sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

RISCA-ME, PEÇO-TE, DO TEU LIVRO


         Agora, pois, perdoa o seu pecado; se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito. Êxodo 32:32

         Em um debate sobre perseveração dos santos, houve uma citação que me intrigou e levou-me a questionar sobre o versículo supracitado, indagando-me na hipótese de  perca da salvação. Moisés cita duas palavras pertinentes “riscar” e “teu livro”.
         
         É sabido que a escritura assevera de maneira enfática a perseveração dos santos, há inúmeras passagens que corroboram com esse ponto na soteriologia reformada, a segurança da salvação está intrinsecamente ligada à Ordo Salutis, ou seja, a ordem dos eventos que diz respeito a salvação, tal doutrina foi veementemente defendida pelos reformadores no Sínodo de Dort.

        Sinodo de Dort Capitulo V -  Artigo 8 — A graça do triuno Deus preserva  - Assim, não é pelos seus próprios méritos ou força, mas pela imerecida misericórdia de Deus, que eles não se desviam totalmente da fé e da graça nem permanecem caídos para se perderem totalmente no final. Quanto a eles, isto facilmente poderia acontecer e aconteceria sem dúvida. Mas quanto a Deus, não há a menor possibilidade de que isso aconteça, pois o Seu conselho não pode ser mudado; a Sua promessa não pode falhar; o chamado segundo o Seu propósito não pode ser revogado; o mérito, a intercessão e a proteção de Cristo não podem ser anuladas; e o selar do Espírito Santo não pode ser frustrado nem  destruído. Sl 33.11; Hb 6.17; Rm 8.30, 34; 9.11; Lc 22.32; Ef 1.13. Refutando assim doutrinas contrárias e obscuras que trazem duvidas aos neófitos e apreensão aos fracos na fé.

         Sínodo de Dort Capitulo V - Erro 1 — A perseverança dos verdadeiros crentes não é fruto da eleição nem um dom de Deus obtido pela morte de Cristo, mas é uma condição da nova aliança que o homem tem a obrigação de cumprir pelo seu livre-arbítrio antes da sua assim chamada eleição e justificação decisivas.
 Refutação — A Sagrada Escritura testifica que a perseverança segue-se à eleição e é concedida ao eleito pela virtude da morte, ressurreição e intercessão de Cristo: “mas a eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos” (Rm 11.7). E também: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rm 8.32-35). Com essa certeza que as sagradas escrituras demostra a todos os eleitos e como o Apostolo Paulo consola aos Filipenses dizendo: “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará ate o dia de Jesus Cristo.”( Fp1.6) chegamos a conclusão que Moisés só poderia estar falando de outro “livro”, não o livro da vida aos qual os eleitos tem o nome escrito desde a fundação do mundo. Ap. 17:8; 13:8.

     Mas afinal, que livro é esse?

        O salmista nos dá uma resposta, vejamos: Sejam riscados do livro dos vivos, e não sejam inscritos com os justos. Sl 69:28; Veja, o Salmista se refere ao LIVRO DOS VIVOS.
Clemente Romano escrevendo aos Coríntios, diz o seguinte sobre o texto de Ex 32.32 - Quando Moisés subiu a montanha e passou quarenta dias e quarenta noites no jejum e na humildade, Deus lhe disse: “Desce depressa, pois o teu povo, aquele que fizeste sair do Egito, violou a lei. Eles depressa se afastaram do caminho que tu lhes tinhas ordenado, e fizeram para si ídolos de metal derretido”. E o Senhor lhe disse: “Eu te falei uma vez e até duas, dizendo: Vi este povo, e eis que é povo de cabeça dura. Deixa-me exterminá-los. Apagarei o nome deles debaixo do céu, e farei de ti uma nação, grande e admirável muito mais numerosa do que essa.” E Moisés respondeu: “De modo nenhum, Senhor. Perdoa o pecado desse povo ou cancela-me, também a mim, do livro dos vivos. [ Patrísticas – Padres Apostólicos, Vol I, Paulus, pág. 30] – a clareza do texto aqui reafirma a exegese que aponta para uma conclusão – TRATA-SE DO LIVRO DOS QUE ESTÃO VIVOS.

        Assim concluímos que este versículo não trata de perca de salvação ou da doutrina instável de salvação por meritocracia (hora salvo, hora condenado) ou ainda de riscar o nome do livro da vida, trazendo uma perspectiva sombria aos corações, pois sabemos que somos incapazes de produzir boas obras para sermos salvos e que a nossa certeza encontra-se na graça salvadora e eficaz realizada por Cristo no calvário, o versículo subsequente assevera esta conclusão, Então disse o Senhor a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro. Êxodo 32:33, ou seja - a morte física - não a rejeição e condenação espiritual a qual se dá a todos os preteridos, onde poderemos discorrer em outro artigo.

       Que o Eterno abençoe e ilumine a todos, e que a certeza da vida eterna possa repousar no coração de todos aqueles que foram chamados graciosamente por Cristo!


TEOLOGIA | SOTERIOLOGIA | VIDA CRISTÃ

Por Paulo César da Silva

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