ACADEMIA
TAUAENSE DE LETRAS – ATL
SILVA, Paulo César[1]
RESUMO
A
presente pesquisa analisa a trajetória de vida e as contribuições das obras
literárias de Nertan Macedo à história-cultural e à memória nordestina.
Verifica-se concisamente seu caminho profissional como jornalista, cronista,
teatrólogo, poeta e historiador. Realiza-se um breve levantamento de suas obras,
com ênfase em O Clã dos Inhamuns, considerando
sua relevância na historicidade relacionada ao sertão dos Inhamuns. Apura-se
seu reconhecimento notadamente reverenciado pelas academias e institutos mais
conceituados dos estados do Ceará e Goiás. Neste ínterim, apresentam-se os
discursos de posses e a sua recepção. Por fim, trazem-se alguns apontamentos,
de forma subjetiva, quanto à afinidade do autor com parentes e amigos em seus
escritos.
Palavras-Chaves: Nertan Macedo. Obras. O Clã dos Inhamuns. Academia.
INTRODUÇÃO
Pretendo averiguar,
através deste artigo, a biografia de um dos mais conceituados e habilidosos escritores
sertanistas, tornando-se uma das grandes fontes da historiografia nordestina,
Nertan Macêdo de Alcântara ou Nertan Macedo[2].
Procuro, por meio das
análises comedidas, apresentar um excerto da trajetória de sua vida no âmbito
pessoal, acadêmico e profissional, bem como das obras literárias deste eminente
escritor.
Para este projeto,
perpasso fontes historiográficas através de análises documentais, como artigos,
livros e revistas, recortes de jornais, entre outros. Além disso, consultei seu
sobrinho-neto, o historiador Licínio Nunes de Miranda, quem forneceu
informações relevantes e, de posse destes elementos, relaciono as hipóteses, concatenando
a importante contribuição literária de Nertan Macedo, oferecendo um arcabouço histórico-cultural
aos Inhamuns, ao Nordeste e, não me sinto constrangido a dizer, ao Brasil.
1. BIOGRAFIA
1.1 Quem foi Nertan Macedo?
O jovem Nertan, aos 15 anos de idade, já se enveredava na labuta literária, a propósito, ali se despontava um dos mais hábeis escritores nordestinos, seus livros, contabilizando mais de vinte obras publicadas, trazem o retrato do sertão, o cotidiano do sertanista, sua bravura, resiliência e obstinação, Nertan Macedo nos fornece a construção não só de uma sociedade, mas de uma cultura, de uma vivência, o modo matuto de superar as adversidades. Segundo José Bonifácio Câmara:
A sua obra está
impregnada da magia do sertão nordestino, da sua ecologia, do seu misticismo,
da saga dos cangaceiros a das lutas dos clãs pastoris, toda ela numa linguagem
literária de incomparável beleza e encantamento. [3]
Nertan Macedo foi além,
desbravou fronteiras, alcançou a Cidade Maravilhosa e lá, buscando manter-se
fiel a suas origens, continuou seu vigoroso trajeto literário. O reconhecimento
foi benemérito e era fundamental imortalizar nos anais da história cearense tal
brilhantismo. Foi assim que Nertan Macedo, em 1966, recebido por Hugo Catunda
na Academia Cearense de Letras, assumiu, com devido merecimento, o assento na
cadeira nº 7, do patrono Clóvis Beviláqua.
Já pelos idos de 1976,
é acolhido como membro do Instituto Cultural do Cariri-ICC, assumindo a cadeira
nº 17, do patrono João Brígido, sendo recebido pelo secretário-geral
Lindemberg de Aquino, condigna honra ao ilustre filho da terra. Outrossim, faço
saber sua posse como membro do Instituto Histórico e Geográfico do Estado de
Goiás – IHGEG, em 1976.
Nertan Macedo, o jornalista, cronista, teatrólogo, poeta e historiador, meritoriamente têm seu lugar e seu nome perpetuado neste ilustre ateneu em Tauá/Ceará. A cadeira de nº 33 da Academia Tauaense de Letras – ATL traz consigo, a responsabilidade e o compromisso de reverenciarmos este ilustríssimo escritor que, em seu arrojo literário, não abriu mão de esquadrinhar a história e a memória do Alto Sertão através de sua destacada obra O Clã dos Inhamuns.
1.2 Origem
NERTAN MACÊDO de
Alcântara é natural da cidade de Crato/Ceará, distante, aproximadamente, 512 km
da capital, Fortaleza. Crato fica localizado na microrregião do Cariri,
emancipada politicamente em 21 de junho de 1853.[4]
Nascido aos 20 de maio
de 1929, é filho de Júlio Teixeira de Alcântara e Corina Macêdo de Alcântara. Pela
raiz paterna, sua progênie remonta a Tristão Vaz Teixeira (c. 1395 – 1480),
escudeiro do infante Dom Henrique, o Navegador, pioneiro das expansões
marítimas portuguesas; pela raiz materna, descende de Diogo Álvares Correia (c.
1475 – 1557) conhecido pela alcunha de “Caramuru”, e de sua esposa, a índia
Paraguaçu, filha do cacique Taparica, da extinta tribo Tupinambás.[5]
Além de Nertan Macedo, o casal teve outros cinco filhos: José Denizard Macêdo de Alcântara, o primogênito da família; Rubens Dário Macêdo de Alcântara; Maria Valderez Alcântara Rebêlo; Flávio Macêdo de Alcântara, e Thales Macêdo de Alcântara, o caçula.[6]
1.3 Vida Pessoal
Segundo Licínio Nunes,
seu sobrinho-neto, a vida pessoal[MR1]
de Nertan tornou-se penosa com a separação de seus pais[MR2] ,
restando ao seu irmão primogênito a missão de assumir a responsabilidade de
cuidar dos irmãos mais novos; seu pai enveredou-se na dipsomania, vindo a
falecer no Pará. Corina Macedo tinha uma casa em Fortaleza/Ceará, para onde
veio na década de 1940, vivendo com sacrifício, obtinha recursos financeiros
por meio de um pensionato. Sobreponha a isso o fato de sua avó, Francisca
Sampaio de Melo, a "mãe Chite", ter casado pela segunda vez, seu novo
marido trouxe profundos prejuízos à família, gastando a fortuna em jogos e
bebedeiras.[7]
Nertan nutria muito
respeito e admiração por Denizard Macêdo, talvez pelo fato de ver em seu irmão
o exemplo de hombridade ou pela habilidade incrível que exercia como professor,
sua vida intelectual ou por todas estas coisas associadas. Sentimento este que
expressou nas linhas de Um cavaleiro da tradição, publicado pela revista
da Academia Cearense de Letras, edição 1987-1988, que em seus primeiros
parágrafos diz:
Meu
irmão, José Denizard Macedo de Alcântara, o mais velho de todos, foi a mais
forte influência espiritual ao longo da minha vida. Ele morreu relativamente
moço, aos 63 anos, de fulminante colapso cardíaco, nas proximidades da
Fortaleza de Nossa Senhora d'Assunção, numa madrugada de novembro. Era afilhado
de Nossa Senhora da Penha, padroeira do Crato, e a cidade de Fortaleza foi a
paisagem e a paixão urbanas da sua vida.
Figura
inesquecível, a desse bom irmão, pela ternura que escondia n'alma, sempre
fazendo questão de mostrar um cenho carregado, de ilusório, aparente
autoritarismo, que aos incautos parecia o retrato "fechadão" da sua
maneira peculiar de pensar e agir, em política, em casa ou no magistério. Não
era, porém, no fundo, nada disso. Foi com ele que aprendi uma lição que me tem
servido bastante pelo tempo afora: não acreditar em ideologias radicais como
"molduras perfeitas, acabadas" de certos espíritos julgados,
condenados ou exaltados, erradamente, como de Esquerda, Centro ou Direita. Pois
o que não falta na vida pública brasileira são certas figurinhas torpes que se
dizem liberais e não passam de tremendos farsantes, com esconsa vocação para a
crueldade e a ditadura, adoradoras que são do mando incontrastável e do poder
totalitário. Daí o sábio provérbio. "Se queres conhecer o vilão,
entrega-lhe o bastão" [...].[8]
Nertan Macedo casou-se
com Maria Gessen Amaral de Alcântara, mineira, natural de São Sebastião do
Paraíso-MG. O casal teve três filhos, José Luiz Maurício Amaral de Alcântara,
nascido na cidade do Rio de Janeiro-RJ no dia 05 de novembro de 1949, segundo
consta formou-se em Direito; Virginia Amaral Macedo de Alcântara nasceu em
Olinda-PE em 06 de novembro de 1951 e Paula Amaral Macêdo de Alcântara, nascida
em Fortaleza –CE em 30 de setembro de 1964.[9]
Ainda conforme o relato
de Licínio Nunes, José Luiz Mauricio Amaral de Alcântara, filho de Nertan, teve
um único filho, hoje com 30 anos, residente no Rio de Janeiro, guardião do
acervo do avô, entretanto, o neto não chegou a conhecê-lo. José Luiz Mauricio
de Amaral de Alcântara faleceu há alguns anos de infarto (como todos os demais
homens de família), não obstante, as filhas de Nertan, Virginia e Paula Macêdo ainda
vivem.[10]
José Bonifácio Câmara relata
sobre o amigo como um chefe de família exemplar, fraterno nas amizades, sempre
atento e prestativo para várias pessoas, independente do partidarismo,
inclusive, homenageando-os em seus livros conforme escrevia e publicava.[11]
Defendia com a veemência que lhe eram peculiares as ideias que elencava, capazes de trazer a felicidade do brasileiro, às quais se manteve fiel até a morte.[12] Talvez isso corrobore com a afirmativa quando entrevistado pela redação do jornal O POVO, onde declarou: “Visito o Ceará por amor e necessidade”.[13]
1.4 Formação e Área de Atuação
Estudou no Educandário
Santa Inês, na cidade do Crato; nos colégios Farias Brito, São João e Sete de
Setembro, em Fortaleza; na Escola Apostólica, em Baturité/CE; no Ginásio
Pernambucano, em Recife/PE, e no Colégio Juruena, no Rio de Janeiro/RJ.[14]
Foi aluno de latim de Lauro Oliveira Lima, enquanto tinha extrema dificuldade
com matemática, foi excepcional aluno de História.[15]
Iniciou
no jornalismo em Fortaleza; em Recife, trabalhou como redator dos jornais Diário
de Pernambuco e do Jornal de Comércio, fundou e dirigiu o jornal O
Dia. No Rio de Janeiro, trabalhou nos jornais: O Jornal, Vanguarda, Tribuna
da Imprensa e Jornal do Comércio, assim como nas revistas: Senhor, Observador
Econômico, Tradição, Brasil Açucareiro, este ligado ao órgão do Instituto
do Açúcar e do Álcool e REFFESA, pertencente à Rede Ferroviária Federal. Foi
diretor da revista Indústria e Produtividade, da Confederação Nacional
da Indústria. Foi diretor do Banco do Estado do Ceará. Chefiou o Serviço de
Imprensa do Governo Virgílio Távora e a representação do DASP no Rio de
Janeiro.[16]
Além disso, atuou como comentarista político na Folha de São Paulo.[17] Segundo
José Murilo Martins:
Foi
funcionário do Instituto do Açúcar e do Álcool, assessor do governo do Ceará,
diretor do Banco do Estado do Ceará e coordenador-chefe de relações públicas do
Ministério da Fazenda.
Jornalista,
cronista, teatrólogo, poeta e historiador, exerceram por anos a função de
redator de vários jornais e revistas de Fortaleza, Recife e Rio de Janeiro. [18]
Escritor com destacadas
obras publicadas, havendo várias reedições de alguns livros,[19]
entre os títulos: Caderno de Poesia (1949), Aspectos do Congresso Brasileiro (1956),
Cancioneiro de Lampião (1959), Rosário, Rifle e Punhal (1960), O Padre e a Beata (1961), Capitão Virgulino Ferreira Lampião (1962), Lampião - Capitão Virgulino Ferreira (1962),
A Morte de Lampião (1962), Memorial de Vilanova (1964), O Clã dos Inhamuns (1965), Dois Poetas Pernambucanos (1967), O Bacamarte dos Mourões (1966), O Clã de Santa Quitéria. (1967), Antônio Conselheiro (1969), Floro Bartolomeu – o caudilho dos Beatos e
Cangaceiros (1970), Cinco Histórias
Sangrentas de Lampião e Mais Cinco Histórias Sangrentas de Lampião (1970), Sinhô Pereira - O comandante de Lampião (1975).[20]
Suas atividades literárias tiveram início como poeta, publicando, no ano de 1944, aos 15 anos, o livro Poemas de um ginasiano. Dedicando-se aos estudos históricos, nunca mais deixou de trabalhar com a escrita em sua ligeira seis décadas de vida, descrevendo episódios trágicos do sertão cearense, entre os quais destacamos O Clã dos Inhamuns.
1.5 Vida Acadêmica
Ingressou
na Academia Cearense de Letras-ACL no dia 15 de agosto de 1966, sendo saudado
pelo acadêmico Hugo Catunda. Ocupou a cadeira nº 7, vacância
decorrente da morte de Mário Linhares, cujo patrono é o jurisconsulto Clóvis
Beviláqua.[21]
Em seu discurso de boas-vindas, Hugo Catunda disse o seguinte:
Havia
na Escola de Atenas um pequeno cerimonial destinado à recepção dos que se
iniciavam nos ensinamentos da filosofia socrática. Breve e simples, sem
alaridos verbais nem as vibrações dos vinhos capitosos da Trácia que
tumultuaram as tertúlias dos átrios de Academus, nem por isso o singelo
acolhimento aos iniciados de Sócrates desvestia o encanto ático da
espiritualidade helênica, suavemente esmaltado na lírica denominação daquele
rito, - a Festa da Esperança - com a qual se estimulava o interesse dos neófitos
pela doutrina espiritualista que aflorava em continuação à sofistica de
Protágoras, marcando um instante decisivo na evolução do pensamento antigo.
Era, assim, uma consagração que aos novos se antecipava através da manifestação
festiva de uma esperança que não devia falhar, mas, ao invés disto, teria de
afirmar-se em tempo breve, pela aquisição da sabedoria, para os torneios
dialéticos da filosofia clássica.
Bem
diferente, sr. Nertan Macedo, é a festa com que vos recebemos no brilho desta
noite acadêmica, pois, ao contrário do festim simbólico dos filósofos
atenienses, ela constitui não uma simples esperança, mas a consagração
definitiva de méritos primos e sobejos já afirmados pela vossa obra cultural, e
que há muito vos asseguravam direito indiscutível a um dos lugares desta Casa
[...].[22]
Nertan Macedo também foi
membro do Instituto Histórico[23]
do Cariri, e membro correspondente do Instituto do Ceará.[24]
Em sessão solene realizada
no auditório da Faculdade de Filosofia do Crato, na noite de 27 de fevereiro de
1973, Nertan Macedo tomou posse da Cadeira n° 17 do Instituto
Cultural do Cariri-ICC, que tem por patrono João Brígido dos Santos. O autor foi
recebido com um discurso de boas-vindas pelo secretário-geral Lindemberg de
Aquino.[25]
Já
em 22 de outubro de 1976, tomou posse como membro do Instituto Histórico e
Geográfico do Estado de Goiás – IHGEG. Solenidade que contou com a presença do
governador do estado Irapuan da Costa Júnior, presidida pelo professor Colemar
Natal e Silva, presidente do Instituto, com a mesa formada pelo governador, vice-governador,
José Luiz Bittencourt, ministro Aquino Porto; Gonçalves Bezerra, representante
do Ministro do Trabalho; deputado Juracy Teixeira, representante da Assembleia
Legislativa, e pelo jornalista Jaime Câmara, diretor de J. Câmara e Irmãos.[26] A
revista Itaytera, em sua coluna, destaca:
O professor Ático Vilas Boas Mota saudou o escritor Nertan Macedo, o Ceará, suas obras poéticas, folclóricas e históricas, dando-lhe as boas vindas a Goiás, como o mais novo membro do IHGEG, e augurando-lhe sempre sucessos nos seus empreendimentos literários. O governador Irapuan da Costa Júnior, ao fazer uso da palavra, também enalteceu a personalidade de Nertan Macedo, situando-o como um dos mais fecundos historiadores de nossa época, confessando sua alegria em ter o seu nome vinculado ao Instituto Histórico e Geográfico de Goiás e consequentemente ao Estado [...]. [27]
1.6 Morte
Nertan Macedo de
Alcântara, nascido no Crato, CE, em 20/05/1929, como supracitado, veio à óbito
em 30 de agosto de 1989 aos 60 anos, na cidade do Rio de Janeiro.[28]
Segundo
matéria publicada pelo jornal O POVO de 31 de agosto de 1989, Nertan
faleceu de enfarte em sua residência no Rio de Janeiro, às 16h. A matéria
relata ainda:
Os problemas
de coração começaram a um ano atrás, quando o jornalista se submeteu a uma
cirurgia no Instituto do Coração em São Paulo. No final do mês de julho, a
doença retornou e, a partir daí, começou um processo de novos exames [...]. [29]
O
Ceará perdia, naquele momento, um dos seus filhos ilustres; o Brasil perdia um
dos seus maiores escritores e um grande jornalista contemporâneo.[30] O
sepultamento se deu no dia 31 de agosto, na capital carioca.[31]
2. OBRAS LITERÁRIAS
Como percebemos, Nertan
Macedo dedicou-se boa parte da sua vida na produção literária, presenteando-nos
com obras magníficas. Estudioso afinco dos sertões, elaborou várias obras
destacando a vida, a cultura, a sociedade, as famílias e as relações dos povoadores
das terras nordestinas. O excursionismo é a grande marca dos seus trabalhos, delimitada
por dois momentos – as análises sobre os legítimos herdeiros das terras,
oferecendo subsídios sobre a formação social do Ceará e a poesia de seus
romanceiros. Seu olhar aguçado trouxe a lume episódios gravados na memória dos
mais humildes, impressões vivas, recriando heróis e guerrilheiros místicos.[32]
Apresenta-se
abaixo uma relação dos livros publicados desde 1944, acentuando O Clã dos Inhamuns, livro que expõe uma relação
direta do autor cratense aos sertanejos dos Inhamuns, mais especificamente, à
família Feitosa e suas contendas com a família Montes na disputa por terras
para criação de gado.
¾ Poemas
de um ginasiano – foi o início das suas atividades literárias,
o então poeta escreveu-o no ano de 1944, aos 15 anos, publicado pela Tip.
Moraes, Fortaleza. Com prefácio de Francisco Gentil Nogueira, os poemas são
dedicados a José Denizard, Pereira da Silva, Gentil Nogueira, Professor Luiz
Mendes, à madame E. R. Gonthier, Raul de Castro, Florêncio Holanda, Leonardo
Mota, Jesuítas de Baturité, Edilson Brasil Soárez, Hilton Cortez, Luís Teixeira
Barros, Afrânio Rodrigues, Geraldo Nogueira de Queiroz, Rómulo Mascarenhas e à
sua turma do ginásio.[33]
¾ Poemas esquecidos,
publicado pela Tip. Moraes, Fortaleza, 1945. Capa de Rubens de Azevedo e
prefácio de Mozart Sariano Aderaldo. Poemas dedicados a Rogaciano Leite,
Eduardo Campos, Helsine e Heldine Cortez, Moacir Teles, Aluízio Medeiros, à Laura
Alves, Francisco Freire, Raimundo Araújo, Filgueiras Lima, Alei Montenegro,
Benévolo de Andrade, José Cursino Pessoa, Nilo Sampaio, Carlyle Martins e Zé
Vieira Costa. O livrinho é dedicado a Vieira Monte, Mário Gurjão Pessoa, Rubens
de Azevedo, Airton Silva, R. Moreira Ribeiro e Romeu Menezes.[34]
¾ Posteriormente
publicou o livro Caderno de poesia pela Editora A Noite, no Rio de
Janeiro, em 1949.[35] Dedicado
à sua esposa Maria Gessen.[36] Sua
sinopse diz o seguinte:
Longe dos
grupos literários, circunscrito ao horizonte da própria solidão, o jovem poeta
se apresenta com uma mensagem que se destaca pelo seu cunho pessoal, pela
ausência de ligações com os postulados estéticos que às vezes, agrupando,
desfiguram e despersonalizam. É poesia moderna pelos temas e arquitetura dos
versos... Fundo e Substâncias se congraçam na poesia de Nertan. Sua disciplina
formal, que não se fecha ao hermetismo, antes se abre para captação das emoções
e paixões [...].[37]
¾ Já
no ano de 1956, lançou o livro Aspectos
do congresso brasileiro, publicado pela Editora Edições O Cruzeiro, no Rio
de Janeiro.[38]
Dedicado a Marcondes Filho e Nehemias Gueiros.[39]
¾ Em
1959, publicou o livro Cancioneiro de Lampião,
a primeira edição foi impressa pela Editora
Leitura, Rio de Janeiro,[40] a
segunda edição, publicada pelo Ministério da Educação e Cultura, Rio de
Janeiro, 1976. Gravuras de Jô Oliveira. Dedicado a Adonias Filho, Mauro Mota,
José Alberto Gueiros, Fernando de Oliveira Motta, Hélio Pina, Amilde Pedrosa,
Luís Santa Cruz e João Duarte Filho.[41] A
propósito, a obra serviu de inspiração para criação de uma peça teatral no curso
de Arte Dramática da Universidade Federal do Ceará - UFC.[42]
¾ Rosário, rifle e punhal,
sua primeira edição foi publicada pela Editora Leitura, no Rio de Janeiro, em 1960.[43] Dedicado
à memória de seu pai, Júlio Teixeira de Alcântara. Contém mais duas edições,
reunido com O padre e a beata.[44] Esta
obra também foi utilizada para criação de peça teatral no curso de Arte
Dramática da Universidade Federal do Ceará - UFC.[45]
¾ Em
1961, lança O padre e a beata, primeira
edição com prefácio de Jorge Amado, publicado pela Editora Leitura, no Rio de Janeiro.[46] Dedicado
a Barbosa Mello, Álvaro Moreyra e ao padre Antônio Gomes de Araújo, com mais
duas edições, reunido com Rosário, rifle
e punhal.[47]
¾ Publicado
pela Editora Renes, no Rio de Janeiro, em 1962, Lampião, Capitão Virgulino Ferreira.[48]
Dedicado a Jorge Amado, Valdemar Cavalcante e Manuel Gomes Maranhão.[49] Trazendo
em sua sinopse a seguinte descrição:
O texto do
presente volume prende-se apenas à história do cangaço, às causas do surgimento
da figura quase lendária do seu personagem central e dos que o seguiram para
levar ao interior do Nordeste o sobressalto e o espanto. Daí termos julgado
dispensável, para efeito de redução de custos, a republicação dos magníficos
prefácios assinados, nas edições anteriores, por Adonias Filho e Virginius de
Gama e Melo, assim como do Cancioneiro de Lampião, livro à parte, já com
edições autônomas. o Autor achou desnecessária a reprodução das notas por ele
escritas para as edições anteriores.[50]
¾ Já
nos idos de 1964, publica a obra Memorial
de vila nova pela editora Edições O Cruzeiro, no Rio de Janeiro,[51]
com segunda edição publicada pela Editora Renes, Rio de Janeiro, 1983. Dedicado
a Denizard Macedo, Milton Morais Correia, Dalton Costa Lima Vieira e José
Kleber Macedo.[52]
¾ No
ano de 1966, publica O bacamarte dos
mourões por meio da Editora
Instituto do Ceará, em Fortaleza – Ceará,[53] a
segunda edição é publicada pela Editora Renes, Rio de Janeiro, 1980. Dedicado à
sua esposa Maria Gessen.[54]
¾ A
obra O clã de Santa Quitéria foi publicada pela gráfica O Cruzeiro, Rio
de Janeiro, com sua primeira edição no ano de 1967 e segunda edição em 1980,
pela Editora Renes.[55] Dedicado a Hugo Catunda e Aderson
Magalhães (Ali Right).[56] Marcelo Pinto, em seu prefácio, inicia
sua análise sobre a obra dizendo:
Aliando ao
senso histórico a tendência para as indagações sociológicas, duas qualidades
que não se deviam separar, mas que infelizmente e com frequência não coincidem
na mesma pessoa; Nertan Macêdo acaba de publicar interessante estudo sobre
personalidades da Província do Ceará na fase do 2º Império, a que denominou “O
Clã de Santa Quitéria”. Logo se vê que o trabalho tem cunho de profundidade e
segurança, proporcionando ao leitor uma perspectiva clara do cenário regional
onde se desenvolveu o partidarismo daqueles que evoca, senhores absolutos das
posições governamentais, mas incapazes não só de exercerem um personalismo
exagerado, como de buscarem satisfação própria [...]. [57]
¾
Um pouco do exército ao longo da nossa história (conferência), na Escola Industrial Federal do
Ceará, Fortaleza, 1965. Dedicado à memória do Marechal Canrobert Pereira da
Costa.[58]
¾
Nertan Macedo na Academia Cearense de Letras (discursos), Departamento de Imprensa Oficial,
Fortaleza, 1966. Discursos de Nertan Macedo e Hugo Catunda.[59]
¾ Em
1967, pela Imprensa Universitária, em Recife/PE, é publicada a obra Dois poetas pernambucanos[60]
(Deolindo Tavares e Mauro Mota), Dedicado à memória de Moacir de Albuquerque.[61]
¾ Em
1968, é publicada a primeira edição de Cancioneiro
de Lampião e Capitão Virgulino Ferreira, Lampião, reunidos em um só volume,
impresso pela Edições O Cruzeiro, no Rio de Janeiro; uma terceira edição também
foi publicada pela mesma editora no ano de 1970; a quarta edição foi publicada
pela Editora Artenova, Rio de Janeiro, no ano de 1972.[62]
¾ Reunidos
em um só volume, O padre e a beata e Rosário, rifle e punhal foram lançado no
ano de 1969 pela Edições O Cruzeiro.[63]
¾ Em
1970, é publicada a obra FLORO BARTOLOMEU
(O caudilho dos beatos e cangaceiros) pela agência jornalística IMAGE, Rio
de Janeiro,[64]
com segunda edição publicada pela Editora Renes, Rio de Janeiro, 1986. Dedicado
à sua mãe, Corina Macedo de Alcântara.[65]
¾ Ainda
em 1970 são publicados dois volumes de bolso de Cinco histórias sangrentas de Lampião e Mais cinco histórias sangrentas de Lampião pela Editora Monterrey,
Rio de Janeiro.[66]
¾ Antônio Conselheiro,
Record Editora, Rio de Janeiro, 1969, com segunda edição pela Editora Renes,
Rio de Janeiro, 1978. Dedicado a Rachel de Queiroz e Octavio de Faria.[67]
¾ ABÍLIO WOLNEY (Um Coronel da Serra
Geral) foi publicada pela primeira vez em 1975 pela
Legenda Editora; tendo sua segunda edição publicada em 1980 pela Editora Renes,
Rio de Janeiro.[68]
Dedicado a Walter Fontoura e José Leal.[69]
¾ Pela
Editora Artenova, em 1975, é publicado SINHÔ
PEREIRA – o comandante de Lampião, com sua segunda edição publicada pela
Editora Renes em 1980, ambas no Rio de Janeiro.[70]
Dedicado à llusca, Lilian, Mário Henrique Simonsen e Humberto Barreto.[71]
¾ Da Provence ao Capibaribe (Charles
Maurras e Gilberto Freyre) é publicado em 1980, pela Editora
Renes, Rio de Janeiro. [72]
Dedicado a José Alberto Gueiros e Renaldo A. Essinger.[73]
¾ Volta seca, o menino cangaceiro,
Editora Thesaurus, Brasília, 1982. Dedicado a Melquíades Pinto Paiva.[74]
¾ Agreste, mata e sertão,
Secretaria de Cultura e Desporto, Fortaleza, 1984. Dedicado a Antônio Girão
Barroso, à Maria Conceição Souza, Eduardo Campos, Clímaco Bezerra e José
Bonifácio Câmara.[75]
¾ Por
fim, O clã dos Inhamuns (Uma família de
guerreiros e pastores das cabeceiras do Jaguaribe), tendo sua primeira edição lançada pela Editora
Comédia Cearense, Fortaleza, no ano de 1965; posteriormente, em 1967, foi
lançada a segunda edição pela Editora A Fortaleza, Fortaleza, Ceará; já em 1980,
pela Editora Renes, Rio de Janeiro, é publicada a terceira edição.[76]
Presenteia-nos a todos inhamunhenses
com esta obra-prima, trazendo a bravura e a valentia dos desbravadores daqueles
outrora sertões esquecidos. Nertan se
concentra nos aspectos socioculturais relacionados ao modo de viver e a
sobreviver em terras povoadas por selvagens indígenas, não obstante, o sertão
oferecia terras, que propiciaram aos colonizadores a oportunidade de
desenvolverem a criação de seus gados e assentarem suas famílias e seus
agregados. Fernandes Távora diz:
Neste
livro, produto de exaustivas pesquisas em bibliotecas, cartórios e velhos baús
sertanejos, mostra-nos ele, pacientemente, fatos e dramas que a voracidade do
tempo ia consumindo e apagando, na memória das novas gerações.
Para reviver
essa verdadeira epopeia da conquista do sertão Centro-Oeste do Ceará, o autor
não poupou esforços; e sua extraordinária pertinácia nas perquirições que o
levaram ao objetivo colimado, é digno de aplausos e louvores [...].[77]
Nesse ínterim,
travou-se uma das batalhas mais sangrentas da história desses sertões altos, a
contenda entre Montes e Feitosa, recorte muito explorado pelo autor, trazendo à arena
historiográfica escritores afamados pela crítica cearense, como Pedro Théberge,
João Brígido, Antônio Bezerra, Leonardo Feitosa, entre outros, comparando suas
interpretações sobre esse período da
história dos Inhamuns, bem como outros assuntos relacionados ao estabelecimento
e às posses da família Feitosa na região das cabeceiras do Jaguaribe.
Em Inhamuns Terra e Homens, Antônio Gomes de Freitas faz a seguinte
menção:
Existem ainda
dois grandes livros, em cujas páginas brilhantes repassam sobre cousas e fatos
dos Inhamuns e sua gente: << Retalhos do Passado>> do falecido
Professor Joaquim Pimenta, ilustre sociólogo, filho de Tauá, e <<Clã dos Inhamuns>>, de autoria do aplaudido
escritor Nertan Macedo[78] [...].[79]
Hugo Catunda cita O Clã dos Inhamuns prefaciando o livro Inhamuns Terra e Homens de Antônio Gomes
de Freitas, destacando a configuração estética (apresentada na obra) ao que era
tosco e bárbaro ao conteúdo histórico-cultural daquelas velhas terras do
planalto, marcadas de beleza e evocações.[80]
Em
carta enviada ao escritor Nertan Macedo, quando este tinha publicado a primeira
edição em 1965, Maria da Conceição Feitosa e Castro (Santinha Feitosa) faz o
seguinte relato:
Ilmo.
Escritor Nertan Macedo – Meus Cumprimentos.
Acabo de ler o
livro da autoria de V. Sia. O Clã dos
Inhamuns. Gostei bastante do modo que V. Sia. Relata os fatos de minha
família, procurando dizê-los com verdade, sem paixão e sem ódio como outros o
fizeram [...].[81]
Frei Angelino Caio
Feitosa, da Ordem Franciscana, que esteve por algum tempo em Canindé, como
relata o autor, e residia no Convento de São Francisco, Serinhaém – PE,
apresenta algumas considerações sobre a obra: “Acabo de ler o livro O Clã dos
Inhamuns, o que fiz com crescente prazer [...].”[82]
Indiscutivelmente um grande legado nos outorgou Nertan Macedo em O Clã dos Inhamuns, eternizando, nas entrelinhas da história, com a habilidade de escrita que lhe era peculiar, a memória dos primórdios que desbravaram toda essa Sertânia.
3. CINEMA E TEATRO
Destaca-se o filme Lampião, o rei do cangaço, (1964), que narra
a história do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião, e a
trajetória do menino pobre, nascido no sertão de Pernambuco, que tornou-se um
dos homens mais procurados e conhecidos do Brasil. O roteiro é baseado nas
obras: Lampião – O Rei do Cangaço, de
Eduardo Barbosa e Capitão Virgulino
“Lampião” de Nertan Macedo.[83] O
filme, com direção de Carlos Coimbra, apresenta a trajetória de Lampião, um dos
mais temidos e respeitados cangaceiros de todos os tempos.[84]
Já na década de 1960, o
teatro cearense teria mais um período de efervescência, liderado pela figura de
B. de Paiva (José Maria Bezerra de Paiva), é criado o curso de Arte Dramática da
Universidade Federal do Ceará-UFC pelo então reitor Antônio Martins Filho, no
ano de 1961. O curso apresenta novas
propostas cênicas e uma nova geração de atores, dando oportunidade, a quem quiser,
de iniciar no teatro de maneira correta. Entre as grandes peças do Teatro Universitário,
estão: Auto da Compadecida, A Raposa e as
Uvas, Antígona, Bodas de Sangue, Macbeth, e a dramatização dos poemas Lamento pela Morte de Inácio de Lorca, e
Cancioneiro de Lampião; Rosário,
Rifles e Punhal, de Nertan Macedo[85].[86]
Outras peças teatrais,
conforme José Bonifácio Câmara, representadas são:
¾ Cancioneiro de Lampião,
adaptação de José Luiz Ribeiro, Juiz de Fora, 1967.
¾ A viagem do anjo Paulinho à terra
(teatro infantil), Comédia Cearense, nº 2, Fortaleza.
¾ A guerra do Benze-Cacete. Comédia
Cearense, nº 5, Fortaleza, 1978.[87]
4. DISCURSOS E POSSES
4.1 Discurso na íntegra de Hugo Catunda, saudando a chegada
de Nertan Macedo à Academia Cearense de Letras – ACL
Discurso
proferido em 15 de agosto de 1966 por Hugo Catunda, recepcionando o mais novo
membro da Academia Cearense de Letras, Nertan Macedo, assumindo a cadeira de nº
7, vacância decorrente do falecimento de Mário Linhares, tendo como patrono
Clóvis Beviláqua.[88]
Hugo Catunda
Havia na Escola de Atenas
um pequeno cerimonial destinado à recepção dos que se iniciavam nos
ensinamentos da filosofia socrática. Breve e simples, sem alaridos verbais nem
as vibrações dos vinhos capitosos da Trácia que tumultuaram as tertúlias ·dos
átrios de Academus, nem por isso o
singelo acolhimento aos iniciados de Sócrates desvestia o encanto ático da
espiritualidade helênica, suavemente esmaltado na lírica denominação daquele
rito - a Festa da Esperança -, com a qual se estimulava o interesse dos
neófitos pela doutrina espiritualista que aflorava em continuação à sofistica
de Protágoras, marcando um instante decisivo na evolução do pensamento antigo.
Era, assim, uma consagração que, aos novos, se antecipava através da
manifestação festiva de uma esperança que não devia falhar, mas, ao invés disso,
teria de afirmar-se em tempo breve, pela aquisição da sabedoria, para os
torneios dialéticos da filosofia clássica.
Bem diferente, sr.
Nertan Macedo, é a festa com que vos recebemos no brilho desta noite acadêmica,
pois, ao contrário do festim simbólico dos filósofos atenienses, ela constitui
não uma simples esperança, mas a consagração definitiva de méritos primos e
sobejos já afirmados pela vossa obra cultural, e que há muito vos asseguravam
direito indiscutível a um dos lugares desta Casa.
Não viestes, pois,
bater às portas ilustres da Academia, porque elas já vos estavam abertas para a
acolhida calorosa e fraterna. Nem aqui chegais como os que, empós longa caminhada
na colheita provida de louros, procuram apagar a luz do seu brandão para
repousar tranquilos sobre a imortalidade e os lauréis do renome.
Se lá fora já fizestes
muito, se muito já colhestes na vindima iluminada dos sonhos, das ideias e do
pensamento em que o vosso espírito engalanou-se para a oferenda lírica dos
frutos, aqui muito tereis ainda de sonhar e realizar no campo da inteligência e
da cultura, sempre ricos de atrações para a intensa sensibilidade do vosso
espírito. É que pequena não será, de certo, a tarefa que vos aguarda na obra
ímpar que a Academia Cearense de Letras, há mais de meio século, vem realizando
pelo maior brilho do nosso renome cultural, pelo prestígio das nossas letras, pela
preservação do nosso patrimônio artístico e pelo estudo das nossas
singularidades físicas e das características étnicas e sociais que nos
condicionam a vida e explicam o nosso comportamento, face aos rudes e
irremovíveis determinismos telúricos que nos subjugam. E a certeza de que aqui
bem cumprireis a vossa missão, ressalta do sentido mesmo por que tendes sabido
conduzir a vossa própria existência, toda ela dedicada ao serviço da cultura e
da sua exaltação, ao amor do Belo e do Sensível, numa peleja lúcida e fecunda,
cujos frutos opimos nos asseguram a abundância de outros tantos que, nesta
Casa, por igual, tereis de colher.
E, se me permitis
discretear um pouco sobre essa peleja que vos enobrece o nome, eu recordaria, de
início, que, por entre os abrolhos e os cerrados que cobrem o caminho de todas
as lutas, a vossa iniciou-se singularmente, abrindo clareiras de suavidade e
harmonia que, no alvorejar da vida, aos dezesseis anos de idade, já
versejáveis, e apareceram, então, na província, os vossos primeiros livros de
versos, bem recebidos pela crítica literária que exaltou, sem reservas, a vossa
estreia no mundo orquestral dos ritmos.
Mas a vossa definitiva
afirmação poética no plano nacional nos veio com a publicação, no Rio de
Janeiro, do vosso Caderno de Poesia,
com honrosa e consagradora apresentação de Ledo Ivo e festivamente recebido
pelos mais distinguidos críticos de literatura e de arte da antiga capital da
República. Caderno de Poesia é, sem
dúvida, um documento expressivo de como soubestes realizar o culto da forma em
função da beleza. , para alcançar este recurso estético, procurastes, antes de
tudo, ser autêntico, não vos prendendo ao ritmo convencional e uniforme de
certas correntes literárias, no qual a expressão formal, os símbolos e as
imagens à míngua de espontaneidade e fluência, e à força de serem repetidas,
perdem, inevitavelmente, o seu poder de sugestão. Voltastes-vos, ao invés disso,
livremente para a própria inspiração sentida e vivida intimamente, e que tão
bem soubestes traduzir na expressão da vossa poesia, na qual se refletem originalmente
não só a vossa visão da vida, das suas motivações e das cousas que a exaltam,
senão também as tonalidades delicadas do vosso temperamento e da vossa natureza
humana. Com efeito, a vossa visão da vida, ao lado da vossa aguda receptividade
sensitiva, em contato com o mundo exterior, e dele recebendo o influxo dos seus
dramas e das suas emoções para estilizá-los em suaves afirmações estéticas,
constituem o centro e o destino da vossa poesia de vigorosa imaginação onde se
misturam, magnificamente, um poético sensualismo e uma suave sensação de
espiritualidade, transparecendo em alegorias e imagens de sugestiva beleza.
Dir-se-ia que apanhastes a lição dos que insinuam - cria o teu ritmo e criarás
o mundo. Daí por que fostes original e marcante pela sinceridade e pela arte de
expressão, sugestivo pela nobreza da sensibilidade e afirmativo pelo vigor da
vossa mensagem lírica. Entre os delírios e os desmantelas de tantos versos
informes e imitados que andam por aí, a vossa poesia toma realmente a feição de
alguma cousa diferente e repousante, com as suas evocações sentidas, com a sua
inspiração, com a sua musicalidade, com a sua beleza formal e expressional. É
que não fizestes versos ao acaso, impulsionado simplesmente pela força criadora
da vocação natural, mas, sobretudo, pelo sentimento inspirador que vivia em vós
mesmo, e tão bem soubestes ordenar na escala da beleza artística. Aliás, a
poesia está presente em toda a vossa obra literária. Nos vossos livros, na
prosa erudita, quando versais assuntos não poéticos, sente-se realmente aqui e
ali, o toque ligeiro da sua presença sutil e amena, suavizando a objetividade
dos temas e a natural aridez das narrativas.
Mas por que pretender ir além, analisando a
vossa obra poética, eu, que de versos nada sei, e, apenas por um dom que Deus
concedeu a todas as criaturas, sinto a poesia que ressai, visível e tocável, da
harmonia e até dos contrastes do mundo exterior, espelhando-se nas paisagens
amenas que enfeitam e opulentam as formas infinitas da natureza? Prudente é
ficar por aqui mesmo, atento ao conselho de Apeles, e lembrado do insucesso de
certo fidalgo napolitano que se bateu em duelo catorze vezes para provar que
Dante era superior a Ariosto e, ao falecer, vítima do ferimento recebido no
último desses duelos, confessou melancolicamente que nunca entendera Dante nem
Ariosto.
Já se afirmou que o
poeta não tem o direito de ser outra cousa senão poeta. O conceito, como vedes,
sr. Nertan Macedo, parece não comportar restrições e prende o destino do
artista à perenidade cantante do sonoro destino da cigarra. Mas a verdade é que
os poetas, talvez porque muito esvoaçam pelos intermúndios do sonho, não raro
atravessam as fronteiras luminosas da sua arte e se revelam além, em outras
formas de realização, embora o sinal de nascença permaneça indelével e
inspirador, no prisma fantasista da imaginação criadora. Sois um destes que,
atuando em outras formas de vida, sempre guardaram fidelidade à poesia, cuja
presença reponta na harmonia e na humanidade dos gestos e das atitudes que
definem o seu comportamento em outras latitudes. Porque foi, com efeito, o
poeta disfarçado no prosador, no escritor brilhante, no pesquisador paciente e
arguto, quem nos deu também tantos outros livros sobre temas e assuntos ligados
intimamente com a paisagem nordestina e nos quais estão desenhados com forte relevo
artístico e com os tons frementes da realidade cósmica, a agrestia da terra
ensolarada, cujos cenários e perspectivas, colhidos na infância, se fixaram,
com nitidez, na vossa memória visual, permanecendo impressos na retina
sentimental da vossa alma de artista. As vossas obras que nos vieram depois dos
vossos livros de poesia, numa fecundidade raramente alcançada pelos escritores
da vossa idade - Cancioneiro de Lampião,
Rosário, Rifle e Punhal, Aspectos do
Congresso Brasileiro, O Padre e a
Beata, com prefácio de Jorge Amado, Memorial
de Vila Nova, Capitão Virgulino
Ferreira Lampião, com apresentação de Adonias Filho, da Academia Brasileira
de Letras, Clã dos lnhamuns e O Bacamarte dos Mourões, enriquecem a
vossa bagagem literária não só pela quantidade, senão também e especialmente
pelo mérito, pela atração e interesse que realmente não me seria possível, no
breve espaço de uma saudação protocolar, referir-me particularmente a cada um
dos vossos livros, bastando assinalar, para ressaltar a justa irradiação do
vosso nome e da vossa fama de escritor, a simpatia e a consagradora
receptividade com que os acolheu a crítica literária nacional. Mas não me corro
de referir-me, ainda que de passagem, a alguns dos vossos livros que mais me
sensibilizaram e aumentaram em mim a admiração que já tributava à vossa
impressionante personalidade literária. Antes, porém, desejo assinalar que,
distante do Ceará, num meio ultracivilizado e absorvente como o Rio de Janeiro,
tão cheio de atrações sedutoras, capazes de transformar o pensamento e as
tendências dos que delas participam, guardastes, indelevelmente, a nostalgia
cósmica, a lembrança sentida e amorável da terra natal, dos seus mares
lendários, das suas serras e dos seus sertões cheios de silêncios e às vezes de
assombros, com a sua gente triste e poética, também cheia de bravura e canções,
de crendices e misticismo. A paisagem distante e essas figuras humanas que a
povoam estão, com efeito, presentes em quase todos os vossos livros - animadas,
ingênuas e boas, em definições autênticas e vibrações vitais. A introdução do
vosso livro Capitão Virgulino Ferreira,
Lampião, no qual descreveis o mundo e a geografia do herói sinistro, ou
seja, como bem os ·denominais, o país dos nordestinos, é, por exemplo, um
capítulo evocativo de impressionante beleza e realismo, e valeria, por si só, o
livro, não fora todo ele uma viva atração rica de interesse e curiosidade para
quantos leram aquelas páginas épicas sobre a vida trágica do Rei do Cangaço.
Com efeito, situando-vos entre a simplicidade impressionista de Gustavo
Barroso, em Terra de Sol, e a ênfase frondejante de Euclides da Cunha,
em Os Sertões, fixastes com autêntica
originalidade e admirável poder descritivo, a natureza física e as nuanças
todas representativas da realidade telúrica, o quadro amplo e sugestivo do país
dos nordestinos, que ressai de vossas páginas com uma serena beleza,
vibratilizada por uma linguagem concisa e adequada, sem angulosidades rudes nem
arrebatamentos flamejantes. Há, em tudo, um colorido novo e um ressalto, a um
tempo vigoroso e sereno, quase cantante, à maneira de uma rapsódia torrencial
por onde fluem, na fixação do complexo e ecológico, todas as singularidades da
paisagem geográfica e humana, refletindo, agudamente, angústias e grandeza de
uma terra torturada pela inclemência clínica e de uma raça de heróis e
sofredores que guarda intactos a rijeza, as qualidades morais e o
sentimentalismo de sua origem étnica, ainda não desfibrada pela intrusão do
cosmopolitismo deformador. Dispondo de seguros recursos verbais e grande poder
de síntese, aliados a uma viva memórias das causas, longe de sobrecarregar a
tela com as cores irreais da imaginação exaltada, ou minúcias perturbadoras da visão
do conjunto, servistes-vos da descrição concisa, fluente e impressionante que,
ferindo a imaginação, nos obriga a uma pausa na leitura da introdução do vosso
livro para a contemplação mental dos quadros e cenários ali fixados em largas
pinceladas. Cada escritor vê, através do pensamento, as cenas e os fatos que descreve
a realidade que pinta e as imagens que evoca. O que lhe cabe evitar é que a
visão pessoalíssima se deixe perturbar pela vibração emotiva, de modo a alterar
a objetividade das cousas, sobrepondo-a à sua mesma realidade que pode ser evocada
a cores fortes, mas nunca deformada pelos artifícios da imaginação fantasista.
Certo, este dom de equilíbrio, esta capacidade viril de reproduzir a objetividade
do mundo real sem a deformar pela forte sugestividade das impressões, e de
manter, em toda a pujança, a personalidade própria na impressividade dos
cenários naturais e dos quadros que evoca, é o traço dos escritores que jogam
com estilo próprio, é a vigorosa característica dos mestres da prosa. Este dom
de equilíbrio bem o revelastes naquelas páginas de sóbria beleza, eruditas e
picturais, nas quais, sem as névoas da imaginação fértil que desluzem e esfumam
os contornos dos quadros reais, descreveis o país dos nordestinos, situando-o
com os verdadeiros tons da realidade cósmica entre o sertão fabuloso de Coelho
Neto, cheio somente de solitários desesperos e o sertão lírico de Afonso
Arinos, cheio de lianas verdes e do ácido perfume das flores silvestres.
O vosso apego às cousas
da terra, este prazer de esmiuçá-las e de reproduzi-las, com afetividade, nas
páginas dos vossos livros, vos levaria fatalmente à curiosidade, ao desejo de
ir além, de pesquisar na tradição e nas heurísticas cousas e fatos tão mais
distantes, que colorizaram a nossa história e dramatizaram a vida do homem,
antes não alcançados, ainda, pelo raio projetante da vossa visão de artista.
Daí o historiador em que, por fim, vos revelastes, de maneira talvez surpreendente
para os que ainda não haviam atinado para os rumos indesviáveis que vos conduzia
o sentido regionalista da vossa obra literária. E, no vosso caso, a história
não roubou à arte o seu expoente, pois a história também é arte pelo sentido da
expressão, pela revelação e avaliamento dos valores históricos quando evocados
e identificados através de uma composição literária de perfeição estilística e
de sabor artístico. Na antiguidade clássica, os gregos já pensavam assim e até opinavam
que a própria filosofia, no mesmo sentido da expressão, devia guardar uma conceituação
artística. A obra de Bergson, por exemplo, é uma obra de filósofo no conteúdo,
e de artista na forma, o que, por igual, em relação à história, verifica-se em
Taine, nas suas Origens da França
Contemporânea, e em Macaulay, o imortal autor do Ensaio de Crítica Histórica. O que não fizeram eles – porque nem
Taine seria autêntico historiador, nem Bergson autêntico filósofo – foi fantasiar
a história e a filosofia com o objetivo de torná-las mais artísticas e mais
agradáveis ao grande público.
Quando escrevestes os vossos
livros de história – Clã dos lnhamuns
e O Bacamarte dos Mourões, não vos
afastastes destes conceitos, nem desdenhastes a vossa vocação artística, pois
os fizestes também com o emprego de recursos estéticos, sem, no entanto,
contrariar a regra de que, na reconstituição histórica dos fatos e das suas personagens,
o que se deve ter em vista é o que eles representam realmente, e não o que, na simpatia
e na imaginação do historiador, passam a ser idealmente. A vossa experiência literária
no campo da historiografia é realmente afirmativa, especialmente porque também
não incidistes na falsa concepção criadora dos autores de história e biografias
romanceadas, nas quais a fantasia supera o conteúdo histórico e as suas obras,
ao invés de representarem uma arte naquilo em que a expressão histórica pode
ser artística, passam a ser simplesmente uma arte pelo aproveitamento do conteúdo
estético que os fatos históricos possam encerrar. Nos vossos livros sobre história,
ao lado da agudeza com que encarastes os assuntos, da perfeição da forma e do
senso de humor, colocastes – mas em plano superior –, os fatos em si mesmos com a honesta
preocupação de não deformá-los, mas, ao contrário, de situá-los dentro da sua
real perspectiva, da sua evidência e realidade. Para isso, graças a uma pesquisa
paciente e a uma farta documentação valorizando datas, detalhes e episódios
muitas vezes ainda ignorados, chegastes também a desfazer equívocos e fantasias,
a destruir lendas e mitos radicados na tradição deturpada e no íntimo da credulidade
fácil, reabilitando a verdade histórica pela revelação de fatos até então
ignorados, com o que, além do mais, fizestes autêntica obra de revisionismo. Clã dos Inhamuns e O Bacamarte dos Mourões ganham, porém, maior dimensão quando, na
verdade, situam-se dentro de um plano novo de revelação histórica, pela feição
inédita do assunto que versam. Para os que os leram sem espírito analítico e
interpretativo, poderão parecer simples e bem contadas histórias novelescas de
façanhas, de tragédias e espoliações. Mas o que ali existe, na verdade, são
autênticos e ainda não contados capítulos da história da nossa formação social,
marcada, no seu início, de lutas e paixões, de individualismos e arrogâncias
dos grandes e poderosos grupos familiares que senhoreavam a terra e assentaram
nela a imensa base física do seu incontrastável domínio econômico e social.
Certo, Capistrano de Abreu, o primeiro dos nossos historiadores a versar o
problema da nossa formação social, traçou, em linhas gerais, a sua estrutura,
dando-nos, em síntese, a sua visão panorâmica. Por outro lado, Oliveira Viana,
versando o tema com mais profundidade e espírito científico, o encarou, porém,
somente em face da sistemática das nossas instituições político-jurídicas e da
sua relação com os fenômenos emergentes das formas disciplinadoras da vida
civil e política das velhas elites agrárias e do povo-massa que a distância
social lhes subordinara. Adotando critério sociológico inverso, Gilberto Freire
fixou e analisou os aspectos variados da vida e dos costumes das velhas elites agrárias
que se valorizaram socialmente em torno do engenho, desde os faustos até a
decadência da Casa-Grande. Mas, até então, nenhum dos nossos historiadores se
havia detido diante das grandes famílias que fundaram a sociedade brasileira,
desses clãs em cuja cadeia rácica como que se percebe melhor a coesão das eras,
a unidade consanguínea do Brasil que ajudaram a formar, construindo a sua casa
patriarcal, devassando-lhes os sertões, alargando-lhe as suas fronteiras,
disciplinando a sua vida coletiva. Como reagiram os colonizadores ante a
pressão ecológica, para estender os limites sem fim do seu domínio sesmeiro,
num sertão agressivo ainda ocupado pela indiada selvagens, como se organizaram
os primeiros grandes grupos familiares, inter-relacionados pela endogamia e por
interesses de domínio não raro conflitantes, como daí surgiram as lutas
enraivadas ao golpe das adagas e ao estrondo dos bacamartes: como essas lutas
repercutiram, envolvendo a comunidade toda, dividindo os clãs, gerando querelas
e intrigas que se eternizavam no fermento dos ódios ancestrais – tudo isso que
esbraseou a infância da nossa formação social, em algumas regiões do Brasil,
com efeito, não fora ainda miudamente revelado. Coube-vos, sr. Nertan Macedo,
iniciar esta tarefa meritória porque, antes de vós, não sei quem o tenha feito
com tanto ineditismo, com minúcias tão ricas, com tanto realismo e impressividade
como os que registam as páginas de Clã
dos Inhamuns e O Bacamarte dos
Mourões.
Se, como é evidente, a interpretação
dos fenômenos históricos e sociais deve ser procurada na sociedade mesma nos valores
que a integraram originariamente na evocação e análise dos fatos e das ações e
reações que caracterizaram a acomodação e o comportamento dos grupos humanos no
meio físico de sua fixação, nos processos associativos de vivência e inter-relação
e nas instituições que criaram, com reflexos na vida social e política das gerações
posteriores, – os vossos livros sobre a história dos clãs nos oferecem, agora,
estas fontes e os elementos mais preciosos, indispensáveis aos estudos interpretativos
da sociologia regional.
Toda a vossa obra
literária, assinalada por sucessos tão relevantes, somada às vossas atividades
jornalísticas, na Província e no Rio de Janeiro, onde fostes redator político e
literário de muitos dos órgãos mais importantes e tradicionais da imprensa
carioca, – constituem o justo garbo com que vos projetais no cenário das letras
pátrias.
A Academia é como o grão
de trigo que se renova sempre em outras vidas, à mercê e à graça dos outonos.
Sois, sr. Nertan Macedo, uma destas novas vidas que aqui abrolham da perenidade
fecundativa da semente maravilhosa, para a imortalidade do pensamento e da beleza.
E, entre nós, não chegais de mãos vazias, mas, ao contrário, trazendo para o
altar litúrgico do nosso culto, a grata oferenda de tantos frutos excelentes
que já colhestes na seara das letras. E com eles, trazeis, igualmente, a chama
viva de um ideal onde a arte e a inteligência florescem e irradiam para
aumentar, ainda mais, as cintilações do espírito criador e o prestígio das
letras acadêmicas, na mansão helênica das suas graças.
Ainda na ridente
primavera da vida, quando os sonhos mais enfeitam as esperanças, sois, agora,
por isso, o mais moço de todos nós, o Benjamin deste Cenáculo que assim vos recebe
e saúda com os mimos mais afetivos que o caçula sempre disputa aos irmãos mais
velhos.
Entrai,
pois, sr. Nertan Macedo: a casa vos pertence.[89]
4.2 Discurso na íntegra de J. Lindemberg de Aquino, saudando a chegada de Nertan Macedo ao Instituto Cultural do Cariri - ICC
4.2.1 RECEBENDO NERTAN MACEDO NO INSTITUTO CULTURAL DO CARIRI[90]
Escritor
Nertan Macêdo,
Oportunidade única e
sem par em minha vida, esta, a de saudar-vos, no instante em que ultrapassais
as portas do Instituto Cultural do Cariri para vos sentar numa de suas cadeiras.
Não sei se os
pensamentos que adiante se desenvolverão vão se coadunarem com a importância e
o brilho desta solenidade e o sentido incomum desta cerimônia.
Se meu coração se enche
de emoção, meu peito e meu ser se enchem de patriótico orgulho em ser o
intérprete de todas as nossas venturas e alegrias ao receber-vos em nosso
Instituto.
Porque, acima de tudo,
sois um dos nossos, nascido num maio não muito distante sob a cálida brisa
úmida que desce das quebradas do Araripe – a percorrer os verdes brejais
molhados por fontes regadias, que emolduram a paisagem natural desta terra
abençoada, nossa e vossa.
Vós tendes, portanto,
direito adquirido, por imperioso naturalismo telúrico, de entrar nesta Casa e
nela se instalar, tão bem soubestes engrandecer seu nome e tão bem soubestes
representar o seu povo, por todos os recantos da nacionalidade!
Como – e de que maneira
– pois, saudar aquele que já é entranhadamente nosso, que nunca foi um estranho
e que, pela sua cultura, pelo seu renome e pelo seu amor à terra, já está definitivamente
a ela vinculado?
Tarefa, ao mesmo tempo,
fácil e ingrata!
O protocolo, porém, o
exige.
O coração e a mente não
reagem, não discrepam.
Enchem-se os dois de
prazer e de orgulho, de entusiasmo e de satisfação – e por isso estou aqui e
aqui me tendes frente a vós e frente a este auditório para desejar-vos as boas-vindas
a esta Casa que também é vossa, e da qual, por força desse espartanismo próprio
do cearense, estais distante há tantos anos, embora espiritualmente, celebrais
sempre esta unidade de pontos de vista conosco na luta comum pela sua grandeza.
O Instituto Cultural do
Cariri, pois, enche-se de festas e de luzes, de alegrias e de flores. É a noite
da vossa chegada.
Pede o protocolo que
sejam ditas palavras de vossa biografia oficial, nesta saudação. Direi, apenas,
para não quebrá-lo:
NERTAN MACÊDO DE ALCÂNTARA, filho de Júlio
Teixeira de Alcântara e Corina Macêdo de Alcântara. Nascido em Crato, Ceará, a
20 de maio de 1929.
E o resto?
O resto é claro e
evidente! A curva ascensional de quem nasceu para vencer, um estudante
brilhante, um jovem de valor, uma revelação da inteligência.
Quando daqui assistes,
no verdor dos anos, cumprireis, de certo, o fado do nomadismo de nossa raça. Éreis
um predestinado ao fulgor e ao brilho dos grandes centros da inteligência e da
cultura nacionais.
Embora filho de terra
de natureza esplêndida, que se farta de verde, tínheis, desde já, na alma, a
missão histórica do cearense telúrico, que a força do destino empurrava para as
grandes metas da vida.
Parsifal Barroso já
disse, com muita propriedade, que “Não se deverá esquecer, entretanto, que
antes de cumprir o fadário transregional, o cearense exercita e aprimora suas
qualidades específicas, adquirindo a blindagem do espartanismo nativo, com a
qual vencerá suas lutas, sempre em busca de uma segurança e de uma libertação”.
Foi o que vos
aconteceu, cantor dos vaqueiros, dos sertões e dos místicos de nossa terra!
Se vencestes, é porque
a couraça que vos envolvia tinha e tem a fibra do povo que cantais e tem a
férrea resolução desta gente imortal do sertão bravio, que tornastes
nacionalmente admirada.
Nertan Macêdo, poeta do
sol e da luz!
Vaqueiro ilustre, na
roupagem obrigatória de uma civilização de consumo.
Vaqueiro obrigado ao
uso do paletó e da gravata quando o gibão de couro e a sela de montaria melhor
lhe assentam!
Exprimido entre
escritórios e apartamentos, saudoso do cenário natural que lhe é próprio, dos
vastos campos e das vastas caatingas, onde aboia o vaqueiro á procura de uma
res tresmalhada...
Cantor dos beatos e
cangaceiros!
Novelista dos clãs
imemoriais, que encheram com suas páginas de sangue, de heroísmo e de vingança,
a paisagem social do sertão!
Inimitável prosador,
poeta renomado, estudioso da gênese cearense, intérprete fiel e seguro de
nossas guerras santas, guerras acompanhadas e assistidas de sóis inclementes,
cangaços e misticismos...
Ninguém vos superou
nessa dialética que exprime sertão e dor, drama e sangue, reza e fé, cânticos
de morte e aboios dolentes – o capítulo imortal que as secas, no seu longo
fadário, escreveram no sertão dorido, e que exigiam o intérprete adequado, como
vós o fostes.
Citando, mais uma vez,
o grande Parsifal Barroso, em seu livro O cearense, relembro quando ele diz que “a especialização
cósmica da região cearense está à espera de uma exaustiva e sistemática investigação.”
Parece-nos – diz o
ilustre intelectual – que, até agora, somente dois autores souberam ir ao
encontro dos objetivos visados, paralelamente, pelos mestres Gilberto Freyre e
Pompeu Sobrinho, focalizando a visão telúrica do palco ou cenário em que se
desenrola, há séculos, o interminável prélio das vicissitudes cearenses. O
primeiro, falecido antes que a Universidade Federal do Ceará publicasse sua
excelente obra, Notícias no povo cearense, foi o notável escritor cearense Yáco Fernandes.
O segundo, a quem toca
a urgente missão de escrever a saga admirável do cearense, é Nertan Macêdo[CMeHr4] , o escritor mais enamorado das
causas e dos seres que povoaram a caatinga desnuda e enxuta, e dos que ainda
lutam em busca de uma segurança que os ajuste ao seu meio ambiente.
Através da vasta e
importante obra de fixação dos lances mais dramáticos dessa luta áspera e
desigual, sempre renovada, o autor de O padre
e a beata demonstra como, através desse fadário, o sertanejo e sua gleba
formam um conjunto, por força do estreito e vital liame que se estabeleceu
entre os dois termos de estranho binômio e ainda se prolonga até nós.
Ninguém melhor do que o
Mestre Parsifal poderia dizer o que se espera de vós, Nertan Macêdo. E temos
certeza de que vós o fareis.
Sede, pois, bem-vindo a esta Casa, onde
encontrareis força, ânimo, apoio e decisão, para o cumprimento dessa meritória
tarefa!
Aqui não se saúda neste
instante, isoladamente, o emérito redator do Diário de Pernambuco e do Jornal do Comércio, do Recife, de larga
temporada na Veneza Brasileira, se cujos usos e costumes se fez também cantor.
Não
se saúda o poeta primoroso do Acalanto, que é uma das obras-primas do
verso, pela suavidade do estilo :
“Adormecei,
amiga, adormecei
Urge adormecer,
adormecei,
Colocai vossas
mãos, assim, de leve,
Assim, de manso,
colocai
Vossas mãos sobre
as minhas,
Adormecei
vosso corpo, adormecei...”
Não
se saúda o poeta que cantou, tristemente, as alamedas do Cemitério de Santo
Amaro do Recife, que sempre desejou visitar a tardinha,
“se
brando for o vento e manso o ocaso”
e
onde repousa o seu amigo, o Padre Antônio Fernandes, da Companhia de Jesus,
“Iazarino
recurvo, metido na sua negra sotáina de jesuíta indiano, lembrando uma águia de
bronze, alma lusitana, ardente de fé e submissão a Deus”,
ou
o poeta que também cantou Canudos, onde
“O
Conselheiro desce as montanhas de cinza, e abre, pelo arraial, caminho no
ossuário, as órbitas de fogo incendiando o dia”.
Não se saúda, aqui, o
jornalista do Recife e o poeta adolescente, não menos se saúda o jornalista
adulto e bem informado, fazendo brilhante e invejável carreira na Tribuna de Imprensa, O Jornal, e Jornal do Comércio, no Rio
de Janeiro – e construindo, neles, as trincheiras das lutas sociais.
Não se saúda também só
o grande escritor, que no fim dos anos 40 era a revelação da literatura
brasileira.
O Nertan que já, então,
era amadurecido espiritualmente.
O Nertan que, em 1949,
surgia com o Caderno de Poesia, da Editora A Noite, com estrondosa repercussão.
A poesia e o jornalismo já eram uma síntese brilhante do espírito daquele que
ainda estava por revelar a mais varonil e curiosa de suas facetas – a de cantor
dos sertões ásperos, duros e sofridos.
Em 1956, era o autor de
Aspectos do Congresso Brasileiro e, em
1959, estreava com o Cancioneiro de Lampião,
marco inicial dessa cadeia de livros sociológicos que sacudiria à literatura
brasileira. O ano de 1960 nos trouxe o Nertan com o Rosário, rifle E punhal, seguindo-se 1961 com O padre e a beata e, em 1962, com O
capitão Virgulino Ferreira, o Lampião.
O
memorial de Vilanova vem de 1964 – depoimento autêntico do
que fora a chacina de Canudos. Em 1965, editava O clã dos Inhamuns, para se seguir O clã de Santa Quitéria e O bacamarte dos mourões, e outras obras que seria fastidioso
enumerar.
A crítica literária já
o consagrara. Delem se ocuparam e sobre sua obra escreveram em artigos e ensaios:
Jorge Amado, Anibal Machado, Otávio de Faria, Aderson Magalhães, Adonias Filho,
Nilo Pereira, Raimundo Sousa Dantas, Plinio Salgado, Menotti dei Picchia, Mauro
Mota, Aloisio de Carvalho, Emil Farah, Waldemar Cavalcanti, Willy Levy, Rui
Santos, Brito Broca, Santos Morais, José Condé, Antônio Olinto, Fernando Mota,
João Clímaco Bezerra, Eduardo Campos, Antônio Girão Barroso, Mozart Soriano
Aderaldo, Fernandes Távora...
A
Academia Cearense de Letras o recebeu em seu seio, no famoso “quarteto
cratense” naquela Casa, que ele completava e que era composto por si, por
Figueiredo Filho, por Martins Filho e Cursinho Belém, o último dos quais já não
nesta vida. Álvaro Moreyra – o grande e inesquecível Álvaro Moreyra – o
celebrizava, em sua crônica na Rádio Globo:
“Tarde
linda, aquela em que Nertan Macêdo pôde assinar o CANCIONEIRO DE LAMPIÃO para tanta gente. Foi de coração que o
“bandido poeta” chamado Nertan Macêdo, que tem também a sua Maria Bonita,
chamada Maria Gessen, fez esse cancioneiro do povo, de poesia viva, com cheiro
de chão, chão, outra palavra do sertão, cheiro de flor, cheiro de fruta. CANCIONEIRO DE LAMPIÃO, tão bem
ilustrado por Bianco, precisa de uma edição popular, de cordel, para que ande
de mão em mão, de sentimento em sentimento, de memória em memória. Grande
poema, na verdade, Nertan Macêdo! Abro os meus braços para você, para a sua
juventude, e lhe digo: poeta bom! poeta bom! Será pecado dar ao CANCIONEIRO o nome de Evangelho? Se for,
já pequei...”
Mais
tarde diria Valmir Ayala, falando sobre Rosário,
rifle e punhal:
“Estamos
diante de um trabalho documentado, fiel, simples, poético. Um trabalho que só
encontra precedente, no gênero, no magnífico “Romanceiro da Inconfidência”, de
Cecília Meireles”.
Não se saúda, aqui,
portanto, a figura nacional do cratense, que tanto cresceu na admiração do
povo, no prestígio das massas – com a sua série de livros de bolso — Cinco histórias sangrentas de Lampião – recorde
de vendas no país.
Deixamos tudo de lado,
só queremos receber, neste instante, o NERTAN, pessoa humana, simples e afável,
autêntico, apreciador da água da Nascente e dos alfenins dos nossos engenhos,
da bagaceira dos brejais, das histórias mal-assombradas da Serra do Araripe e
da sua infância na Praça da Sé.
Os outros Nertans já
pertencem ao Brasil todo.
Queremos receber aqui
Nertan Macedo, menino travesso das ruas e becos do Crato antigo, o Nertan
nosso, boa prosa, bom papo, “causer” admirável, dominando toda uma antologia do
anedotário popular e dos sambas de Noel.
O Nertan que, mesmo com
as características nacionais, permanece autêntico às suas origens. O fã do pequi
e do doce de buriti, da mangaba e da ciriguela, dos doces, dos cheiros, das cousas
do seu e do nosso Crato.
É ele que vem sentar-se
ao nosso lado, por ser um dos nossos.
É o vaqueiro Nertan,
cansado das lides da civilização, que procura no suave regaço do Instituto
Cultural do Cariri o repouso para as canseiras da vida.
É a vós, vaqueiro
Nertan, que saúdo e desejo as boas-vindas! Boas-vindas que traduzo nos abraços
cordiais e nos sorrisos de alegria, estampados em todos os rostos, a alegria
cordial, sincera e afetiva de todos os que fazem esta cidade, a vossa e a nossa
cidade, a alegria de quem vos recebe neste instante, e vos dá passagem, e vos
pede para sentar.
A alegria com emoção
forte, com cheiro bom do mato do brejo, o carinho sincero e mais puro, para vos
receber e vos impor esta imortalidade, no Instituto Cultural do Cariri, desta
Cidade do Crato, Cabeça de Comarca, Coração do Cariri!
Sede bem-vindo, Nertan
Macêdo![91]
______________________
(Palavras
pronunciadas na sessão solene, do Instituto Cultural do Cariri, no auditório da
Faculdade de Filosofia do Crato, na noite de 27.02.73, quando da posse do
escritor NERTAN MACÊDO na Cadeira N° 17, desse sodalício, que tem
como patrono João Brígido dos Santos).[92]
4.3 Discurso na íntegra de Nertan Macedo na solenidade de posse como membro do Instituto Cultural do Cariri – ICC
4.3.1 DISCURSO PRONUNCIADO PELO ESCRITOR NERTAN MACEDO[93]
Meus Senhores,
A longevidade pode às
vezes resultar num drama pessoal. Ezra Pound, um dos poetas maiores do nosso
tempo, falecido há pouco, aos oitenta e sete anos, conheceu duras humilhações:
foi mantido na prisão solitária de um acampamento militar na Segunda Guerra e,
mais tarde, confinado como louco por treze anos, num hospital psiquiátrico
norte-americano.
Não faz muito, Henry de
Montherlant, uma das mais puras glórias do teatro e da literatura francesa,
mergulhou, pelo suicídio, naquele “inferno privado” que foi também, em nossos
conturbados dias, o de Ernest Hemingway.
Outro grande do nosso
tempo, Charles Maurras, o teórico do nacionalismo integral, por ter vivido
muito, e ainda talvez por ter sido fisicamente surdo, foi arrastado a um
tribunal popular no após-guerra, uma corte odienta que pôs às avessas, aos
olhos do mundo, a beleza e a intenção do seu pensamento de homem da França e da
Provence, cheio de cintilações e degrecidade.
E que dizer do drama do
marechal Pétain, vencedor de Verdum, condenado a pesada pena em sua velhice?
Revolta e comove, ao [MR5] mesmo
passo que exibe as chagas da frágil condição humana. Sim, é grande e tantas
vezes injusto o tributo que o homem paga por viver muito.
Essas reflexões,
queridos e bons amigos do Crato, guardadas as proporções e o relacionamento
devido vêm a propósito da longevidade do nosso extraordinário João Brígido, um
dos patronos deste Instituto, sob cuja égide me acolhestes nesta Casa, para meu
orgulho e satisfação. Mas, se o nosso fabuloso cronista viveu muito, pródiga de
acontecimentos lhe foi a existência, conforme o testemunhou em seus numerosos
escritos.
Jáder de Carvalho, a
voz mais alta e bela da poesia do Ceará, ao organizar a Antologia de João
Brígido, pintou dele um retrato definitivo.
Relendo a introdução do
mestre à Antologia, ocorreu-me o contraste entre o juízo que a posteridade fez
de João Brígido e de outros cearenses de talento, como Quintino Cunha. O autor
de “Pelo Solimões” ficou ao anedotário popular; e as histórias e lendas que
correm a seu respeito quase sempre não fazem justiça ao homem criador e culto
que ele foi. A imagem do excessivo boêmio sempre me pareceu mais exagero do que
fato real. De qualquer modo, ele terá sido, como tantos do seu tempo, vítima do
meio ambiente provinciano, modorrento e sem perspectivas, a que faltava tudo ou
quase de tudo para a realização de uma obra séria e duradoura. O poeta viveu num
Ceará de quase nenhuma oportunidade. Recordá-lo é vê-lo sempre numa mesa de
café a dizer piadas ou a escrever versos satíricos. Quem já pensou na solidão
de Quintino ou de José Albano, que viveram na Europa e acabaram condenados a
mover-se na direção de um horizonte que não ia além da Praça do Ferreira?
João Brígido é
diferente. Deus, Nosso Senhor, deu ao velho panfletário e cronista o privilégio
de ser um animal informático, numa época em que não se ligava muita importância
ao dia a dia, tampouco, ao passado. Não me consta, nem pude verificá-lo nos
admiráveis trabalhos que sobre ele escreveram Hugo Catunda, Joaquim Alves,
Leonardo e Orlando Motta, H. Firmeza e Gomes de Mattos, para não mencionar
outros, como os de Cruz Abreu, R. Ribas, Antônio Drumond e Adília Nunes Freire,
que o meu admirado patrono neste Instituto fosse alguém capaz de jogar a sua
saúde pela janela, queimando a alma e o corpo em noitadas. Brígido tinha
hábitos morigerados. Sempre em casa, cercado de familiares e correligionários
ou no jornal, a redigir os seus magníficos memoriais de acontecimentos, fatos,
usos, costumes passados.
Foi um homem
profundamente tocado pelo amor e pela curiosidade da vida, dos homens e das
coisas que o rodearam desde a infância. Possuía em alto grau o instinto de
testemunhar sobre seus semelhantes.
Permitam-me recordar:
João Brígido, criança ainda, quando vem das suas origens capixaba/fluminense
para o Ceará, é mimado por Pinto Madeira, no Recife, onde se demora com a
família.
Conhece o Crato,
respira, mora, estuda, aprende e luta aqui no Cariri, quando todo o nosso vale
era um mundo perdido, um reduto de politiqueiros e caudilhos à moda antiga,
depois da Independência: cenário de intrigas e contendas ferozes, dominado
pelos bacamartes e cacetes dos “cabras” dos engenhos do pé da serra – o tempo
mesmo em que nasce o Padre Cícero, patriarca dos Sertões.
Entra a fundo nas
tricas e futricas da terra, no Crato, na Barbalha, onde quer que o convocasse a
paixão política que vem da sua mocidade.
É o bicho político por
excelência. O liberal, o ativista, o demandista facioso, tão à maneira do
tempo, tão Ceará, tão Império, tão Brasil.
Vê tudo, vê todos que
os rodeiam. Integra-se. Participa. Clama. Elogia. Ataca. Fere. Mas não esquece
o passado...
Em meio ao turbilhão,
os olhos da sua alma se voltam para o antigamente. que viu. O que sentiu. O que
lhe deixou no corpo e na alma as marcas mais sensíveis.
Se já na vida pública,
conhece o senador Thomás Pompeu de Souza Brasil, ainda menino sentara nas
pernas do caudilho Pinto Madeira, um monarquista rebelde. Um dos seus amigos de
infância, com quem quase morre afogado num banho de poço, no Quixeramobim, estripulia
que também fiz muitas vezes no nosso antigo e saudoso poço das Piabas, nos
tempos de Cleto Milfont, é um menino esperto e endiabrado, chamado Antônio
Vicente. Nem mais nem menos do que o futuro Antônio Conselheiro, o bronco
profeta que inspiraria Euclides da Cunha. A vida, tão avara para outros, sempre
pródiga para João Brígido, suprindo-o com dilatados anos e muitos
acontecimentos...
Esse político, esse
cronista, esse militante da verrina, que tudo via e escutava com interesse, tem
sido acusado mais de uma vez de escrever mal. Tem sido também incriminado,
pelos catadores de piolho, de não respeitar certos fatos e, sobretudo, datas.
Julgamento do qual nem de longe participo.
Era João Brígido um
autodidata, sim, mas quanta graça, quanta verve, quanta espontaneidade em
muitas das suas páginas, particularmente as de memórias que, para mim,
constituem uma das delícias da nossa literatura nativa!
Brígido era um
estilista a seu modo, à maneira de um conversador cheio de vivacidade e
interesse. Mordaz no comentário e na crítica, nem por isso deixava de ser
verdadeiro. Não me espantam no velho patrono as ideias que eram de um modo
geral, as do seu século. Liberal, agnóstico, progressista, sempre atento aos
destinos da nossa província, refletiu sobre tudo e todos: a Proclamação da
República, a maçonaria, as viagens do Presidente Afonso Pena, a emancipação dos
escravos, o senador Pinheiro Machado, a carestia de vida, o nosso pessimismo, a
liberdade, o inverno, o clero, o comércio, a seca, os dízimos, a genealogia dos
partidos, a emigração, o combustível', o porto do Mucuripe, o canal do São Francisco,
o casamento religioso, a estrada de ferro de Baturité, a açudagem, as barragens
subterrâneas, o analfabetismo, o divórcio, o pan-americanismo, o jogo, os
nossos “bons, burros e bravos” ancestrais, os imóveis, a exportação, - tudo
quanto lhe foi dado assistir, ou rememorar...
E coisa extraordinária:
conservando-se monarquista, ele, que fora, no Império, um liberal, um não
católico e um progressista, acreditando na ciência e na técnica como o maior
instrumento da emancipação econômica, não se fez republicano quando da adesão
geral ocorrida no País, após a queda de Pedro II.
O Imperador, ele o
conhecera, nos seus dias áureos, quando eleito deputado, geral do. Ceará. Tinha
pelo monarca o respeito e a veneração de um autêntico súdito. Louvou-o sempre,
como o faria também ao genro, o Conde d’Eu, de quem foi companheiro de viagem
na única visita feita ao Ceará pelo marido da Princesa Isabel.
É que a longa vivência
com a terra, seus hábitos, problemas, bem como com os nossos antepassados,
impediu João Brígido de render-se incondicionalmente às ideias que professava
em política, e filosofia, desenraizadas da realidade.
Talvez pelo seu amor à
terra cearense e aos que a semearam com a sua carne e o seu sangue, ele,
inconscientemente, professou a lição de Barrés, de que a verdade social,
humana, espiritual e até mesmo política de um povo está na sua íntima
convivência com o chão e os seus mortos.
Aí reside, a meu ver,
algo que eu chamaria de “sábia contradição” do velho mestre e panfletário. Sua longevidade
não se transformou em tragédia porque a sua maneira ágil e plástica de atuar
fê-lo não um acomodado, mas um amoldável, sem quebra dos seus compromissos e
das suas ideias.
Não renunciou à
fidelidade monárquica, mas nem por isso se sentiu na obrigação de abandonar o
campo, alijando-se da participação na República, sufocando a vocação
eminentemente política. Não virou as costas aos novos tempos, não se tornou um
solitário, um frustrado, face às instituições criadas pelo 15 de novembro.
Voltou à liça, com a
mesma vontade de dizer, de brigar, de contrariar, de narrar, de criticar.
Ganhava e perdia. Mas, perdendo ou ganhando, fazia da longa existência a ação
que o seu temperamento inquieto necessitava continuamente.
Meus amigos,
Sou grato, de coração, ao meu querido Padre
Gomes, aos meus caros Figueiredo Filho e José Newton Alves de Sousa e aos
outros não menos caros companheiros do Instituto Cultural do Cariri, por esta
acolhida tão amável e generosa.
Persegue-me, há tempos,
o remorso de não ter ainda tomado posse desta cadeira. Deus sabe, porém, porque
não o tinha feito preocupações e trabalhos que me assoberbam no Rio de Janeiro,
onde resido.
Mas
aqui estou. Para dizer do prazer e da honra que sinto neste momento, em sentar
nesta Casa como um dos seus membros efetivos. Graças aos senhores, estou mais
uma vez pisando a terra do Crato. E pode haver maior felicidade para quem, como
eu, nasceu aqui?
Muito
obrigado a todos.[94]
4.4 Discurso na íntegra
de Nertan Macedo na solenidade de posse como membro do Instituto Histórico e
Geográfico do Estado de Goiás - IHGEG
Em
seu discurso, Nertan Macedo chama a atenção para a importância do Planalto
Central, representado por ele como região de encontro dos brasileiros e
traçando paralelos culturais entre Goiás e o Nordeste, onde nasceu, situando em
seu discurso o papel do Estado na formação brasileira. Nertan Macedo é empossado
às 21 horas de 22 de outubro de 1976.[95]
“Euclides da Cunha tinha razão: o
sertão é o homizio. E Goiás é o homizio do meu coração profundamente
agradecido”, disse Nertan ao concluir seu pronunciamento. “O sertão é o
homizio”. Esta curta, seca definição, aprendida há tantos anos em Euclides da
Cunha, tem soado aos meus ouvidos pelo tempo afora como a mais patética,
sinfônica, autêntica, pura síntese do papel que, em nossa formação brasileira,
exerceram ao longo de quatro séculos os vastos e desertos plainos interiores
deste grande País [...].[96]
4.4.1 DISCURSO EXALTA
GOIÁS NA FORMAÇÃO BRASILEIRA[97]
Senhores:
— Um cearense do Crato, que viu a luz primeira às brandas flutuações dos
canaviais do seu longínquo vale do Cariri, encravado nas lindes dos sertões de dentro do Nordeste, vem de
longe, de tão longe, abrigar-se hoje à sombra ilustre deste Instituto
Histórico, que aninha em seu seio o que de mais egrégio, sóbrio e
intelectualmente responsável esplende na jovem cultura goiana — tão antiga e
tão moderna — para repetir aqui uma imagem literária muitas vezes já
mencionada.
Goiás é uma das
primeiras, fortes, recônditas lembranças da minha infância.
Eu era menino, no
Crato, quando ali chegavam as boiadas de zebu, tangidas daqui à minha
província, através da Bahia e do Piauí, a fim de racear o nosso rebanho, ainda
muito dominado pelo “pé-duro” dos tempos coloniais. Então, na pracinha da Sé da
minha cidade natal, um simples campo em forma de quadro, coberto de capim,
areia e algumas mangueiras, eu ouvia, com os olhos deslumbrados, a história
desse gado e desses vaqueiros que haviam atravessado centenas de léguas e
vinham de tão longe para revigorar a mais antiga e nobre atividade do sertanejo
cearense – a pecuária – fundamento de toda a civilização coureira que a minha
raça, o meu pobre e grande povo plantou, para sempre, naqueles magros desertos,
que Deus pincelou de cinza e azul e fez brilhar sobre eles um sol igual ao tão
forte e belo como o que vejo nas manhãs e tardes deste Planalto Central.
Sol que é de Goiás e do
Ceará. Que ilumina o meu coração nas horas de tristeza, alegria e, também, de
sonho e saudade. Sol todo meu, a retemperar minha alma e esse corpo já um tanto
cansado, mas não curvado, pelas agruras e decepções da vida.
Eu diria: Goiás é um
dos remotos da minha vida. E outra recordação aqui me obrigo – e de que muito
me orgulhava na meninice – era uma vaga alusão a uns meus parentes do lado
paterno, os Alcântaras, que tinham vindo do Ceará e fincado raízes em Goiás (em
Catalão, se não me engano), nunca mais retornando aos pagos natais. Assim uma
reminiscência de infância e uma migração familiar atiçaram em meu espírito
curiosidade e carinho por esta terra. E essa curiosidade e esse carinho não me
têm abandonado, porém sido antes acrescidos, desde que vim morar em Brasília,
como servidor público, há cerca de dois anos e meio.
Sou um enamorado da
geografia goiana. Poucas, porém, quase nenhuma, e assim confesso, ligações
históricas pude estabelecer, nas minhas pesquisas, entre o Ceará e o vosso grande
e rico Estado.
Goiás, ao sul, é, pelos
seus rios tributários do rio Paranaíba, formador do Paraná, integrante da bacia
platina. Confluentes no extremo, dois outros grandes rios gêmeos, o Araguaia e
o Tocantins, fazem-no também integrante da bacia amazônica[MR6] .
Existe, aliás, uma diferença bem nítida entre o Goiás do Sul e do Norte. O
Goiás sulino termina na Chapada dos Veadeiros, na Serra do Paraná, nas
cabeceiras do Tocantins. E o mais rico, o mais densamente povoado, berço histórico
do Estado, do Goiás antigo, com maior número de cidades. Campos cerrados e
formações matosas dão seu fácies
botânico. Seus rios procuram o Paranaíba, o Paraná, o Prata.
Já o Goiás do Norte é
marcado pelas terras que se estendem do belíssimo Araguaia, com quem tenho alguma
intimidade, à Serra Geral de Goiás ou do Espigão Mestre, pela Chapada das
Mangabeiras, e que o separa da Bahia e do Maranhão, tendo ao meio a espinha
dorsal do Tocantins, este (como o Araguaia) com dificuldades do aproveitamento
à navegação – devido às corredeiras,
itaipavas do tupi: trechos altamente declinados desses rios, águas
escachoando entre pedras ou mesmo por pedras d’água, cachoeiras numerosas; população
esparsa, pouco densa, também poucas e pequenas cidades – o Goiás do Coronel
Abílio Wolney e dos seus jagunços. Transmuda-se aí a fisionomia da paisagem
vegetal. Passa-se dos cerrados aos cocais os babaçuais que o iguala ao Maranhão
e parte do Piauí, pela presença maciça dessas palmeiras, cuja exploração
extrativa é uma das suas riquezas.
O que fraterniza na verdade
Goiás com os sertões nordestinos, tanto ao Norte como ao Sul, é o pastoreio.
O início do povoamento
pelo sul coube ao bandeirismo paulista. Aos dois Bartolomeu Bueno, pai e filho,
um dos quais, segundo a lenda, e a fim de forçar os índios a dizer onde
encontravam pepitas de ouro, queimou um pouco de aguardente – e os selvagens
assombrados logo ficaram intimidados, julgando que ele poderia da mesma maneira
queimar a água dos rios – lenda a que se liga o apelido de Anhanguera.
Pertencia à Capitania de São Paulo, dela destacada como Capitania Geral em
1744, com capital na antiga Vila Boa, o simplesmente Goiás de hoje, elevado à
cidade juntamente com Cuiabá, em 1818. Foram as duas últimas cidades criadas no
Brasil pelo colonizador português, antes de 1822, da separação de Portugal,
tendo sido governadas por altos e emproados fidalgos lusitanos. De um deles,
que figura na nobiliarquia brasileira, com o título de Marquês de São João da
Palma, consta ter ficado numerosa descendência bastarda em terras goianas. A
informação é do Visconde de Taunay em seu livrinho intitulado Goiás.
Recordo agora um grande
presidente de Goiás ao tempo da Guerra do Paraguai. Foi Ernesto Ferreira
França, a quem se deve a organização de uma brigada goiana, que se uniu aqui
aos mineiros e paulistas que marchavam para Mato Grosso, coluna esta que chegou
até Laguna poucas léguas a dentro do Paraguai e daí bateu em retirada, dando
origem ao episódio militar de que se ocupou em livro famoso o mesmo Visconde,
Alfredo d’Escragnolle Taunay, então jovem oficial de engenharia e participante
da referida coluna.
Os bravos goianos incorporados
ficaram, em consequência das perdas que sofreram, reduzidos ao 20°
Batalhão de Infantaria, comandados por um valente e imperturbável baiano, o
Major Joaquim Ferreira Paiva, que terminou seus dias de vida tranquilamente na
poética cidade de Ilhéus, terra de Jorge Amado e sua Gabriela. E berço natal de
Crispiniano Tavares, o iniciador do conto literário em Goiás, segundo pesquisas
do nosso eminente colega Basileu Toledo França.
Seria bom chamar a atenção
para o significado do Planalto Central, no que ele representa, de encontro dos brasileiros, talvez o exemplo
mais marcante a ser apontado no contexto nacional. E ressaltar a presença de
troncos familiares portugueses que aqui também vieram frutificar: os Távoras e
os Frotas. Gostaria de chamar a atenção para a figura de José Manuel Antunes da
Frota, cirurgião-mor, o primeiro a escrever uma Memória Estatística de Goiás
(parte publicada em O patriota de Lisboa),
ligado ao mesmo tronco genealógico dos Frotas de Sobral (e seus primos que
estão arrolados como os primeiros povoadores de Meia Ponte (hoje Pirenópolis).
O mesmo se diga da
presença da literatura cearense, traduzida, sobretudo, na figura de José de
Alencar, acentuando a influência que a produção alencariana exerceu sobre
várias gerações goianas. Bastaria atentar para o levantamento bibliográfico do
antigo Gabinete Literário de Goiás, já realizado, o que testemunha o grande
prestígio de que desfrutou o autor de Ubirajara,
não somente durante o período romântico, mas pelas décadas a fora, numa
demonstração convincente do quanto se apreciou e se aprecia ainda o que em tão
boa hora nos transmitiu a sensibilidade nordestina, através de seus melhores
porta-vozes, ou seja, os seus escritores.
Aqui gostaria de
rememorar um cearense: Lourenço Alves de Castro Feitosa. Filho dos sertões dos
Inhamuns, de uma das mais poderosas famílias patriarcais da minha terra, era
acadêmico de Direito no Recife quando rebentou a Guerra do Paraguai. Empolgado
pela vibrante propaganda de Castro Alves, alistou-se como voluntário. Dizem que
sem o consentimento paterno. Lourenço, pelos azares da vida militar, acabou
incorporado ao 17° Corpo de Voluntários da Pátria, um batalhão de
mineiros. O jovem acadêmico muito se distinguiu na campanha do Paraguai,
ascendendo a alferes e a tenente comissionado. Jogado nesse batalhão de mineiros,
o estudante aventureiro seguiu até a Vila das Dores do Rio Verde, a antiga Vila
das Abóboras, hoje a importante cidade de Rio Verde, capital regional do
sudoeste. Dali foi incumbido de seguir para Cuiabá, o que o impediu de tomar
parte na Retirada da Laguna. É ele o único dos meus conterrâneos que se
rastreia historicamente perto desse fato. Reza a tradição familiar dos Feitosa
que Lourenço, ao retornar à casa paterna, nos Inhamuns, levou uma surra do pai,
a despeito das suas façanhas, por haver se alistado e feito a guerra sem o
consentimento prévio do velho patriarca. Deliciosas coisas do tempo...
E, curioso destino:
essa coluna vinha de São Paulo, sob o comando do Coronel Manoel Pedro Drago. Em
Uberaba uniu-se à brigada mineira, que vinha de Ouro Preto, sob o comando do
Coronel José Antônio da Fonseca Galvão, de troncos rio-grandense do norte,
pernambucano e alagoano. José Antônio era tio de Deodoro da Fonseca, irmão do
pai do proclamador da República. Sabem mais quem era esse mesmo José Antônio?
Está nos curiosos registros do grande historiador e polemista cearense, João
Brígido, patrono da cadeira que tenho a honra de ocupar no Instituto Cultural
do Cariri, sediado na minha cidade do Crato e que há anos edita regularmente
uma das melhores revistas culturais do sertão brasileiro – a revista Itaytera.
Era esse mesmo José
Antônio o famoso major Pastorinho, que 40 anos antes, em 1824, prendera Frei
Caneca e outros rebeldes da Confederação do Equador, remetendo-os para o
Recife, onde foram supliciados.
Quando Drago se retirou,
José Antônio comandou a coluna e foi morrer em Mato Grosso, na travessia do
Pantanal, junto ao Rio Negro. Seus filhos, ambos oficiais – generais do
Exército Imperial foram o Barão do Rio Apa e o Visconde de Maracaju. Este o
último ministro da Guerra do Império, a quem Deodoro saudou corretamente, ao
entrar na sala do Ministério, no dia 15 de novembro de 1889, com estas breves e
amáveis palavras: “Como vai, primo Rufino?” – Naquela sala estava reunido o
último gabinete de Pedro II, o gabinete Ouro Preto.
Taunay é quem nos
revela ainda outro nordestino, um rio-grandense do norte, cujo destino se
ligaria também a Goiás. Falo de Antônio Florêncio Pereira do Lago, que, banhado
de elogios pelo visconde-escritor-soldado, vai, depois da Guerra do Paraguai,
explorar o Tocantins e o Araguaia. Traçou o visconde a biografia desse seu
colega e companheiro de armas. Publicou também o excelente relatório de sua exploração
dos rios mencionados, considerando-o tão notável neste campo quanto o de Couto
de Magalhães, que desceu o Araguaia quando exercia a presidência de Goiás. A
proteção do Visconde do Rio Branco, em 1872, fez de Antônio Florêncio, aos 29
anos de idade e moço, capitão de engenharia, deputado geral por Goiás. O fato é
narrado por Taunay em suas memórias, dizendo da emoção de Antônio Florêncio no
dia em que tomou posse do mandato. Foi após a missa de praxe, rezada naquele
tempo, a chamada missão do Espírito Santo, velha tradição herdada das
Monarquias europeias com que se abriam as Cortes, os Estados Gerais, as Dietas
das Monarquias Católicas, extinta depois do cataclismo revolucionário de 1789.
Permitam-me, nesta altura,
uma palavra sobre o Instituto do Ceará – o Instituto Histórico Geográfico
Antropológico do Ceará – ao qual tenho a honra de pertencer, na qualidade de
sócio correspondente. Faço-o com o simples intuito de torná-lo melhor conhecido
deste plenário ilustre, que me acolhe tão distintamente. Foi fundado – 12 foram
os seus fundadores – em 1887. E a chamada Casa do Barão de Studart. Do notável
erudito Guilherme Studart, filho de um inglês e uma cearense, barão pela Santa
Sé, e que foi o maior escavador de documentos na história regional de todo o
Brasil. Sua herança à posteridade cearense: 30 mil documentos, que a família
deixou estragar, e dos quais o Instituto do Ceará logrou salvar 6 mil. O
Instituto do Ceará, irmão deste de Goiás, publica ininterruptamente, desde
1887, notável revista, cujo índice foi paciente e beneditinamente organizado
por esse brilhante e severo historiador brasileiro, meu amigo José Honório
Rodrigues. Dentro de 13 anos, a Revista do Instituto do Ceará completará 100
anos. Minha província natal é assim a que tem a sua história mais bem
aprofundada no Brasil, sob todos os aspectos: política, militar,
administrativa, econômica etc.
Consintam-me
outra breve palavra sobre a Academia Cearense de Letras, com suas 40 vagas, e
da qual sou titular do número 7, cujo patrono é Clóvis Beviláqua. Fundada a 15
de agosto de 1894, é a mais antiga do País, anterior mesmo à Academia
Brasileira de Letras, com uma revista que já está com inúmeros tomos.[98]
5. OUTROS APONTAMENTOS
5.1 Sérvulo Esmeraldo –
Nertan Macedo[99]
Sérvulo Esmeraldo. Bom
e doce menino do Crato. Meu companheiro de infância. Mais moço do que eu e o
Armando, a quem não vejo há mais de trinta anos.
Sérvulo do Crato,
Sérvulo de Paris, Rua de La Marne, 38 Neuilly, Plaissance, oficial gravador em
França. Quem diria?
Éramos três. Sérvulo,
Armando e eu. E sobre nós pairavam as diáfanas e protetoras de um anjo – tia
Lourdinha Esmeraldo –, que nos ensinou a bem querer o bem, com sua bondade, sua
solicitude, seu carinho de sua segunda mãe.
Hoje, tantos anos passados,
recordo esse menino Sérvulo Esmeraldo – Sérvulo do Crato – Sérvulo de Paris –,
que escolheu a França para oficina da sua arte vitoriosa de gravador emérito,
de consumado artista, brasileirinho do Cariri, vindo ao mundo, nos pés do
Chapadão do Araripe e que conhece a intimidade das galerias europeias,
norte-americanas e do Rio de Janeiro.
Simples, modesto,
dinâmico. Nos dias da infância, era o mais calmo e calado de nós três, esse
artesão medieval que a França nos arrebatou, levou para muito longe, considerou
e consagrou.
Não era o Crato da
nossa meninice um pequeno trecho perdido naquela idade de ouro, cheia de
misticismo e artesanato?
Onde quer que esteja,
com sua sorte, sua esplêndida habilidade manual, sua poesia, seu coração, suas
gravuras maravilhosas, Sérvulo é um dos nossos como foi Antônio Bandeira. Em
Paris, em Nova York, no Rio e nesse recanto de Ouro Preto, que a teimosia e o
idealismo de Ignês Fiúza mantêm aberto ao gosto e sensibilidade dos cearenses.
Eu
me orgulho do companheiro fraterno de meninice no Crato. Um orgulho que é meu e
do qual, estou certo, participamos todos nós, nascidos nessa dura e querida
terra do Ceará.[100]
5.2 Nertan Macedo: o
dia em que o Padre Cícero viu um avião pela primeira vez[101]
Há pouco, num almoço de
conterrâneos meus, no Leme, um deles me perguntou:
"Você sabia que há
cinquenta anos chegava ao Crato, sua cidade natal, no Ceará, o primeiro avião?”
Dei uma resposta
evasiva, como quem não era assim tão ignorante do assunto mas, na verdade, a
pergunta do patrício cearense não me saiu mais da cabeça.
Fiquei um tempão
calado, ruminando a lembrança. Pois, tinha eu quatro anos quando tal fato
acorreu. E recordo até hoje os pormenores da maior festa que, em criança, vi na
minha terra natal: era o povo esperando o primeiro avião que chegava ao Crato,
no vale do Cariri.
O piloto, por sinal,
era um cratense, meu tio o agora Major-Brigadeiro José Sampaio de Macedo, que
lá ainda reside. Seu companheiro de aventura um outro jovem tenente que seria
mais tarde ministro da Aeronáutica, Nelson Lavanère-Wanderley.
No
meio da multidão, com seus noventa anos de idade, um sacerdote famoso em todo o
sertão: o Padre Cícero Romão Batista. Meu tio José inaugurava a rota do São
Francisco, penetrando o vale do Cariri, até Fortaleza, a voar sobre as
caatingas de Minas, Bahia e Pernambuco. Era o tempo da epopeia do Correio Aéreo
Nacional, obra imperecível ligada ao Brigadeiro Eduardo Gomes. No meio da
multidão, o Padre Cícero. E eu, com meus pais, irmãos, primos e tios. Recordo o
porre comemorativo de Cleto, no cinema do meu tio Moisés, uma figura muito
popular na minha cidade, goleiro de futebol nas horas vagas. E me revejo cinquenta
anos depois, no meu orgulho infantil de sobrinho do desbravador da ponte aérea
Rio-Fortaleza, inaugurando a chamada “rota do São Francisco”.
O
VELHO BRIGADEIRO
O Brigadeiro Macedo
voltou mais tarde ao Crato, já reformado, para semear as terras que foram do
meu avô, o coronel Cazuza. Fabrica, no seu engenho do Brejo, a única aguardente
erudita do Brasil, marca Teimosa, e assim considerada por exibir, no rótulo,
uma citação de Euclides da Cunha tirada de “Os Sertões”.
Num livro “A epopeia do
Correio Aéreo”, escrito por um velho jornalista, José Garcia de Souza,
encontro, além de antigas fotografias, alguns fatos pitorescos da vida do meu
tio que, desembarcando na Base Aérea de Fortaleza, que o então coronel Macedo
comandava, empertigou-se todo para cumprimentá-lo:
— Senhor Comandante,
bom dia. Sou Prado. Prado ... de São Paulo.
E o coronel – aviador,
nascido no sertão, alisando o bigode, a responder com tranquila ironia:
—
Pois muito prazer, sr. Prado, sou Macedo, Zé Macedo, do Crato.
O
SERTANEJO
As façanhas do
Brigadeiro são ainda hoje recordadas na FAB.
Seus conterrâneos na
antiga Arma da Aviação, do Exército, apelidavam-no “o sertanejo”. Muitos, porém,
conhecem-no por Zé do Crato, assim chamado por causa do paulistano fidalgo e desavisado.
Seu amor pelo sertão não é fingido. Poderia ter sido, como muitos dos seus
colegas de carreira, um homem público eminente, mas tudo desprezou para
retornar, Major-Brigadeiro reformado, ao seu engenho e terras no verde vale do
Cariri.
Leio, a propósito, no
referido livro de Garcia, publicado há tantos anos, que, simples cadete, o
velho Brigadeiro já gostava de dizer aos companheiros:
"Sou descendente,
filho legitimo de uma pacata família de agricultores do Crato. Descambei para a
carreira das armas enquanto, como dizia Euclides, os demais se prendem à terra
pelo vínculo nupcial do sulco dos arados”.
Meu tio é assim mesmo.
Basta dizer que, um dia, quando era capitão, pediu licença ao Ministro da
Guerra e foi “comissionado” oficial da Polícia baiana, pelo seu colega e amigo
Juracy Magalhães, governador do Estado na época.
Macedo sonhava uma
coisa bem a seu estilo: dar combate a Lampião. Embrenhou-se no mato, oficial
saído da Escola Militar de Realengo como um mero comandante de "volante” –
e foi ao encontro de Lampião e seu bando, num dos piores homízios do rei do cangaço: [MR7] o
Raso da Catarina. Naquele deserto, trocaram tiros, tendo meu tio voltado dos
combates de mão abanando. Em compensação, brindou-o Lampião com uma bala no pé.
Ele é muito cioso dessa bala do rifle bandoleiro.
Em resumo: um velho
aviador militar, cujas memórias poderiam, se escritas, ser das mais curiosas e
fascinantes da história dos anos 30. Tenho morado no Rio e, também, nos Estados
Unidos, o velho Brigadeiro ama o seu canavial, o seu gado, a sua plantação.
Detesta a grande cidade, a megalópoles. Um dia, na pracinha do Crato, perguntei-lhe
à queima-roupa:
— Mas, meu tio, como é
que o senhor, homem educado e vivido nos grandes centros, veio terminar morando
aqui no Crato? E ele:
— Imagine que eu já estou
me enfarando do Crato. O Crato está muito crescido e eu acabo indo me embora
pro Bodocó...
Bodocó é uma
cidadezinha do sertão, perto do Crato, na fronteira do Ceará com Pernambuco, do
outro lado da chapada do Araripe.
Hoje, com certeza, já
bastante pesteada de TV em cores e outras misérias.
Certa vez, servindo na
Base Aérea de Fortaleza, avisou o Brigadeiro a um velho sertanejo que lá
trabalhava:
— Vou ao Quixeramobim,
mas volto para almoçar.
E o espantado tabaréu,
pensando nas muitas léguas que separavam Fortaleza da cidade natal de Antônio
Conselheiro, observou ao meu tio:
— Ai, "seu”
tenente, esse mundo velho está mesmo “incuiendo!”
O velho queria dizer – “encolhendo”. O mundo estava diminuindo. Ficando cada vez melhor. Tornando se a famigerada aldeia global.[102]
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nertan Macedo avultou, foi além de seu tempo, fazendo
parte daquela geração que era de tudo, escritor, historiador, poeta,
jornalista... A capacidade de perscrutar vários caminhos por meio de sua
habilidade na escrita é constatada na juventude e aperfeiçoada ao longo de sua
vida. Ademais, toda sua capacidade de articulação lhe proporcionou inúmeras
oportunidades profissionais ao longo de sua carreira.
Observamos também a importância de Nertan Macedo
para a historiografia nordestina, sem dúvidas, seu talento natural colaborou
sobremaneira para enaltecer ainda mais a cultura e a identidade sertaneja,
trazendo a lume, em seus escritos, a memória de lutas, conquistas, resiliência
e obstinação.
Todo
esse talento certamente não passou despercebido, reconhecido através dos
títulos e honrarias acadêmicas que lhe foram outorgados de forma justíssima, fatos
que constatamos nos discursos supracitados, ressaltando, nesse ínterim, sua
versatilidade na oratória em seus afamados discursos.
Outrossim, digno de reverência é este ateneu ao entrepor em sua estrutura acadêmica a cadeira n° 33, denominando-a como patrono Nertan Macedo, esse ilustríssimo nordestino, cratense, que, em suas visitas in loco, investigou fontes que pudessem subsidiar suas considerações sobre o alto sertão, desbravou os Inhamuns e descreveu os feitos de seus antepassados na história, revelando-nos em O Clã dos Inhamuns.
REFERÊNCIAS
CÂMARA, José Bonifácio. 5ª PARTE: Transcrições. In:
CÂMARA, José Bonifácio. NERTAN MACEDO: (Uma bibliografia). Academia
Cearense de Letras-ACL: [s. n.], 1992. cap. V, p. 189-192. Disponível
em:
https://www.academiacearensedeletras.org.br/revista/revistas/1991_92/ACL_1991_1992_32_Nertan%20Macedo_(Uma%20bibliografia)_Jose_Bonifacio_Camara.pdf?fbclid=IwAR3C79C-tAfnXDixnskpiVywW6X_K6NVIBmyavnP5zRLC4amklx4ZdV2Doc.
Acesso em: 4 out. 2021.
CARIRI, Instituto Cultural do. ITAYTERA. 17. ed.
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___________________________________. 21. ed. Crato/Ceará:
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___________________________________. 28. ed. Crato/Ceará: [s.
n.], 1984. 208 p.
CATUNDA, Hugo. CADEIRA Nº 7. [S. l.],
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http://www.academiacearensedeletras.org.br/revista/Colecao_Antonio_Sales/Falas_Academicas/ACL_Falas_Academicas_25_CADEIRA_N_7_Recipiendo_Hugo_Catunda.pdf.
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CEARÁ, Portal da História do. 1001 Cearenses Notáveis-F. Silva
Nobre. In: NERTAN MACEDO de Alcântara. [S. l.],
2015. Disponível em:
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COSTA, Marcelo Farias. O Teatro Cearense em Síntese.
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CRATO, Prefeitura do. Dados do município. In:
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DENIZARD, José. DADOS Genealógicos. Destinatário:
Joaryvar. Fortaleza, 3 mar. 1973. Carta.
FREITAS, Antônio Gomes de. Inhamuns Terra e Homens:
Coleção Recontar. 1. ed. Tauá: Mandacaru, 2008. 216 p. v. 1.
FÓRUM, Revista. 32. Lampião, o Rei do cangaço: direção de
Carlos Coimbra (1964). In: MACEDO, Nertan. Uma lista de 65
filmes para entender o Brasil disponíveis no YouTube. [S. l.], 2020.
Disponível em:
https://revistaforum.com.br/debates/uma-lista-de-65-filmes-para-entender-o-brasil-disponiveis-no-youtube/.
Acesso em: 11 set. 2021.
MACEDO, Nertan. O Clã dos Inhamuns: (Uma família
de guerreiros e pastores das cabeceiras do Jaguaribe). 3. ed. Rio de Janeiro:
Renes, 1980. 124 p.
________________. O Clã de Santa Quitéria:
(Memória histórica sobre vaqueiros políticos e eruditos). 2. ed. Rio de
Janeiro: Renes, 1980. 115 p.
________________. Transcrições: 5ª parte. In:
MACEDO, Nertan. UM CAVALEIRO DA TRADIÇÃO. Fortaleza: [s. n.],
1988. p. 230-238. Disponível em:
http://www.ceara.pro.br/acl/revistas/revistas/1987_88/ACL_1987_1988_40_Um_cavaleiro_da_tradicao_Nertan_Macedo.pdf.
Acesso em: 4 out. 2021.
MURILO MARTINS, José. POETAS DA ACADEMIA CEARENSE DE
LETRAS. In: Os Membros da Academia Cearense de Letras de
ontem: Nertan Macedo. Web Site da Academia Cearense de Letras, 2009.
Disponível em:
http://www.ceara.pro.br/acl/Academicosanteriores/NertanMacedo.html. Acesso em:
11 set. 2021.
O POVO, Jornal. Denizard Macêdo, "o inesquecível
intelectual", nascia a 100 anos: Licínio Nunes de Miranda. O POVO, Fortaleza, 2 set. 2021.
CIDADES, p. 15.
______________. Morre no Rio o escritor cearense Nertan
Macedo. O POVO, Fortaleza, p. 5-A, 31 ago. 1989.
SKOOB, SKOOB. Lampião: Capitão Virgulino
Ferreira. [S. l.], 2021. Disponível em:
https://www.skoob.com.br/livro/13245#_=_. Acesso em: 11 set. 2021.
VASCONCELOS, Marly. NERTAN MACEDO. In:
VASCONCELOS, Marly. NERTAN MACEDO. Academia Cearense de Letras-ACL:
[s. n.], 1992. p. 175. Disponível em:
https://www.academiacearensedeletras.org.br/revista/revistas/1989_90/ACL_1989_1990_26_Nertan_Macedo_Marly_Vasconcelos.pdf?fbclid=IwAR2Wju3Wm-2wWnaW90wFDM_vBdzcl-Lt_m-g0S-HPRe96pqRc59koRBFf_U.
Acesso em: 4 out. 2021.
VIRTUAL, Estante. Caderno de Poesia: Nertan
Macedo de Alcântara. [S. l.], 2021. Disponível em:
https://www.estantevirtual.com.br/livrariamachadodeassis/nertan-macedo-de-alcantara-caderno-de-poesia-2876916842?show_suggestion=0.
Acesso em: 11 set. 2021.
WIKIPÉDIA, A enciclopédia livre. Nertan Macêdo. In: Nertan
Macêdo. [S. l.], 12 jul. 2021. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Nertan_Mac%C3%AAdo. Acesso em: 11 set. 2021.
[1] É graduado em História pela
Universidade de Santo Amaro – UNISA, historiador (CRP: 0000132/CE), professor,
cristão, membro-fundador da Associação de Pessoas Com Deficiência de Tauá –
APCD – Tauá, arte-finalista, assessor de produção literária, capista e
diagramador. E-mail: banner.paulocesar@gmail.com -
http://lattes.cnpq.br/6833852266569409
[2]
A atribuição do sobrenome Macedo (sem acentuação) se aplica a
estrutura textual em concordância com a grafia utilizada para informar o nome
do autor em suas obras ou citações, embora algumas utilizem o sobrenome Macêdo (com acento). Na grafia de registro
de nascimento deduzimos que o sobrenome Macêdo utiliza o acento, conforme verificamos
na escrita dos sobrenomes de seus irmãos.
[3] CÂMARA, José Bonifácio. 5ª
PARTE: Transcrições. In: CÂMARA, José Bonifácio. NERTAN
MACEDO: (Uma bibliografia). Academia Cearense de Letras-ACL: [s. n.],
1992. cap. V, pp. 189-192. Disponível em: https://www.academiacearensedeletras.org.br/revista/revistas/1991_92/ACL_1991_1992_32_Nertan%20Macedo_(Uma%20bibliografia)_Jose_Bonifacio_Camara.pdf?fbclid=IwAR3C79C-tAfnXDixnskpiVywW6X_K6NVIBmyavnP5zRLC4amklx4ZdV2Doc.
Acesso em: 4 out. 2021, p. 189.
[4] CRATO, Prefeitura do. Dados do município. In:
MACEDO, Nertan. O Município: dados do município. [S. l.],
2021. Disponível em: https://crato.ce.gov.br/omunicipio.php. Acesso em: 11 set.
2021.
[5] O POVO, Jornal. Denizard Macêdo,
"O inesquecível intelectual", nascia a 100 anos: Licínio Nunes de
Miranda. O POVO, Fortaleza, 2 set. 2021. CIDADES, p. 15.
[6] DENIZARD, José. DADOS
Genealógicos. Destinatário: Joaryvar. Fortaleza, 3 mar. 1973. Carta.
[7] Relato fornecido por Licínio
Nunes de Miranda, via Messenger, em setembro de 2021.
[8] MACEDO, Nertan. Transcrições: 5ª
parte. In: MACEDO, Nertan. UM CAVALEIRO DA TRADIÇÃO.
Fortaleza: [s. n.], 1988. p. 230-238. Disponível em:
http://www.ceara.pro.br/acl/revistas/revistas/1987_88/ACL_1987_1988_40_Um_cavaleiro_da_tradicao_Nertan_Macedo.pdf.
Acesso em: 4 out. 2021.
[9] Relato fornecido por Licínio
Nunes de Miranda, via Messenger, em setembro de 2021.
[10] ibidem.
[11] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 189.
[12] Ibid.
[13] O POVO, Jornal. Morre no Rio o
escritor cearense Nertan Macedo. O POVO, Fortaleza, p. 5-A, 31 ago.
1989.
CEARÁ, loc. cit., Acesso em: 11 set. 2021.
[14] CEARÁ, Portal da História do.
1001 Cearenses Notáveis-F. Silva Nobre. In: NERTAN MACEDO
de Alcântara. [S. l.], 2015. Disponível em:
http://portal.ceara.pro.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2720&catid=293&Itemid=101.
Acesso em: 11 set. 2021.
[15] O POVO, op. cit., 1989, p. 5.
[16] CEARÁ, op. cit., Acesso em: 11
set. 2021.
[17] O POVO, op. cit., 1989, p. 5.
[18] MURILO MARTINS, José. POETAS DA
ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS. In: Os Membros da Academia
Cearense de Letras de ontem: Nertan Macedo. Web Site da Academia Cearense
de Letras, 2009. Disponível em: http://www.ceara.pro.br/acl/Academicosanteriores/NertanMacedo.html.
Acesso em: 11 set. 2021.
[19] ibidem.
[20] WILKIPÉDIA, A enciclopédia
livre. Nertan Macêdo. In: Nertan Macêdo. [S. l.],
12 jul. 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Nertan_Mac%C3%AAdo.
Acesso em: 11 set. 2021.
[21] MURILO MARTINS, op. cit., 2009.
[22] CATUNDA, Hugo. CADEIRA Nº 7. [S. l.],
[1966]. Disponível em: http://www.academiacearensedeletras.org.br/revista/Colecao_Antonio_Sales/Falas_Academicas/ACL_Falas_Academicas_25_CADEIRA_N_7_Recipiendo_Hugo_Catunda.pdf.
Acesso em: 12 set. 2021. pp. 300 – 301.
[23] É possível que esta nomenclatura
esteja equivocada, pois não há um Instituto
Histórico do Cariri,
através de várias pesquisas e contatos com pesquisadores da região, não se
confirmou tal existência; é possível que a fonte esteja se referindo ao
Instituto Cultural do Cariri – ICC, no qual Nertan Macedo ocupou a cadeira n°
17, do patrono João Brígido (CARIRI,
1977, p. 4.).
[24] CEARÁ, op. cit., 2015.
[25] CARIRI, Instituto Cultural do. ITAYTERA. 17. ed.
Crato/Ceará: [s. n.], 1973, pp. 34 e 39.
[26] ibidem, p. 151.
[27] (CARIRI, 1977, pp. 151 – 152).
[28] CEARÁ, Revista do Instituto do. Datas e fatos para a
história do Ceará: EFEMÉRIDES (1988 - 1989). [S. l.: s. n.],
2020. Disponível em:
https://www.institutodoceara.org.br/revista/Rev-apresentacao/RevPorAno/2008/11-Efem_DataseFatos.pdf.
Acesso em: 11 set. 2021, pp. 241-242.
[29] O POVO, 1989, p. 5.
[30] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 189.
[31] O POVO, op. cit., p. 5.
[32] VASCONCELOS, Marly. NERTAN
MACEDO. In: VASCONCELOS, Marly. NERTAN MACEDO. Academia
Cearense de Letras-ACL: [s. n.], 1992. p. 175. Disponível em: https://www.academiacearensedeletras.org.br/revista/revistas/1989_90/ACL_1989_1990_26_Nertan_Macedo_Marly_Vasconcelos.pdf?fbclid=IwAR2Wju3Wm-2wWnaW90wFDM_vBdzcl-Lt_m-g0S-HPRe96pqRc59koRBFf_U.
Acesso em: 4 out. 2021.
[33] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 190.
[34] Ibid.
[35] MACEDO, Nertan. O Clã dos Inhamuns: (Uma família
de guerreiros e pastores das cabeceiras do Jaguaribe). 3. ed. Rio de Janeiro:
Renes, 1980, p. 2.
[36] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 190.
[37] VIRTUAL, Estante. Caderno de Poesia: Nertan
Macedo de Alcântara. [S. l.], 2021. Disponível em:
https://www.estantevirtual.com.br/livrariamachadodeassis/nertan-macedo-de-alcantara-caderno-de-poesia-2876916842?show_suggestion=0.
Acesso em: 11 set. 2021.
[38] MACEDO, O Clã dos
Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.
[39] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 190.
[40] MACEDO, O Clã dos
Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.
[41] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 190.
[42] COSTA, Marcelo Farias. O Teatro Cearense em Síntese.
[S. l.], [----]. Disponível em: https://www.sesc.com.br/wps/wcm/connect/3c89489a-08b4-4588-a3a8-c9a3c30b5d80/O+Teatro+Cearense+em+Sintese+-+Marcelo+Farias+Costa.pdf?MOD=AJPERES&CONVERT_TO=url&CACHEID=3c89489a-08b4-4588-a3a8-c9a3c30b5d80.
Acesso em: 12 set. 2021, p. 04.
[43] MACEDO, O Clã dos Inhamuns,
op. cit., 1980, p. 2.
[44] CÂMARA, op. cit., 1992. p. 190.
[45] COSTA, loc. cit., Acesso em: 12 set. 2021, p. 04.
[46] MACEDO, O Clã dos
Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.
[47] CÂMARA, op. cit., 1992. p. 190.
[48] MACEDO, O Clã dos
Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.
[49] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 191.
[50] SKOOB, SKOOB. Lampião: Capitão Virgulino
Ferreira. [S. l.], 2021. Disponível em:
https://www.skoob.com.br/livro/13245#_=_. Acesso em: 11 set. 2021.
[51] MACEDO, O Clã dos
Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.
[52] CÂMARA, op. cit., 1992. p. 191.
[53] MACEDO, O Clã dos
Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.
[54] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 191.
[55] MACEDO, O Clã dos
Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.
[56] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 191.
[57] MACEDO, O Clã de Santa Quitéria: (Memória
histórica sobre vaqueiros políticos e eruditos). 2. ed. Rio de Janeiro: Renes,
1980, p. 7.
[58] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 191.
[59] Ibid.
[60] MACEDO, O Clã dos
Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.
[61] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 191.
[62] MACEDO, O Clã dos Inhamuns,
op. cit., 1980, p. 2.
[63] Ibid.
[64] Ibid.
[65] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 191.
[66] MACEDO, O Clã dos
Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.
[67] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 191.
[68] MACEDO, O Clã dos
Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.
[69] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 192
[70] MACEDO, O Clã dos
Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.
[71] CÂMARA. op. cit., 1992, p. 192
[72] MACEDO, O Clã dos
Inhamuns, op. cit., 1980, p. 2.
[73] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 192
[74] Ibid.
[75] Ibid.
[76] MACEDO, O Clã dos Inhamuns,
op. cit., 1980, p. 2.
[77] (MACEDO, 1980, p. 7).
[78] Grifo do autor.
[79] FREITAS, Antônio Gomes de. Inhamuns
Terra e Homens: Coleção Recontar. 1. ed. Tauá: Mandacaru, 2008. 216 p. v. 1,
p. 19.
[80] Ibidem, p. 13.
[81] (MACEDO, 1980, p. 123).
[82] Ibid. op. cit., 1980, pp. 123 – 124.
[83] Grifo do autor.
[84] FÓRUM, Revista. 32. Lampião, o Rei do cangaço: direção de
Carlos Coimbra (1964). In: MACEDO, Nertan. Uma lista de 65
filmes para entender o Brasil disponíveis no YouTube. [S. l.], 2020.
Disponível em:
https://revistaforum.com.br/debates/uma-lista-de-65-filmes-para-entender-o-brasil-disponiveis-no-youtube/.
Acesso em: 11 set. 2021.
[85] Grifo do autor.
[86] COSTA, loc. cit., Acesso em: 12 set. 2021, p. 04.
[87] CÂMARA, op. cit., 1992, p. 192.
[88] CATUNDA, loc. cit., Acesso em: 12 set. 2021, p. 300.
[89] CATUNDA, op. cit., pp. 300 – 310.
[90] Transcrição na integra do texto
da revista ITAYTERA do Instituto Cultural do. Cariri. 17. ed. Crato: [s. n.],
1973.
[91] CARIRI, op. cit., 1973, pp. 35 – 39.
[92] Ibid., p. 39.
[93] Transcrição na íntegra do texto
da revista ITAYTERA do Instituto Cultural do. Cariri. 17. ed. Crato: [s. n.],
1973.
[94] Ibid. 1973, pp. 39 –
42.
[95] CARIRI, op. cit., 1977, p. 151.
[96] CARIRI. 1977, p. 152.
[97] Transcrição na íntegra do texto
da revista ITAYTERA do Instituto Cultural do. Cariri. 21. ed. Crato: [s. n.],
1977.
[98] CARIRI, op. cit., 1977, pp. 152 – 158.
[99] Transcrição na íntegra do texto
da revista ITAYTERA do Instituto Cultural do. Cariri. 17. ed. Crato: [s. n.],
1973.
[100] CARIRI, 1973, p. 210.
[101] Transcrição na íntegra do texto
da revista ITAYTERA do Instituto Cultural do. Cariri. 28. ed. Crato: [s. n.],
1984.
[102] CARIRI, Instituto Cultural do. ITAYTERA. 28. ed.
Crato/Ceará: [s. n.], 1984, pp.
117 – 118.
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