por PR. ERIC KAMPEN
Há algum tempo, deparei-me com uma versão modificada da tradução inglesa do Catecismo de Heidelberg impresso em Londres no ano de 1617.1 É interessante saber que este Catecismo estava disponível para o mundo da língua inglesa já no início do século dezessete; o que é mais interessante e instrutivo ainda, é o prefácio fornecido pelo tradutor, que foi identificado apenas pelas iniciais “E.B.”. Este prefácio é endereçado “Aos Pais Cristãos, aos Chefes de Família, aos Diretores de Escolas e aos demais que têm jovens sob sua responsabilidade.” O autor estava preocupado com a negligência da catequização por aqueles que tinham jovens aos seus cuidados. Neste prefácio, o autor aponta seus três principais objetivos, que seriam: mostrar o benefício da catequização, remover o desprezo quanto a isto e provar que seus destinatários possuíam responsabilidade de catequizar aqueles que estão sob sua tutela. Uma revisão do que ele escreveu refrescará nosso entendimento sobre a catequização em geral. Espera-se que também traga uma renovação do compromisso dos pais em seu papel de catequizar. Tal compromisso, afinal, era a principal preocupação de E.B.
Benefícios da catequização
Com respeito aos benefícios do ensino do catecismo, o autor inicia mencionando que catequizar é beneficial com respeito à pregação, enquanto os ouvintes se tornarão aptos nos princípios da religião. Ele faz um elo com o batismo: pela instrução, os ouvintes estarão aptos a obter conforto de seu próprio batismo. Ele também traz uma ligação com a Ceia do Senhor: a catequização assegurará que aqueles que vêm à Mesa estarão adequadamente preparados e não comerão ou beberão condenação para si mesmos. A catequização também é essencial para aprender a entender a Escritura corretamente. Sem catequização as Escrituras permanecerão um livro fechado. Além disso, conhecê-la preservará as pessoas de impostores e sedutores espirituais. Também instilará o temor do Senhor, que é tão necessário para uma sociedade pacífica. Uma imagem mental vem à mente quando ele escreve que a catequização é como tomar alguém pela mão e liderá-la para sair das trevas e entrar na luz, à vista de Cristo e de Cristo crucificado. Somos relembrados da depravação da mente humana, quando ele escreve que a doutrina do Evangelho deve ser ensinada, uma vez que o homem natural não pode perceber as coisas de Deus por si só. Existe uma percepção dos diferentes níveis de maturidade cristã, quando ele escreve sobre dois tipos de cristãos, os bebês na fé e os que são mais maduros. Os que são bebês espirituais precisam de leite, não de carne. Por fim, a catequização é necessária para habilitar alguém a alcançar uma base firme na graça.
Deus realiza Seus propósitos
A fim de remover o desprezo à catequização, o autor afirma que, mesmo que catequizar possa parecer insensatez, não obstante Deus se utiliza desta ferramenta para alcançar o seu propósito. Está na mesma categoria da pregação, que é considerada loucura pelos homens. A loucura de Deus é mais forte que a sabedoria humana. Ele aponta como a catequização daqueles que estavam sob seus cuidados foi algo realizado fielmente por aqueles que já foram considerados nobres perante Deus como Abraão. Deveríamos seguir seus bons exemplos. Na mesma linha, mas agora usando exemplos da história da Igreja, ele aponta que a prática da catequização era praticada pelos Pais da Igreja nos primeiros séculos, e todas as igrejas que vieram da Grande Reforma urgem e exigem a catequização. O último ponto e talvez o mais importante seja que o ensino dos primeiros princípios da religião é uma ordenança apostólica.
De quem é o dever
Na terceira parte, o autor mostra como aqueles a quem ele se dirige possuem o dever de catequizar. Ele começa mencionando o fato de que todo cristão é um profeta com o dever geral de ensinar sobre Cristo. Se este é um dever geral, quanto mais para aqueles que possuem jovens confiados aos seus cuidados. Ele então foca especialmente no cabeça da família. É de grande importância enfatizar que com o papel da liderança, vem a obrigação de ensinar aos familiares. Este papel do cabeça do lar é reforçado pelos comandos explícitos para o ensino, como podemos encontrar em Deuteronômio 6, no Salmo 78 e em Efésios 6. Essas passagens destacam os pais. Além disso, ensinar sobre o SENHOR é uma dívida de amor. Não há maior demonstração de amor do que auxiliar os outros a conhecerem o caminho para a vida eterna. O autor ainda acrescenta o fato de que os crentes são filhos espirituais de Abraão e, portanto, deveriam fazer as obras de seu pai Abraão. Uma de suas obras foi se dedicar ao ensino dos que estavam sob seu cuidado. Ele segue afirmando que se alguém deseja que os de sua casa venham preparados para a Santa Ceia e não comam e bebam juízo para si, é preciso que sejam ensinados. Ele adiciona uma dimensão prática quando escreve que se alguém anseia por ter filhos obedientes, é preciso catequizá-los. Ele conclui dizendo que a família pode ser vista como uma pequena igreja. Como o ensino da doutrina é uma parte básica da vida da igreja, esta prática não deveria ser estranha à vida no lar.
Conclusão
O autor conclui explicando o porquê de ele não falar sobre os ministros e seu papel na catequização. Ele não via a necessidade de repetir algo que era comumente entendido como um dever do ministro. A preocupação era encorajar o ensino da doutrina além das paredes da igreja. Em resposta ao comentário de que “se os ministros cumprem seu papel, os pais não precisam fazer coisa alguma além de trazer seus filhos ao ministro”, ele responde que se os pais não se empenharem no ambiente privado da família, o benefício do ensino público poderá ser ameaçado. Replicando aos que dizem ser muito difícil catequizar, ele aponta os muitos auxílios disponíveis, incluindo aquela versão do Catecismo encontrada nas páginas seguintes.
As palavras do anônimo E.B., livremente resumidas, nos dão muito para pensar. Quanta catequização é feita em casa? Por fim, será que os pais garantem no mínimo que seus filhos saibam bem o catecismo antes da aula de catequese? A presença nesta aula é algo considerado como tão importante quanto a presença no culto dominical? Será que existe alguma discussão sobre o que foi aprendido na aula de catecismo? Vale reforçar repetindo que se os pais não fizerem algo quanto ao ensino do catecismo na privacidade do lar, o benefício do ensino público será ameaçado.
Que a leitura destas palavras nos mova a um zelo renovado no nosso dever profético com respeito aos nossos filhos e nos ajude a pagar nosso débito de amor. Ou seja, que nos ajude no nosso envolvimento no ensino dos filhos que Deus confiou ao nosso cuidado.
Nota:
1 A Catechisme or Briefe Instruction in the Principles and Grounds of the true Christian Religion. With a Short Treatise premised concerning the profit and necessity of Catechizing. [Um Catecismo ou uma Breve Instrução nos Princípios e Bases da verdadeira Religião Cristã. Com um Breve Tratado introdutório relativo ao benefício e à necessidade de Catequizar.] Londres: Impresso por Edward Griffin para Henry Featherstone, 1617.
TEOLOGIA | CATECISMO | MEMBRESIA
disponível em: https://revistadiakonia.org/catequizacao-e-o-lar/
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