência
Política: Rio de Janeiro/RJ, ano 1942, v. III, n. VI, p. 33-36, jan. 1942.
Disponível em: http://memoria.bn.br/pdf/162493/per162493_1942_01006.pdf. Acesso
em: 8 jun. 2023.
NASCIMENTO,
Douglas. Getúlio Vargas: Guia da Nacionalidade. São Paulo/SP: São
Paulo Antiga, 4 jan. 2023. Disponível em:
https://saopauloantiga.com.br/guia-da-nacionalidade/. Acesso em: 8 jun. 2023.
SILVA,
Paulo César. Instrumentalização
Sociocultural no Estado Novo: Intervenções por meio do Departamento de
Imprensa e Propaganda-DIP. – 2. ed. – Tauá/CE : Ed. do Autor, 2022.
[1]
Graduado em História pela Universidade Santo Amaro (UNISA); historiador CRP 0000132/CE dedica-se à pesquisa historiográfica do Sertão dos Inhamuns; é membro
titular da cadeira nº 33 e presidente da Academia Tauaense de Letras (ATL),
tendo por patrono, Nertan Macedo; escritor; membro suplente do Conselho
PRESERVA-TAUÁ.
[2] NASCIMENTO,
Douglas. Getúlio Vargas: Guia da Nacionalidade. São Paulo/SP: São
Paulo Antiga, 4 jan. 2023. Disponível em:
https://saopauloantiga.com.br/guia-da-nacionalidade/. Acesso em: 8 jun. 2023.
[3] SILVA,
Paulo César. Instrumentalização
Sociocultural no Estado Novo: Intervenções por meio do Departamento de
Imprensa e Propaganda-DIP. – 2. ed. – Tauá/CE : Ed. do Autor, 2022, p. 73.
[4] LIMA,
A. Saboia. O Exército e o Estado Nacional: (Discurso pronunciado no Instituto
Nacional de Ciência Política em 20 de Dezembro de 1941). Ciência
Política: Rio de Janeiro/RJ, ano 1942, v. III, n. VI, p. 33-36, jan. 1942. Disponível em:
http://memoria.bn.br/pdf/162493/per162493_1942_01006.pdf. Acesso em: 8 jun.
2023. (Grifo do Autor)
[5] (SILVA,
2022, p. 74.)
[6]
LIMA, op. Cit., p. 36. (Grifo do Autor)
[7] FREITAS, Mariano. Dondon Feitosa de Tauá / Mariano Freitas. – Fortaleza: Tipogresso, 2019, p. 132.(Grifo do Autor)
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