por DR. CORNELIS VAN DAM
Onde as Escrituras mencionam essa atividade e o que ela pressupõe? Quais foram as ocasiões? A Bíblia não faz menção à dança romântica, masculina e feminina, que é bem conhecida em nosso mundo ocidental contemporâneo. A dança no Antigo Testamento era uma expressão de grande alegria. Era o inverso do luto e da lamentação (Sl 30.11; Ec 3.4; Lm 5.15). A dança, entretanto, estava associada a eventos especialmente felizes. Portanto, este artigo se concentrará nesse tipo de dança, e na maior parte, ignorará a dança influenciada ou associada a ritos e práticas pagãs (p. ex. Jz 21.19-23; 1 Rs 18.26; Mt 14.6).
Dança e louvor
Que evento poderia proporcionar mais alegria do que experimentar de Deus a libertação do mal? Não é de admirar que a dança esteja associada aos grandes feitos de libertação do Senhor. Aqui estão alguns exemplos, depois da vitória de Deus sobre os egípcios a quem ele afogou-os no mar:
“A profetisa Miriã, irmã de Arão, tomou um tamborim, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamborins e com danças. E Miriã lhes respondia: Cantai ao Senhor, porque gloriosamente triunfou e precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro”—Êx 15.20-21.
Quando o exército de Jefté retornou vitorioso da batalha contra os amonitas, sua filha se alegrou e saiu ao seu encontro “dançando ao som de tamborins” (Jz 11.34). Depois do triunfo de Davi sobre os filisteus, as mulheres saíram “cantando e dançando alegremente com tamborins e alaúdes. Enquanto dançavam, cantavam” (1 Sm 18.6-7). Quando Davi trouxe a arca do Senhor para Jerusalém, ele dançou “com toda a sua força… saltando e dançando diante do Senhor” em celebração ao favor do Senhor por ele (2 Sm 6.14-21). É claro que estas danças não foram para diversão social, mas sim para louvar a Deus por seus atos maravilhosos. Os salmos, portanto, exortam: “Regozije-se Israel no seu Criador, exultem no seu Rei os filhos de Sião. Louvem-lhe o nome com flauta; cantem-lhe salmos com adufe e harpa” — Sl 149.2-3 e também Sl 150.4.
O fato de que a dança e o louvor a Deus estavam relacionados aos tempos do Antigo Testamento não impediam um abuso da dança e da conduta pecaminosa. O principal exemplo é a dança que acompanhou a adoração do bezerro de ouro ao pé do Monte Sinai. Sob o pretexto de ser uma festa para o Senhor, eles dançaram e “Arão os deixara à solta” (Êx 32.25). Eles se entregaram àdiversão (Êx 32.6) que Moisés subsequentemente condenou muito severamente. Ele ordenou aos levitas que matassem os transgressores. Três mil homens morreram (Êx 32.25-28). O pecado foi tão grave que o Senhor atingiu o povo com uma praga e recusou-se a acompanhá-los posteriormente (Êx 32.35; 33.3).
Existe uma dança litúrgica hoje?
Tendo em vista que o Antigo Testamento fala de dança no contexto de louvor a Deus, algumas igrejas, incluindo as reformadas, incluem uma dança litúrgica em sua liturgia. Devemos fazer isso também? Quando você pensa sobre isso, é realmente uma questão de lógica observar as ocorrências mencionadas acima, como sugestão que esses fatos legitimam incluir uma dança litúrgica em nossos cultos regulares de adoração.
Primeiro, não há evidência de que a adoração regular do Antigo Testamento, conforme ordenada pelo Senhor Deus, incluísse a dança. Além disso, não há menção de dança no contexto da adoração no Novo Testamento. A reação da dança como um sinal espontâneo de gratidão a Deus foi aparentemente difundida nos tempos do Antigo Testamento. Podemos não ser tão exuberantemente inclinados quanto o povo do (antigo) Oriente Médio, mas quem às vezes não deseja pular de alegria porque está tão feliz e animado pelas bênçãos recebidas de Deus? Louvai-o com danças (Sl 145.3)! Tais demonstrações espontâneas de alegria ainda podem ser exibidas (cf. At 3.8). Contudo, incorporá-los à adoração formal é um assunto completamente diferente.
Segundo, se o que eu vi no YouTube (e eu assisti a vários clipes) é um indicativo, o tipo de danças litúrgicas apresentada atualmente nos cultos estão muito longe daquilo que lemos sobre a dança em louvor a Deus no Antigo Testamento. Hoje, as danças cuidadosamente coreografadas, ocupam o centro do palco e essa performance junto com os talentosos e belos dançarinos ou atores, rapidamente, tornam-se um foco importante e potencialmente sensual para o culto. O resultado é que a proclamação da Palavra não é mais central. Ao contrário da adoração do Antigo Testamento, que tinha muitos elementos externos e físicos no elaborado serviço do templo, nossa adoração é para ser em espírito e em verdade (Jo 4.23-24). Acontece na congregação, o lugar da habitação de Deus (2 Co 6.16) e é focada na Palavra. Uma dança litúrgica, juntamente com todos os ornamentos que a acompanham, é uma intrusão dura e estranha nesse ambiente. No século XVI, as igrejas reformadas rejeitaram corretamente as dramatizações de moralidade e outras ajudas teatrais para o culto e fazemos bem em continuar a seguir o exemplo.
Conclusão
Dançar e saltar de alegria foram expressões espontâneas maravilhosas de gratidão a Deus, por seus admiráveis atos de misericórdia e amor. Esse é o tipo de dança favorável que o Antigo Testamento aborda. Fazemos bem em não esquecer aquela alegria ingênua e entusiasmo que fazem as crianças pularem e saltarem de pura alegria. Afinal de contas, não permaneceremos durante toda a vida como pequenos filhos do nosso grande e maravilhoso Pai, que nos deu riquezas e bênçãos além da nossa imaginação mais extravagante!?
TEOLOGIA | LITURGIA | PRINCÍPIO REGULADOR
disponível em: https://revistadiakonia.org/dancando-de-alegria/
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