Tauha ou Tauá, é a capital natural do
sertão dos Inhamuns, com seu topônimo indefinido, pode ser na língua dos
aborígenes, “barro amarelo”, para José de Alencar “barro vermelho”, Raimundo
Girão já diz que “realmente é Barro, mas sem definição de cor”, para Valverde é
“solo tipicamente laterizado”, no Grande Dicionário da Língua Portuguesa “Palmeira
do Brasil, de cujos frutos se fazem vários objetos”, para Antônio Gomes de
Freitas “Aldeia Antiga”[...]
Os colonizadores alcançando o centro
sudoeste da Capitania do Ceará por volta de 1707, encontrou terras, e vastas
terras habitadas por hordas selvagens sob o domínio da valente nação Jucás,
abrigada as margens do riacho que leva o mesmo nome que desagua no Jaguaribe
perto da Serra dos Boqueirões. Os ameríndios eram tenazes inimigos da
colonização, enquanto não foram completamente vencidos pelas armas dos brancos,
estes não puderam estender suas posses. Assim as paragens foram ocupadas a
partir da segunda década do século XVIII, sendo Luiz Coelho Vidal e João de
Almeida Vieira, os primeiros colonizadores a estabelecerem seus currais de gado
nas ditas terras, sendo esta concedida por carta de sesmaria em de 06 de julho
de 1717, onde fundou a Fazenda Tauha.
Alguns anos depois, Tauá era composto de
duas grandes propriedades, uma ao lado direito das margens do Rio Trici,
pertencente a José Alves Feitosa e outra do lado esquerdo, terras do Sargento-mor
José Rodrigues de Matos, este que em 1762 erigiu com recursos próprios a igreja
de Nossa Senhora do Rosário, hoje, templo matriz. Ao redor da igreja foram-se
construindo residências, prédios para oficina de ourives, tenda de ferreiro,
vendas e tabernas. Tornando a antiga fazenda a Povoação do Tauá.
Quando foi dada a ordem de separação dos
Inhamuns do Icó, Tauá foi escolhida em detrimento a Arneiroz onde estava
estabelecida a matriz da paróquia. Tauá levou ligeira vantagem por conter uma
capela um juiz residente e claro, era as terras do Capitão-mor. Para além
disso, foi considerado pelo Governador Bernardo Manoel de Vasconcelos a
distância que os habitantes dos Inhamuns percorriam até o Icó e carecendo de
uma melhor administração da justiça, já que a mesma era refúgio de criminosos.
A elevação do povoado a condição de Vila, tinha entre outros fatores, conter
essa onda de criminalidade crescente na região. Com isso, os moradores se
comprometeram a construir uma casa para a Câmara, uma cadeia, e o pelourinho,
que era o símbolo de uma Vila. Para tanto o Ouvidor José da Silva Coutinho
cumpriu a determinação, pois publicou um decreto a 20 de abril de 1802, dando
instruções ao povo dos Inhamuns para comparecer a Tauá no próximo dia 03 de
maio, a fim de participar da festa de instalação da Vila sob a multa de 6$000
(seis mil réis) para quem não prestigiasse, diga-se de passagem, uma vaca era
comercializada a 3$000 (três mil réis) e aos faltosos, o Ouvidor não abria mão
de duas, pela paga da multa!
Era 03 de maio de 1802, com a presença
da maioria dos habitantes os sinos da igreja badalavam enquanto o decreto era
anunciado e o pelourinho erguido, todos davam três vivas em honra ao Príncipe
Regente D. João. O Ouvidor procedeu de boa oratória para aquele momento dizendo
que Deus havia ordenado, segundo ele, que os homens deviam ser reunidos em
grupos, pois somente desta maneira, poderiam ser felizes e prósperos. A
história já demostrou, (continuava em seu discurso) que os que vivem separados
dos outros homens em condições anárquicas vivem como animais; mas uma vez
transplantados para sociedades organizadas, perdem sua ferocidade e adquirem
virtudes.
Então declarou o Ouvidor: "Eu
estabeleço e vos entrego a Governança Municipal deste território com todos os
privilégios, honras e invenções da Vila do Icó da qual é desanexada". A
nova vila foi batizada de São João do Príncipe, nome escolhido pelo Governador
em homenagem ao Príncipe Regente D. João.
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REFERENCIAS:
CHANDLER,
Billy Jaynes. Os Feitosas e o Sertão dos
Inhamuns; a história de uma
família e uma comunidade no Nordeste do Brasil - 1700-1930, Tradução de
Alexander F. Caskey e IgnácIo R. P. Montenegro. Fortaleza, Edições UFC; Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.
FEITOSA, Aécio. INHAMUNS: - minha terra, minha gente -.
Fortaleza: GrafHouse Gráfica Digital, 2011. 19 p. v. 1.
GOMES DE FREITAS, Antônio. INHAMUNS: Terra e Homens.
Fortaleza: Editora Henriqueta Galeno, 1972.
LIMA,
João Álcimo Viana. Documentos históricos do município de Tauá. Fortaleza:
Caminhar, 2021.
SILVA,
Paulo César. Potentados das Ribeiras do Jaguaribe : Feitosa e Montes, duas
famílias pastoris deflagram um dos maiores conflitos por terras no interior do
Ceará setecentista. Tauá/Ce. Ed. do Autor. 2022.
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IMAGEM:
Elevação
da Vila de São João do Príncipe. Tela de Afonso Lopes. 1963.
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